O tratamento desumano dado aos imigrantes ilegais no centro de acolhida da ilha siciliana de Lampedusa, denunciado em um vídeo chocante, causou polêmica e
indignação na Itália, nesta quarta-feira (18). A Itália corre o risco de ser sancionada pela União Europeia.
Divulgadas em um programa da televisão pública italiana RAI, as imagens gravadas com o celular de um dos imigrantes clandestinos mostram os imigrantes em fila, nus ao ar livre em pleno inverno, prontos para serem submetidos a jatos de desinfetantes contra sarna.
"Eles nos tratam como cachorros", comenta o autor do vídeo, Khalid, um refugiado que vive no centro de acolhida há 65 dias.
Em inglês, o jovem imigrante conta que as mulheres também foram submetidas a esse tratamento e vacinadas contra doenças.
"Eles me fizeram lembrar os campos de concentração" (da Segunda Guerra Mundial), comentou, desconcertada, a prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini.
"São imagens espantosas e inaceitáveis", afirmou a delegada europeia para Assuntos Internos, Cecilia Malmstrm, após ameaçar a Itália com sanções.
Em um comunicado, a presidente da Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, reconheceu que "deixar homens e mulheres nus na intempérie em pleno inverno" é "indigno de um país civilizado".
Já o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) pediu ao governo italiano "soluções urgentes" para melhorar as condições de acolhida dos imigrantes clandestinos. Segundo as normas, os imigrantes em situação ilegal devem passar apenas 48 horas nesses centros, que deveriam funcionar, na verdade, como um primeiro atendimento.
O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, disse ter ficado "chocado" com as imagens e prometeu que vai abrir uma investigação "profunda" para que os responsáveis sejam "punidos".
A denúncia causou ainda mais revolta, devido ao naufrágio há apenas dois meses de uma embarcação com cerca de 500 imigrantes, entre eles várias crianças. O barco precário do grupo afundou perto de Lampedusa, em uma das mais graves tragédias recentes já ocorridas no mar Mediterrâneo.
Cerca de 14 mil pessoas --mais do que o dobro da população da ilha, que fica perto da Líbia e da Tunísia-- pediram asilo em Lampedusa, em 2013 --como revelam dados divulgados no final de outubro.
A difícil gestão do fenômeno migratório por parte da Itália e da União Europeia já foi alvo de críticas dos administradores locais, que não contam com instrumentos suficientes para dar uma resposta eficaz e digna ao problema.
Segundo o responsável pela cooperativa que há cinco anos cuida do centro de acolhida de Lampedusa, Cono Galipo, o vídeo não leva "o contexto" em consideração. Em entrevista a uma emissora nacional, Galipo disse suspeitar de que o vídeo seja uma montagem e deu sua versão do que aconteceu.
Segundo ele, decidiu-se "desinfetar" os imigrantes após a chegada de três embarcações com vários casos de raiva não comprovados.
"Normalmente, o tratamento é feito na enfermaria do centro, já que geralmente envolve poucas pessoas, mas, neste caso, não havia um lugar apropriado para tratar 104 (pessoas)", explicou.
Galipo garantiu que a operação durou "apenas" uma hora e meia.
"Em um dado momento, os refugiados perderam a paciência e começaram a tirar a roupa: uma cena claramente montada que depois foi vista na televisão", completou.
O vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Angelino Alfano, prometeu adotar medidas exemplares.
Há algumas semanas, a UE publicou uma lista de propostas para evitar que se repitam tragédias como a de Lampedusa, ocorrida em 3 de outubro. Esse tema será tratado na cúpula de chefes de Estado e de Governo, nesta quinta e sexta, em Bruxelas, dedicada à luta contra o tráfico de seres humanos.
Além de regulamentar a entrada de imigrantes no Velho Continente, a Itália pede às autoridades europeias que se envolvam mais no fenômeno. O governo italiano reclama dos problemas em seu território para receber os milhares de refugiados que fogem de seus países por conflitos e guerras.
Em Lampedusa, uma das principais portas de entrada de africanos (eritreus e sírios em sua maioria), o centro de acolhida costuma estar lotado, com mulheres, homens e crianças à espera de uma decisão das instituições envolvidas na questão.
Apesar dessas péssimas condições, centenas de imigrantes continuam a chegar à Itália pelo mar. Na terça, dia 17, 110 pessoas em um bote foram salvas pela Marinha de Guerra italiana, e um corpo foi recuperado.
Reprodução Cidade News Itaú
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