A terceira etapa do julgamento do massacre do Carandiru foi cancelada na tarde desta terça-feira (18) depois que o advogado Celso
Vendramini, que defende os 15 policiais militares réus, abandonou o plenário do Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo).
O júri foi dissolvido e o julgamento terá de ser remarcado, com a escolha de um novo grupo de jurados. Não há previsão de nova data. O mais provável é que o julgamento ocorra após o dia 17 de março, data do início da quarta etapa do júri.
O advogado de defesa saiu do plenário, visivelmente irritado, após discutir com o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo durante o depoimento do coronel da reserva Arivaldo Sérgio Salgado, comandante da tropa de 15 PMs do COE (Comando de Operações Especiais) na época da invasão do pavilhão 9 do Carandiru, em 2 de outubro de 1992. O grupo de policiais entrou no quarto pavimento (terceiro andar) do presídio, onde morreram oito presos.
O coronel era questionado pelo promotor Eduardo Canto Neto quando foi interrompido pela defesa. Canto Neto comparava o que o réu disse hoje ao que foi dito pelo coronel 20 anos atrás, em depoimento à Justiça Militar e à Polícia Civil, dando a entender que as versões tinham diferenças. Quando o promotor lia um depoimento, Vendramini cobrou que o promotor fizesse perguntas. O juiz permitiu que Canto Neto prosseguisse na leitura.
"Abandono o plenário em protesto contar esse tipo de inquisição", reagiu Vendramini, tirando a toga e o paletó e os arremessando sobre a mesa.
Em entrevista coletiva na saída do plenário, o advogado reclamou que não estava recebendo do juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo o mesmo tratamento dispensado ao promotores Eduardo Olavo Canto Neto e Márcio Friggi de Carvalho, responsáveis pela acusação.
Vendramini alegou parcialidade do juiz, que, segundo ele, o chamou de "mal-educado" na segunda-feira.
"O juiz é parcial, está do lado do Ministério Público, e o MP está abusando do direito dele", afirmou Vendramini.
"Ele [o juiz] nem conversava comigo. Quando ele estava conversando e eu me aproximo [sic], ele para de falar."
"O procedimento do MP é fazer perguntas para as testemunhas. O que o MP estava fazendo é ler depoimentos do réu, são depoimentos longos, e no final perguntava o que ele bem entendia. E o correto é fazer perguntas", disse Vendramini, que foi cumprimentado por policiais militares na saída do plenário.
A terceira etapa do julgamento havia começado na segunda-feira (17), com a escolha do júri e os depoimentos das testemunhas de acusação.
Nesta manhã, foram tomados os depoimentos das testemunhas de defesa e, após o recesso para o almoço, depôs o primeiro réu do caso, o coronel Salgado.
Considerado uma das principais testemunhas de defesa, o agente penitenciário Francisco Carlos Leme caiu em contradição durante seu depoimento. Primeiro, afirmou ter visto "cerca de 75" presos mortos no Pavilhão 9 antes da chegada da Polícia Militar ao Carandiru; depois, falou que eram 50, entre outras contradições.
O juiz Aguirre Camargo declarou os trabalhos encerrados. De acordo com a assessoria de imprensa da Justiça de São Paulo, ele não se pronunciará a respeito das críticas do advogado.
Afirmações "infantis"
Para o promotor Márcio Friggi, do Ministério Público Estadual, a afirmação de Vendramini de que foi ignorado pelo juiz é "infantil", e o abandono do plenário uma "estratégia".
"Ele percebeu que este júri caminhava para a condenação dos réus, como os anteriores, e resolveu interromper o julgamento", afirmou Friggi.
O outro promotor do caso, Eduardo Olavo Canto Neto, disse que o fato é lamentável, e traz prejuízos para o Estado.
"Este tipo de conduta é um desrespeito à lei e à sociedade", afirmou. "É preciso que se crie mecanismos para evitar este tipo de expediente."
Os promotores negaram qualquer contato com os jurados, e disseram desconhecer qualquer reunião de 40 minutos entre o juiz e o conselho de sentença. "É preciso que ele prove essas acusações", disse Friggi.
Reprodução Cidade News Itaú
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