Na década de 1980 o município de João Câmara, no Rio Grande do Norte, a 80 quilômetros de Natal, sofreu o mais longo e agressivo terremoto já visto no país. Durante
sete anos, a terra tremeu intermitentemente, com o registro de mais de 50 mil tremores - centenas deles perceptíveis aos moradores. Sismólogos, psicólogos, o exército brasileiro e até mesmo o presidente da república da época, José Sarney, se juntaram no local para auxiliar uma população carente com apoio material e psicológico. Os tremores de terra tiraram o município João Câmara do anonimato, que, por vários dias, permaneceu na mídia.
A história de tremores em João Câmara é o foco do livro "O terremoto que mexeu com o Brasil", livro do sismógrafo e professor aposentado da Universidade de Brasília, que pesquisou o tema durante cinco anos. A obra é a primeira publicação brasileira do gênero e será lançada nesta sexta-feira, 1, na Livraria Cultura do Shopping Casa Park. “Descrevo um cenário diferente do famoso clichê de um país livre de desastres”, conta Vivas. O terremoto em João Câmara teve magnitude de cinco pontos na escala Richter, ou seja, mais da metade da pontuação (9,5) atingida pelo maior terremoto registrado no mundo. Os tremores em João Câmara danificaram milhares de construções e desabrigaram mais de 20 mil pessoas. Os maiores sismos chegaram a ser sentidos em Natal, Recife e Olinda, obrigando muitas pessoas a abandonarem suas residências.
PROBABILIDADES - Pode parecer estranho para quem acha que o Brasil está imune a esses eventos, mas estudos geológicos mostram que há probabilidade de abalos sísmicos acontecerem não só no Rio Grande do Norte, mas em todo o país. As maiores possibilidades de ocorrência estão na região Nordeste. “No livro coloquei um mapa do Brasil com os pontos vulneráveis a ter tremores. Eles estão espalhados por todo o país, mas temos regiões mais ativas, como Ceará, Pernambuco e Bahia”, disse o sismógrafo.
“O que gerou esses tremores no Rio Grande do Norte foram as falhas geológicas de 30 quilômetros em uma placa tectônica localizada em João Câmara, que foi se rompendo aos poucos”, explica Vivas. “Se fosse de uma só vez teria acontecido uma catástrofe”, completa.
A cada cinco anos, acontece no Brasil um tremor de magnitude maior ou igual a cinco. O Brasil está no meio de uma placa tectônica, por isso os sismos não são tão fortes, como nos países que estão nas bordas. No entanto, não é só a natureza que produz terremotos, o homem também pode ter sua parcela de culpa nesses desastres. Segundo o sismógrafo, quando o homem constrói hidrelétricas e muda o percurso natural da água, ele conseqüentemente modifica as condições do local, podendo gerar terremotos.
“Já foram constatados 20 casos de tremores com magnitude 4.2 causados por conta disso no Brasil. Hoje em dia, eles se preocupam mais com essas questões. Esse estudo sísmico faz parte do levantamento feito antes das construções”, afirmou.
PREVENÇÃO - “Não há como prever os terremotos, a solução é prevenir maiores destruições. É necessário realizar construções resistentes e bem projetadas nas áreas mais vulneráveis, onde possivelmente, em algum momento, acontecerá um tremor”, sugere o sismógrafo. Ele defende um trabalho de conscientização dos brasileiros sobre a possibilidade de ocorrência desses eventos.“É necessário incorporar um mapa do Brasil com os pontos onde podem ocorrer tremores nos livros de geografia do ensino médio, e iniciar uma conscientização dos jovens para que acabe essa ingenuidade da população”, disse.
Além de contar a história dos tremores no Rio Grande do Norte, Vivas explica didaticamente o que são terremotos, como eles acontecem, o que é magnitude e outros termos. Na publicação também constam curiosidades relacionadas ao tema. Há uma cartilha com o título “Tremores de terras, saiba como agir” e a história da marca deixada pela queda de um meteriorito a 500 quilômetros de Brasília, na divisa de Goiás com o Mato Grosso. A marca de 40 quilômetros de diâmetro foi deixada por um corpo celeste que caiu há cerca de 200 milhões de anos. “Eu e um colega calculamos que o impacto causado por esse meteorito foi de magnitude 11. Isso provavelmente causou uma destruição absurda”, afirmou.
O livro do sismógrafo conta com um CD, que disponibiliza um vídeo de 16 minutos com registros do terremoto em João Câmara. “Nós estávamos estudando os tremores em João Câmara antes de acontecer o abalo principal na madrugada do dia 30 de novembro de 1986. Cheguei lá no mesmo dia e levei uma câmera. Filmei durante as duas semanas posteriores aos tremores”, disse o autor. O lançamento desse vídeo aconteceu ano passado em João Câmara, 25 anos após o maior dos terremotos no local. “Esse foi o presente que demos à cidade. Quando nós passamos o filme lá, muitas pessoas se reconheceram nas imagens da época. Os jovens, que só tinham ouvido falar da história, tiveram oportunidade de ver o que realmente aconteceu na cidade”, contou.
PEDRA PRETA - Atualmente, outra cidade do Rio Grande do Norte vem sofrendo com abalos sísmicos. Trata-se do município de Pedra Preta, que fica há 40 quilômetros de João Câmara. Os abalos sísmicos que a cidade sofreu no ano de 2013 ainda não estão relatados no livro, que foi escrito em 2012.
Reprodução Cidade News Itaú
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