O britânico Justyn Larcombe, de 44 anos, tinha tudo o que desejava: mulher, filhos, uma bela casa, carros, e viagens.
Mas em apenas três anos o vício em apostas fez com que ele perdesse
cerca de 750 mil libras (R$ 2,9 milhões), sua casa, seu emprego, e a confiança de sua família.
Sua primeira aposta foi de 5 libras em um jogo de rúgbi que assistia em casa, e que, como ele lembra, “infelizmente ganhou”.
Não demorou muito para Larcombe se tornar um apostador compulsivo, primeiro em esportes, e mais tarde em roletas na internet.
Um dia ele percebeu que não tinha dinheiro para as compras de supermercado e que lutava para administrar empréstimos.
Em dias de pagamento, ligava para o banco para transferir dinheiro para sua conta de apostas, antes que fosse usado para pagar dívidas ou contas de débito automático.
Ele lembra que a única maneira de encontrar alguma forma de alívio emocional era com uma nova aposta.
Larcombe conta que atingiu o fundo do poço quando sua esposa encontrou seu extrato bancário. Ele devia cinco meses de aluguel e estava prestes a ser despejado. Ele vendeu presentes de casamento e anéis, e gastou tudo quase que instantaneamente.
“Tudo o que ainda tinha em meu nome, após 43 anos, era um saco de lixo com roupas”, conta ele.
Ele resolveu dar a volta por cima depois de que foi obrigado a voltar a morar com sua mãe.
“Nunca mais serei capaz de apostar novamente, nem mesmo comprar um bilhete de loteria”, diz Larcombe.
Número crescente
Larcombe ainda faz parte de uma minoria. A cada início de ano, milhares de pessoas adotam resoluções de acabar com seus vícios, como fumar ou beber, mas é raro ver um amigo ou parente anunciar que decidiu largar o vício em apostas ou jogatinas.
Mas, de acordo com o Serviço Nacional de Estatísticas da Grã-Bretanha (ONS, na sigla em inglês), a quantidade de pessoas que praticam apostas no país está crescendo, e há temores de que o hábito esteja ficando fora de controle.
Segundo a ONS, uma família britânica gastou em média 166 libras (R$ 644) no ano passado em apostas, uma quantia relativamente alta quando se leva em conta a crise econômica.
Esse valor é 50% mais alto do que no ano anterior. É também 60% acima da média de gastos familiares semanais combinados com cinema, teatro e museus.
A grande maioria das apostas está dentro dos limites do que as pessoas podem se dar ao luxo de perder, e a emoção que se tem com o jogo é recompensa suficiente.
Cerca de dois terços dos adultos na Grã-Bretanha farão pelo menos uma aposta ao longo do ano.
Esse número inclui 68% dos homens e 61% das mulheres, segundo uma avaliação feita em 2012 pelo Health and Social Care Information Centre (HSCIC), um centro de informações na Grã-Bretanha que fornece dados sociais e de saúde.
A Loteria Nacional é a mais popular forma de aposta no país, à frente das raspadinhas e apostas em corridas de cavalo, segundo levantamento feito pelo HSCIC.
Excluindo aqueles que jogaram apenas na loteria, 46% dos homens e 40% das mulheres participaram de apostas nos últimos 12 meses, sugeriu a pesquisa.
Oportunidades online
Hoje participar de apostas ficou muito mais fácil. Além da loteria nacional, dois outros fatores contribuíram para tornar popular a prática de jogos de azar.
O primeiro foi a oportunidade de operadores de cassinos e casas de apostas de colocar anúncios na televisão e no rádio, desde que a prática foi liberada, em 2007.
Uma pesquisa feita para o órgão que supervisiona e regula os meios de comunicação, Ofcom, mostrou que as colocações de anúncios de jogos de azar nas TVs aumentaram de 152 mil em 2006 para 1.39 milhões em 2012.
O maior aumento foi nos anúncios de bingo, que a pesquisa sugere ser mais popular entre mulheres do que outra formas de jogos.
O segundo fator foi o avanço dos jogos online.
Hoje não é mais necessário se deslocar a uma casa de apostas ou a um cassino, o jogo pode ser feito online, usando um smartphones ou um tablet, a qualquer hora do dia.
Muitos sites e aplicativos também desenvolveram salas de bate-papo e comunidades que permitem que os jogadores interajam.
“As pessoas mais jovens estão tentando coisas novas. Eles se sentem confortáveis com a tecnologia, mas não entendem os riscos”, diz Dirk Hansen, diretor executivo da GamCare, um serviço de ajuda que coordena fóruns para aqueles que estão tendo dificuldades por conta dos jogos.
Reprodução Cidade News Itaú
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