A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu neste domingo (9) o estudante universitário e tatuador Fábio Raposo, indiciado como
coautor da explosão que feriu o cinegrafista da "Band" Santiago Ilídio Andrade, na quinta-feira (6), em manifestação realizada no centro da capital fluminense.
Segundo informações da Polícia Civil, Raposo foi localizado na casa dos pais, no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio. A prisão dele já havia sido decretada pela Justiça.
Pela explosão que feriu gravemente o profissional da "Band", Raposo foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado pelo uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão. Se condenado, ele pode receber uma pena de até 35 anos de prisão.
O tatuador já tinha em sua ficha de antecedentes criminais duas anotações. As duas passagens anteriores se deram em razão de supostos crimes também cometidos em outros protestos.
Em entrevista coletiva à imprensa, no sábado (8), o delegado Maurício Luciano, titular da 17ª DP (São Cristóvão), responsável pelo caso, informou que Raposo responde por dano ao patrimônio público e associação criminosa em inquérito que ainda tramita na 5ª DP (Mem de Sá). O suposto crime ocorreu em outubro de 2013.
O tatuador também foi fichado, em novembro do ano passado, pelo crime de ameaça em inquérito aberto na delegacia do Leblon (14ª DP), onde assinou um termo circunstanciado e foi liberado em seguida.
O estudante foi indiciado na condição de coautor após confessar ter entregue o rojão a um outro manifestante, este, sim, responsável por acender o material e deixá-lo no chão a cerca de três metros do cinegrafista.
Na versão de Raposo, a bomba estava caída no chão no momento em que ele a encontrou e "ficou com ela no mão". Nesse momento, um outro homem, que vestia camisa cinza e calça jeans, teria se aproximado dele e pedido o artefato. O tatuador afirmou não possuir qualquer vínculo com o segundo suspeito, tampouco conhecê-lo.
Para o delegado da 17ª DP, entretanto, o depoimento do jovem "não tem credibilidade alguma". Ele espera que, na medida em que a investigação se desenvolva, Raposo possa fornecer informações sobre a identidade do segundo suspeito, beneficiando-se de uma delação premiada.
"Se ele identificar o autor, isso será levado em consideração. Ele estará demonstrando que quer participar e colaborar com a investigação. É possível, previsto em lei e ele será beneficiado se ele assim o fizer", disse.
Questionado pela imprensa se o tatuador já tem ou não advogado instituído, Luciano afirmou que a informação seria checada e posteriormente transmitida à imprensa.
Investigação baseada em imagens
Fotos e vídeos registrados pelos profissionais de imprensa que trabalhavam no protesto contra o aumento da passagem de ônibus no Rio de Janeiro, na última quinta-feira (6), na Central do Brasil, no centro da capital fluminense, mostram diversos ângulos a explosão do artefato que feriu gravemente o cinegrafista da "Band" Santiago Ilídio Andrade, 49.
A investigação da Polícia Civil do Rio avançou após a divulgação de imagens da "TV Brasil" que flagram a ação de dois suspeitos. Um deles se apresentou à polícia na madrugada deste sábado (8). Até então, o titular da delegacia de São Cristóvão (17ª DP), Maurício Luciano, responsável pelo caso, trabalhava com a existência de apenas um suspeito.
Além do material jornalístico, os investigadores analisam imagens das câmeras de trânsito da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego) e do equipamento de segurança do CML (Comando Militar do Leste), situado próximo à Central do Brasil, onde Andrade foi atingido. O objetivo é identificar um suspeito de camisa cinza e calça jeans, que seria, na versão da polícia, o responsável por acender o artefato.
O cinegrafista da "Band" está em coma induzido e seu estado é considerado gravíssimo, segundo boletim médico divulgado nesta manhã pelo Hospital Municipal Souza Aguiar.
"Não tive intenção de machucar", diz suspeito
Identificado como coautor da explosão que feriu Santiago Ilídio Andrade, na quinta-feira (6), o estudante universitário Fábio Raposo se apresentou na madrugada deste sábado (8) à Polícia Civil do Rio. Em entrevista à "Globo News", o suspeito disse que "não tinha a intenção de machucar nenhum repórter".
"Nas fotos que foram apresentadas nas mídias, era eu, sim. Eu estava de camisa, bermuda e tênis. Com as tatuagens. Sim, eu que passei o artefato. Mas o artefato não era meu. Eu quero deixar isso bem claro. (...) Eu vi um rapaz correndo e ele deixou uma bomba cair no chão. Eu peguei e fiquei com ela na mão. Nesse momento, outro cara veio e falou comigo: 'Passa para mim que eu jogo! Passa para mim que eu jogo!'. Foi só isso mesmo. Em momento algum, eu vou para as manifestações para quebrar as coisas, bater em policial ou jogar pedra", relatou Raposo.
Na mesma entrevista, o jovem acabou se contradizendo pouco depois ao declarar que não sabia que se tratava de um artefato explosivo logo após pegar o objeto do chão. Por um momento, na versão dele, disse achar que estaria "devolvendo o pertence de alguém".
"Foi um acaso. Também não acredito que ele [em referência ao homem que acendeu o rojão] fez isso por mal", disse.
Raposo declarou ainda que só procurou a Polícia Civil porque estava "assustado" com a repercussão do caso. "Minha foto foi divulgada em mídias internacionais. Inclusive, eu já recebi ligações de pessoas desconhecidas que pediram para eu assumir a responsabilidade", disse.
Questionado se conhecia o homem que acendeu o rojão, Raposo declarou não ter qualquer vínculo com o suspeito. "Não tenho a menor ideia de quem seja. Eu fui sozinho na manifestação. (...) Mas eu lembro que esse cara era bem alto e chamava bastante a atenção", respondeu.
Reprodução Cidade News Itaú
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