O secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, admitiu nesta terça-feira (14) a possibilidade de
envolvimento de policiais militares na chacina que resultou na morte de 12 pessoas entre a noite de domingo (12) e a madrugada de segunda-feira em Campinas (a 93 km de São Paulo).
Em entrevista coletiva concedida hoje à tarde, na cidade, Grella defendeu a corporação, mas falou em eventuais "desvios de conduta" por parte de membros da Polícia Militar, caso a investigação comprove que os crimes foram cometidos por policiais --essa é uma das principais hipóteses para o caso. O secretário ainda classificou o caso como "gravíssimo" e disse que a resolução dos crimes é "prioridade do governo".
"A Polícia Militar é uma corporação de mais de 90 mil homens. Não se pode descartar que, entre eles, não haja homens com desvio de condutas. Se isso for constatado, eles serão punidos, mas isso não vai manchar a história desta instituição", disse Grella.
Mais cedo, a Ouvidoria das Polícias de São Paulo disse ver "fortes indícios" de que os crimes tenham sido cometidos por policiais. O ouvidor Júlio César Fernandes Neves, adiantou que "nove entre dez" depoimentos tomados até o momento apontam para a participação de policiais.
Entre esses indícios, segundo o ouvidor, estão declarações de familiares que deram conta de que os assassinos usavam sobretudo e coturno da polícia. Além disso, para o ouvidor, as características de ação de um grupo de extermínio fazem com que a Ouvidoria faça o acompanhamento dessas investigações "para que nada seja acobertado", afirmou.
Grella confirmou a hipótese da investigação, de que policiais tenham sido autores das mortes, em represália ao assassinato de um policial militar, também no domingo (12), morto ao reagir a um assalto durante a folga, em um posto de gasolina da região do Ouro Verde, também em Campinas.
O secretário adiantou ainda que a polícia vai ouvir, até esta quarta-feira (15), 15 testemunhas, sem, no entanto, revelar a identidade dessas pessoas. Como há suspeita da participação de policiais militares, os trabalhos recebem apoio da Corregedoria da Polícia Militar.
Além do secretário, participaram da coletiva o delegado seccional interino, José Carlos Fernandes, o diretor do Deinter-2 (Departamento de Polícia do Interior), Licurgo Nunes Costas, o major da PM de São Paulo Marcelo Nagy e a diretora do DHPP, Elisabete Sato.
Parente relata atirador fardado
A reportagem do UOL conversou hoje com duas famílias de vítimas da chacina. Em ambos os casos, os parentes, que pediram para não ser identificados, confirmaram a informação dada pelo ouvidor Júlio César Neves, sobre possível ação de PMs nos crimes.
"Eu não estava presente, mas uma pessoa que viu o momento da abordagem me disse que quem atirou estava de farda. Para nós, foi a polícia que o matou", disse a tia de uma das vítimas.
Segundo o relato de um amigo de outra das vítimas, que estava com ele no momento do assassinato, três homens chegaram em um Celta e colocaram todas as pessoas de costas.
"Eles sabiam em quem iam atirar. Estávamos de costa e ouvimos três tiros. Nenhum errou. Ouvimos um grito que mandava a gente sair correndo, e foi o que fizemos", disse a testemunha. Do grupo, que tinha cinco pessoas, apenas uma foi baleada.
A partir desses relatos, o objetivo da investigação, segundo o ouvidor, é determinar se houve alguma conduta ilegal de policiais paulistas e, nesse caso, determinar a punição, que pode incluir a expulsão da corporação, além da ação na esfera criminal e sua respectiva pena.
Chacina
Todos os mortos na chacina eram do sexo masculino, com idades entre 17 e 30 anos, e sete tinham passagens pela polícia. Os corpos começaram a ser enterrados nesta manhã.
Um outro corpo, carbonizado, foi encontrado na segunda-feira (13), e a polícia investiga se a morte estaria ligada à chacina.
A polícia também começou a tomar o depoimento dos familiares. Além da Ouvidoria, uma força-tarefa composta por delegados de São Paulo e de Campinas investiga as mortes.
O Ministério Público de São Paulo também participa das investigações.
Toque de recolher
De acordo com a polícia, não está descartada a hipótese de que a onda de mortes tenha sido originada por conta do assassinato de um policial militar que acabou baleado, em sua folga, durante uma tentativa de assalto a um posto de combustível na região do bairro de Ouro Verde, um dos mais populosos e violentos de Campinas.
O acerto de contas entre quadrilhas rivais também é cogitado pela polícia, embora a hipótese tenha perdido força.
A PM informou, em nota, que a Corregedoria acompanha as investigações e que houve reforço de policiamento na região dos assassinatos.
Apesar disso, segundo parentes e amigos das vítimas, a região onde ocorreram as mortes está "tomada pelo medo" e é alvo de uma espécie de toque de recolher tácito.
"Estão falando que a coisa não vai ficar só nisso e que, para cada um dos mortos, 13 policiais vão morrer. Por isso, todo mundo está ficando em casa. Só sai quem tem que trabalhar, e as ruas estão vazias", disse o amigo de uma das vítimas que pediu para não ser identificado. (Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)
Reprodução Cidade News Itaú
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