“Aqui, ninguém morre. Matam”. A frase do ambulante Francisco Alves, 57 anos, resume bem a sensação de insegurança predominante num
dos municípios mais importantes da Região Metropolitana de Natal. Os números da secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) reforçam a tese do comerciante informal.
De janeiro a outubro desse ano, foram registradas 79 mortes violentas em Macaíba. O número é quase o triplo se comparado com os dados do mesmo período no ano passado, quando foram anotadas 27 mortes. A força-tarefa designada pela Sesed para conter a violência ainda não produziu resultados satisfatórios. Pelo contrário. A média de homicídios aumentou no último mês.
O cenário em Macaíba pode ser ainda mais preocupante se analisarmos os dados do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania (Coedhuci). O presidente do órgão, Marcos Dionísio, contesta as informações da Sesed e aponta um índice de violência mais elevado. “De acordo com nosso acompanhamento, de 1º de janeiro a 31 de outubro desse ano, na verdade tivemos 87 homicídios em Macaíba. Não há uma transparência com os números da secretaria”, pontua.
Independente da fonte dos números, há um consenso: a violência no município aumentou de forma vertiginosa nos últimos doze meses. Concomitantemente, não houve aparelhamento das polícias para barrar a criminalidade e os bandidos passaram a agir a qualquer hora do dia. Um exemplo disso foi o último homicídio na cidade que, até o fechamento desta matéria, ocorreu às 11h30 da última terça-feira.
A divergência entre Estado e sociedade civil organizada ressurge quando a discussão declina para outro aspecto da problemática. Entender os motivos para tantos crimes violentos é campo fértil para debates e teorias. Para o coronel Josimar de Lima, comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM) – responsável pelo policial de Macaíba e outras quatro cidades – a violência é gerada por questões socioeconômicas. “Falta estrutura familiar e emprego. Sem ocupação, o jovem procura a droga e acaba morrendo ou matando”, analisa. Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Macaíba tem índice de 10,95% de desocupação na população de maiores de 18 anos.
O delegado Normando Feitosa, responsável pela única delegacia do município, apresenta outra versão que ajuda a explicar a escalada da violência em Macaíba. “Cerca de 30% dos homicídios não ocorre em Macaíba. Aqui é apenas o local de desova de cadáveres. Mata-se em municípios vizinhos e trazem o corpo para cá”, pontua. O delegado também imputa ao tráfico de drogas uma boa parte dos crimes. “O tráfico é o carro-chefe. As mortes ocorrem por acerto de contas ou disputa de pontos de drogas”, acrescenta.
Mas para Marcos Dionísio os crimes ocorrem porque os criminosos ocupam os espaços onde o Estado deveria estar presente. Sem repressão ao tráfico de drogas, trabalho de inteligência e policiamento ostensivo, os bandidos agem com facilidade. “Não há uma política de combate ao crime. Não se pensa em ações que resultem em melhoria”, diz.
O presidente do Coedhuci critica uma das ações pontuais apresentadas pela Sesed. Há um mês, foi designada uma força-tarefa policial para Macaíba. Algumas prisões foram efetuadas, mas os números apresentados pelo Coedhuci apontam um aumento na média de homicídios. “A média mensal antes da força-tarefa, era de oito homicídios. Nos 3o dias de realização da força-tarefa, registramos 11 assassinatos. Ou seja, essa força-tarefa é um engodo do Governo do Estado”, afirma.
Reprodução Cidade News Itaú via Kezia Lopes
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