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domingo, janeiro 26, 2014

Apenas 5 escolas de samba cumprem todas as exigências dos bombeiros

RI -24/01/2014 - Rio de Janeiro(RJ)Império da Tijuca.Gustavo Stephan Agência Globo Foto: Gustavo Stephan / Agência O GloboA pouco mais de um mês do carnaval, as quadras das escolas de samba bombam. Mas o ritmo contagiante das baterias e o gingado dos passistas atravessam
no quesito segurança, justamente às vésperas de a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria (RS) — onde um incêndio, em 27 de janeiro, matou 242 pessoas — completar um ano. Levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros, a pedido do GLOBO, revela que, entre 25 escolas dos grupos Especial e de Acesso que desfilam no Sambódromo, apenas cinco dispõem de espaços para ensaios que atendem a todas as determinações da legislação para prevenção de incêndios e pânico: União da Ilha, Unidos de Vila Isabel, Mocidade Independente, Acadêmicos da Rocinha e Unidos de Padre Miguel. Outras 20 agremiações têm exigências a cumprir — como construir saídas de emergência, instalar extintores e sinalização — ou sequer apresentaram projetos de segurança. Nessa lista está a quadra da Caprichosos de Pilares, onde a situação vai além: há sete meses, bombeiros interditaram o espaço, que funciona debaixo de um viaduto, por falta de segurança. Mesmo assim, a escola tem feito ensaios.
Numa estimativa conservadora, pelas quadras sem a licença definitiva dos bombeiros passam pelo menos 30 mil pessoas por semana, em ensaios abertos ao público ou exclusivos para os componentes. Na lista de escolas sem o documento definitivo estão agremiações tradicionais, como Mangueira, Unidos da Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor, ao lado de escolas de menor receita, como Alegria da Zona Sul e Renascer de Jacarepaguá, por exemplo. Em alguns casos, os diretores alegam já ter investido em segurança e atendido a todas as exigências. O problema estaria na demora dos bombeiros de retornarem às quadras para nova vistoria, último passo para a emissão do documento. Outros dirigentes reclamam da falta de recursos para completar as obras.
A partir da consulta do GLOBO, bombeiros resolveram visitar todos os espaços sem a documentação definitiva nos próximos dias. Para o diretor-geral de serviços técnicos da corporação, coronel Roberto Fontenelle, muitas quadras que estão em processo de regularização têm problemas fáceis de ser corrigidos, e não há risco iminente para o frequentador. Mas ele desaconselha que alguém se divirta numa escola com pendências.
— A garantia da segurança para o espectador é a regularização das quadras — disse.
As pendências com os bombeiros receberam críticas do professor Moacyr Duarte, da Coppe/UFRJ, especializado em gerenciamento de riscos:
— Muito se fala da indústria do carnaval. Argumentam que a festa movimenta milhões e emprega milhares de pessoas. Mas que indústria é essa que não investe em segurança? O histórico de incêndios em barracões e até mesmo os que ocorreram na Cidade do Samba mostram que o item não é uma prioridade — disse Moacyr.
O problema cria situações irônicas, como no Clube dos Portuários, onde ensaiam Unidos da Tijuca e Alegria da Zona Sul — que, segundo os bombeiros, não apresentaram projetos de segurança. O presidente da Alegria é o sargento-bombeiro Marcos Vinícius de Almeida. O dirigente, no entanto, faz questão de ressaltar que não combate incêndios, nem fiscaliza casas de diversões: trabalha no G-Mar.
— O Clube dos Portuários já tem extintores e saídas de emergência. Mas não tenho recursos para investir numa brigada de incêndio, por exemplo. O que é preciso compreender é que somos uma escola que tem dificuldades financeiras. Queremos investir em segurança, sim, mas na nossa quadra do Morro do Cantagalo. Infelizmente, a PM não autoriza eventos lá — argumentou o dirigente.
O presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, disse que investiu R$ 200 mil em equipamentos. Mas admitiu que ainda falta instalar a sinalização de saídas de emergência. Ele, no entanto, minimizou a ausência da documentação definitiva:
— Cada caso é um caso. Os ensaios da Unidos da Tijuca ocorrem em um local com grandes áreas de escape. Não se assemelha em nada a uma boate — disse.
Mangueira: à espera dos bombeiros
Já o presidente da verde e rosa, Chiquinho da Mangueira, garante que há quatro meses concluiu uma reforma no Palácio do Samba que custou R$ 1,1 milhão, para atender a todas as exigências dos bombeiros. Desde então, aguarda que a corporação inspecione o local:
— Limitamos o público a três mil pessoas, instalamos extintores e compramos a casa onde morou o falecido mestre-sala Delegado para construir saídas de emergência. Para mim, está tudo OK. Mas os bombeiros são muito atarefados. A expectativa é que esta semana venham fazer a vistoria final — disse Chiquinho.
Ainda entre as grandes, o Salgueiro, que atrai muitos turistas e conta até com um sistema de climatização na quadra, também tem pendências. O diretor de quadra, Marcos Vinicius, indicado para falar sobre o caso, não foi localizado.
Recém-promovida ao Grupo Especial, a Império da Tijuca enfrenta problemas com os bombeiros e com a prefeitura. A quadra, que chega a receber 1,5 mil pessoas nos ensaios, funciona num imóvel residencial no Morro da Formiga. Além de não ter apresentado aos bombeiros o projeto de prevenção de incêndios, teve o espaço de ensaios interditado pela Secretaria da Ordem Pública (Seop), na quarta-feira passada, por falta de alvará.
O presidente da escola, Antonio Marcos Telles, admite que está irregular e que a situação não será normalizada até o carnaval deste ano. Ele espera resolver o problema com a ajuda do governo do estado, que prometeu no ano passado ceder um terreno no Estácio para a agremiação. Mas o processo ainda não foi concluído.
Escola alega ter autorização verbal
Em relação à Caprichosos, a informação de que a quadra continua a ter ensaios, desrespeitando o embargo, consta do próprio site da escola. O superintendente-geral da agremiação, Gilberto Mello, alega que um oficial do Corpo de Bombeiros teria visitado a quadra e dado uma autorização verbal para realizar ensaios com público limitado.
— Já saímos da situação de risco que levou à interdição. Investimos R$ 22 mil na abertura de novas saídas de emergência, entre outras melhorias, mas realmente não tenho um laudo que confirme isso. Ainda falta instalar extintores e outros serviços que devem custar pelo menos R$ 55 mil. Na quadra caberiam até três mil pessoas, mas, por motivos de segurança, não temos recebido mais que 300. Não há risco — disse Gilberto.
Nem mesmo quadras que foram recuperadas com ajuda oficial escapam do problema. Nos últimos anos, a prefeitura reformou os espaços de ensaios de Portela, Império Serrano, União da Ilha e Imperatriz, e construiu uma nova quadra para a Mocidade Independente. Portela, Imperatriz e Império têm pendências. A prefeitura informou que executou as obras, mas que caberia às agremiações se regularizarem junto aos bombeiros.
O diretor de Carnaval da Imperatriz Leopoldinense, Wagner Araújo, garante ter investido para se enquadrar na legislação. Para isso, fez uma nova reforma.
— Gastamos R$ 100 mil. As obras terminaram há mais de dois meses. Somente na semana passada os bombeiros inspecionaram a quadra. Mas o laudo definitivo ainda não saiu — disse.
Uma das exceções, o presidente da Mocidade, Paulo Vianna, pagou R$ 400 mil em equipamentos para obter a certificação dos bombeiros. E ainda gasta R$ 2 mil por semana para manter uma brigada de incêndio e uma ambulância:
— A quadra recebe cinco mil pessoas por ensaio. Preciso oferecer um serviço de qualidade a esse público.
O status de cada escola
Licenciadas: Mocidade, União da Ilha, Unidos de Vila Isabel, Unidos de Padre Miguel e Acadêmicos da Rocinha
Com pendências: Imperatriz Leopoldinense, Acadêmicos do Cubango, Portela, Império Serrano, Mangueira, Grande Rio, Beija-Flor , Salgueiro e Renascer de Jacarepaguá
Sem projeto apresentado: Viradouro, Em Cima da Hora, Império da Tijuca, Santa Cruz, São Clemente, Unidos da Tijuca, Alegria da Zona Sul, Estácio e União do Parque Curicica
Em regularização: Porto da Pedra
Embargada: Caprichosos de Pilares
Sem informação: Inocentes de Belford Roxo
Desativadas: Tradição, Tuiuti e União de Jacarepaguá

Reprodução Cidade News Itaú

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