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segunda-feira, dezembro 09, 2013

Sal potiguar enfrenta pior crise dos últimos 30 anos

Dependendo do momento, a produção de sal do Rio Grande do Norte chega a compor 97% do cenário nacional, bem à frente do Rio de Janeiro (2,2%) e Bahia
(0,8%), contribuindo assim com 3,5% da arrecadação tributária potiguar. A indústria salineira emprega 15 mil pessoas diretamente e mais 65 mil indiretamente e se apresenta com uma produção anual que vai até 5,5 milhões de carretas de sal. Diante de números tão positivos, difícil imaginar que algo poderia afetar um dos setores que marcam a economia nacional. Assim como também é complicado vislumbrar alguma força capaz de inibir avanços no setor. Mas esta força contrária existe e contra a qual ainda não se pode vencer: a estiagem.
Apesar de liderar o ranking nacional e marcar participação majoritária no cenário nacional, a indústria salineira vivencia a maior crise dos últimos 30 anos. As evidências são presentes e, diante de quadro tão negativo, a demissão de pessoal é uma ameaça quase real e constante. A crise de agora, apesar de ser problemática, não supera o que aconteceu na década de 1970, quando o produto chegou a ser vendido a R$ 28,00 (a moeda da época era Cruzeiro e fez-se a conversão para o Real).
Para se ter uma ideia da gravidade da situação vivenciada pela indústria salineira potiguar, a tonelada do produto era vendida ao valor de R$ 150,00. Como a seca perdura e se tem excedente de produção, obviamente que o que vigora é a lei da oferta e da procura. Nesse caso, quem tem estoque em excesso quer vender e, para tal, tem que driblar a concorrência e a medida mais em uso é a redução do preço.
Diante de tal quadro, o repórter procurou o Sindicato da Indústria de Extração de Sal do Rio Grande do Norte (SIESAL). A informação foi de que o vice-presidente da entidade, Airton Torres, havia sido escalado para responder aos questionamentos da imprensa. Torres disse que estaria impedido de falar sobre valores do sal comercializado no Rio Grande do Norte e que o sindicato estaria respondendo a processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e não poderia falar sobre o tema.
Perguntado sobre a crise, disse desconhecer. Tampouco não teria informações relacionadas à demissão de servidores, por parte das salinas. E coube ao presidente do Sindicato dos Moageiros e Refinadores de Sal do Rio Grande do Norte (SIMORSAL), Renato Fernandes, explicar a real situação da indústria salineira potiguar.
“Houve queda no preço. A indústria salineira é sazonal: passamos seis meses produzindo”, informou, acrescentando que desconhece demissões e afirmou: “o que tinha de haver de demissão, isso já ocorreu.” Ele se referiu à década de 1980, quando as salinas passaram pelo processo de mecanização. Atualmente, disse que mesmo em período contrário à produção, funcionários são remanejados para outros setores.
Com relação ao preço da tonelada, que caiu devido à produção excedente e ao estoque de sal, Renato Fernandes afirmou que o valor caiu muito: de R$ 150,00 para R$ 50,00. Mil quilos de sal agora são vendidos pelo terço do preço anterior. Ou seja: antes o quilo saia por R$ 0,15 (quinze centavos) e hoje é vendido a R$ 0,5 (cinco centavos).

Efeito da produção em excesso não atinge apenas salinas
“Em quase 30 anos de atuação no mercado, nunca tinha visto crise por causa do excesso de produção”, afirmou o presidente do SIMORSAL, Renato Fernandes. Esse excesso é o que está baixando o valor do produto. Em tempos normais, a produção de sal potiguar varia entre 5 milhões e 5,5 milhões de toneladas por ano.
Aliado à questão do excesso, algumas salinas enfrentam outro problema: a concorrência com o Sal Gema, que vem do Chile. Estão nessa situação as salinas Norsal, Diamante Branco e Henrique Laje, além da indústria salineira localizada em São Paulo e Bahia. “O Sal Gema é uma ameaça”, afirmou Fernandes, acrescentando que agora, com a redução no valor, os produtos brasileiro e chileno estão em situação iguais. Mesmo assim, trata-se de concorrência.
Com relação ao refino do sal, o presidente do SIMORSAL informou que, como a maioria dos produtores estocou produto, o excesso também afeta o sal refinado. “O sal é uno: se um problema atinge um, afeta os demais”, comentou, acrescentando que a situação é preocupante, pois o sal é um produto de valor agregado baixo.
“O que torna (o setor) vantajoso é o volume de sal vendido”, disse Fernandes. Contudo, em período de crise e no qual o preço da tonelada caiu consideravelmente, e no qual as salinas se veem obrigadas a cumprir determinações do Ministério da Saúde, do Instituto de Pesos e Medidas (IPEM) e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), além de seguir com um parâmetro salarial estipulado por sindicatos. “Isso tudo tem um custo alto”, afirmou Renato.

Reprodução Cidade News Itaú

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