O poço que motivou o afastamento da governadora do Rio Grande do Norte, aberto durante a campanha eleitoral de 2012, continua sem fornecer água potável aos
moradores do assentamento Terra Nossa, na zona rural de Mossoró. Na quinta-feira (23), o Tribunal Regional Eleitoral determinou o afastamento de Rosalba Ciarlini (DEM) por abuso de poder econômico. Na sexta (24), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, concedeu liminar (decisão provisória) para mantê-la no cargo.
Na decisão pelo afastamento, o juiz José Herval Sampaio ressaltou que a perfuração do poço não estava programada. “Mas, tudo bem, o poço foi cavado, e a comunidade agora tem água de qualidade advinda daquela obra. Não! Na verdade, após o pleito e a suposta conclusão da perfuração, o poço foi 'tampado', e pelo menos, até 10 de agosto de 2013, não derramou sequer uma gota d'água em benefício daquele povo tão sofrido”, relatou no processo.
Para o ministro Marco Aurélio Mello, o TRE não pode executar o afastamento definitivo da governadora porque ela ainda tem direito de apresentar um tipo de recurso – os chamados embargos de declaração.
Na manhã deste sábado (25), o G1 foi ao assentamento Terra Nossa, que fica a 10 quilômetros da zona urbana de Mossoró. Mesmo com dois poços na comunidade, os moradores do local continuam tendo que comprar água para beber e cozinhar. Isso porque os poços só fornecem água salobra.
Após a obra de perfuração do poço em 2012, segundo os moradores, o governo do estado prometeu instalar um dessalinizador. Mas até hoje esse equipamento não foi instalado.
Inconformada com a situação, a agricultora Maria Lucimar diz o novo poço é motivo de revolta. “Esse poço foi uma esperança. A gente pensou que ía ter água porque prometeram um dessalinizador. Mas até hoje só tem água salgada, que serve só para os animais. Não dá pra cozinhar nem o feijão com essa água, porque fica duro”, explica a moradora.
Lucimar falou ainda que as crianças sofrem com o alto teor de sal da água. “Muitas crianças ficam com alergia no corpo por causa da água salgada. É horrível!”, reclama.
O poço perfurado tem cerca de 100 metros de profundidade. A água dele é usada apenas para a criação de animais e para o banho. “A gente só usa pra isso mesmo, porque pra outras coisas a gente tem que comprar água boa”, diz a agricultora Antônia Albaniza. E comprar a água potável custa caro para recebe apenas benefícios do Governo Federal. Uma pipa com 8 mil litros de água é vendida na comunidade por R$ 80.
Aluízio Braga tem uma padaria no assentamento e precisa comprar uma pipa de 8 mil litros a cada 15 dias. “Água no poço tem, mas é salobra. O pior é que a gente tem que se contentar com isso mesmo. Melhor se a água fosse boa, porque numa situação como a da gente, toda água ainda é pouca. Essa daqui, só dá mesmo para gente dar aos bichos”, conta, mostrando a água retirada do poço.
O secretário de Agricultura de Mossoró, Rondinelli Carlos, explica que o valor para a instalação de um dessalinizador em uma comunidade rural varia de acordo com a vazão e a profundidade do poço. “O valor pode variar, mas em média custaria R$ 30 mil”. Mas, segundo ele, a responsabilidade pela instalação do dessalinizador é de quem perfurou o poço.
O secretário de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte, Leonardo Rêgo, disse não ter como precisar quando um dessalinizador será instalado no assentamento Terra Nossa. "Nós recuperamos, juntamente com o Ministério da Integração Nacional, 70 equipamentos desses. Além disso, através do programa Água Doce, estamos concluindo a licitação de mais 68 dessalinizadores. Esses equipamentos serão instalados em locais indicados pelo Ministério do Meio Ambiente. Por esse motivo, não tenho como informar agora se o assentamento Terra Nossa será um dos beneficiados", falou.
Além das 30 famílias que vivem no assentamento Terra Nossa, a água serve também aos moradores de outros assentamento na comunidade Riacho Grande. “Se tivesse um dessalinizador aqui na comunidade era como encontrar ouro. Seria uma alegria para todos nós aqui”, reforça Maria Lucimar.
Prefeita afastada
Além de condenar Rosalba Ciarlini, o TRE cassou os mandatos da prefeita de Mossoró, Cláudia Regina (DEM), e do vice dela, Wellingtton Filho (PMDB). Ambos também ficaram inelegíveis por 8 anos. O TSE também suspendeu essas condenações de primeira instância.
Reprodução Cidade News Itaú
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