Mossoró vivenciou uma das semanas mais violentas do ano, onde as polícias militar, civil, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Instituto Técnico
e Científico de Polícia (Itep) registraram mais de 20 pessoas lesionadas à bala nos bairros e ruas da cidade.
As ocorrências ocorreram entre a sexta-feira (13) e quinta-feira (19), dentre os feridos, cinco pessoas morreram e as demais deram entrada no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM).
De acordo com a PM, a maioria das ocorrências aconteceu nos bairros periféricos, onde a disputa por espaço de atuação das gangues é resolvida à bala. Para os investigadores da Polícia Civil, parte dos atentados está atrelada a consumo e tráfico de drogas.
Outro dado preocupante identificado nas investigações policiais é a faixa etária das vítimas, a maioria adolescentes, que desde cedo se envolve com ações violentas. O psicólogo João Valdemir Alves de Morais explica que ações criminosas envolvendo adolescentes, seja como vítima ou como agressor, revela um lado preocupante: a ausência da família, no acompanhamento diário desses menores. “Onde está a família desses adolescentes? Por que eles não estão na escola, ao invés de estarem se envolvendo com coisas ilícitas? Questões como essas são indagadas diariamente pela sociedade. Se os pais prestassem um pouco mais de atenção aos filhos, muitos sofrimentos teriam sido evitados”, explicou.
Para o o psicólogo, o desejo de conseguir bens ou estatos imediatos levam os menores a ingressar no mundo do crime bem mais cedo. “Quem é o adolescente que não quer conseguir as coisas com rapidez? Para isso pulam etapas da vida e começam a praticar delitos para atingir seus objetivos”, disse.
A preocupação do psicólogo é pertinente, uma vez que, de conformidade com a PM, das mais de 20 ocorrências criminosas ocorridas na semana, sete delas tiveram como vítimas menores de 17 anos.
“É um número alto que não podemos desconsiderar, uma vez que as ações envolvendo adolescentes, seja como vítimas ou agressores, tem crescido assustadoramente em Mossoró, tanto na cidade, quanto na zona rural”, disse o delegado Clayton Pinho, titular da Delegacia Especializada em Homicídios (Dehom).
Uma das últimas ocorrências registradas envolvendo adolescente aconteceu na tarde da quinta-feira (19), quando o garoto João Paulo da Silva França, 16, foi ferido à bala na vila Apodi, pertencente ao assentamento da Maisa, zona rural de Mossoró. Ele foi ferido por dois tiros e socorrido para o HRTM, no entanto não resistiu aos ferimentos e morreu em seguida.
Ainda de acordo com a PM, mais de 90% das ações criminosas estão relacionadas a tráfico de drogas e brigas de gangues, que disputam áreas de atuação nos bairros da cidade.
Violência assusta a população e faz reféns os moradores
A dona de casa que aceitou falar com a reportagem do O Mossoroense, identificada apenas como Branca Silva, relatou todo o sofrimento que vem passando com a violência que se instalou na cidade de Mossoró. A mulher que reside no bairro Belo Horizonte, proximidades da rua João Damásio, conta que já perdeu um irmão em briga de gangues, vive assustada sem poder sair de casa, temendo morrer.
Para Branca Silva, que presenciou o irmão ser assassinado por um grupo de elementos pertencentes a uma gangue que atua no bairro, o medo e o terror tomam conta dos moradores e impede as pessoas de bem saírem de casa.
“Vivemos aprisionadas dentro das nossas próprias casas. Não podemos sentar na calçada ou conversar com alguém com tranquilidade, pois corremos sérios riscos de sofrermos um tiro, principalmente no período noturno, onde a bandidagem impera”, disse.
Para a dona de casa, chamar a polícia não adianta, uma vez quando os policiais chegam os bandidos alertam: “Se conversar besteira morre”, ressaltou. “Moro em uma das áreas mais críticas do Belo Horizonte, próximo à rua João Damásio, o maior antro de boca de fumo em Mossoró”, concluiu.
Falta de estrutura compromete ronda policial
Apesar dos dois comandantes da Polícia Militar em Mossoró reunirem esforços para fazer a ronda policial nos bairros, muitas vezes abastecendo ou mantendo as viaturas, às vezes com recursos próprios, a PM chegou no seu limite máximo e atualmente apenas 12 viaturas policiais estão aptas para rodar.
Um policial que não quis ser identificado contou que as guarnições estão sem pneus e não prestam para circular. “Corremos sérios riscos de ficar no prego durante a ronda, como já aconteceu anteriormente, pois nossas viaturas comprometem a qualidade do nosso trabalho”, destacou.
O retrato do caos se cristalizou na tarde da última terça-feira, quando os policiais do agrupamento Rocam (Ronda Ostensiva com o Apoio de Motocicleta) foram vistos trabalhando a pé no Alto de São Manoel. A explicação para o inusitado foi que as motos estão sem nenhuma condição de trafegar.
Reprodução Cidade News Itaú
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