O governo de São Paulo investiga se funcionários do Metrô e da CPTM usaram postos de combustível para lavar dinheiro de propinas recebidas de empresas do cartel que fraudou
licitações de trens no Estado de 1998 a 2008.
Postos são usados para lavagem de capitais porque recebem muito dinheiro vivo, em vendas de valores variados. Com essas características, é fácil emitir notas frias por produtos que não foram comercializados e, com isso, legalizar recursos obtidos de maneira ilícita.
A Corregedoria-Geral da Administração paulista já apurou que parte dos servidores sob suspeita tem patrimônio incompatível com suas rendas e omitiu a posse de bens ao cumprir a obrigação legal de informar a lista de suas propriedades às companhias estatais.
A Folha teve acesso a depoimentos e documentos da investigação da Corregedoria, que teve início após a multinacional alemã Siemens ter delatado ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a formação de cartel em licitações de trens nos governos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.
Por causa de um dos depoimentos, o órgão começou a apurar a suspeita de que o ex-diretor da CPTM João Roberto Zaniboni tenha usado a filha dele, a economista Milena Zaniboni, como laranja em um posto em Vinhedo, no interior de São Paulo.
Zaniboni ocupou a função de diretor de manutenção e operações da CPTM entre 1999 e 2003, e o posto foi aberto em 2002.
Documentos enviados pelo Ministério Público suíço mostram que Zaniboni recebeu US$ 836 mil (o equivalente a R$ 2 milhões) em contas na Suíça entre 1999 e 2002.
O pagamento era para favorecer a Alstom em contratos com a CPTM, segundo a hipótese investigada pela Polícia Federal.
O assessor técnico da CPTM Aristides Aguiar de Andrade disse à Corregedoria que, quando decidiu abrir o posto, convidou Zaniboni para ser sócio no negócio.
"Porém, ele não se interessou, indicando então a filha para compor a sociedade", afirmou Andrade.
Zaniboni e a filha foram indiciados pela PF sob a suspeita de lavarem a propina recebida da Alstom, o que eles negam (leia texto abaixo).
Laércio Mauro Biazotti, diretor de planejamento do Metrô, também é sócio no posto. Na última sexta-feira, ele pediu demissão do cargo.
Outro negócio sob suspeita é o posto de gasolina do funcionário do Metrô Nelson Scaglione, que ocupou o cargo de gerente de manutenção da companhia estatal até meados de dezembro.
Ele abriu o posto em sociedade com outro funcionário do Metrô, Ivan Generoso.
O estabelecimento também conta com uma lavanderia e uma loja de conveniência.
Além do posto de gasolina, os dois participaram, entre 2008 a 2010, de uma sociedade com uma empresa subcontratada pela Alstom, a Façon, para prestar serviços na linha 2-verde do Metrô.
O Metrô exonerou Scaglione de sua gerência de manutenção ao saber que ele era sócio de um empreendimento em conjunto com a Façon.
Metrô e CPTM podem afastar funcionários de cargos de direção, mas não podem expulsá-los do serviço público antes de decisão em processo administrativo.
A Corregedoria já recomendou ao Metrô e à CPTM a abertura de processos sobre os servidores que estão sob investigação. O objetivo é expulsá-los do serviço público caso as apurações confirmem as suspeitas.
OUTRO LADO
Os funcionários investigados pela Corregedoria do governo paulista negam que tenham usado postos de combustível para lavar dinheiro.
O advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende João Roberto Zaniboni, diz que o posto de Vinhedo não é produto de lavagem de capitais.
Segundo ele, Zaniboni foi convidado por antigos colegas da Fepasa (antiga estatal de ferrovias) a investir no posto, mas, como não tinha dinheiro, decidiu indicar a filha Milena. "Ela é uma grande executiva do mercado financeiro", afirma Pacheco.
O advogado de Nelson Scaglione, Guilherme Madi Rezende, diz que seu cliente tem 22% do capital do posto em Santo Amaro (zona sul), comprado por R$ 250 mil, o que equivale a R$ 55,5 mil.
Para Rezende, a análise contábil dos bens de Scaglione "demonstra a compatibilidade de seu patrimônio com os seus rendimentos e comprovam a licitude dos seus negócios". A lavanderia não é de Scaglione, é sublocada para a empresa Dry Clean, ainda segundo o advogado.
Ele nega que seu cliente tenha alguma relação com a Façon. Scaglione, segundo o advogado, investiu em galpões industriais para aluguel num empreendimento no interior de São Paulo em que a Façon também participou.
A Alstom nega ter pago comissões a funcionários públicos no Brasil e diz adotar os mais altos padrões éticos.
A Folha não conseguiu localizar Mauro Biazotti nos telefones de sua casa em Valinhos e no celular. Aristides Andrade não quis comentar a investigação. Ivan Generoso não foi localizado.
Reprodução Cidade News Itaú
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