A Associação dos Delegados da Polícia Civil do Rio Grande do Norte (Adepol) realiza nesta segunda-feira (25), em várias cidades do estado, eventos que irão debater a violência
contra a mulher. Com o tema 'Violência Contra Mulher é Caso de Polícia', o objetivo é conscientizar, orientar e prevenir as mulheres potiguares a respeito do problema, além de também celebrar o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher. Segundo dados da Coordenadoria da Defesa dos Direitos da Mulher e das Minorias no Rio Grande do Norte (Codim), pelo menos 45 mulheres foram assassinadas este ano no Rio Grande do Norte.
A delegada Ana Cláudia Saraiva, presidente da Adepol, explica que as mulheres participantes terão a oportunidade de assistir palestras com orientações de psicólogas, pedagogos, médicos, assistentes sociais e de delegadas que atuam em cada cidade, além de participarem de sorteios e distribuição de brindes.
De acordo com a delegada Ana Paula Diniz, titular da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Caicó, no ano passado foram registrados 200 procedimentos de violência na cidade, uma das maiores do estado. Os casos incluem inquéritos e termos circunstanciados de ocorrência. Este ano, de janeiro a novembro, já foram registrados 197 procedimentos. “Ano passado 80% dos casos corresponderam à violência doméstica. Este ano, este percentual deve chegar a 90% - um crescimento que nos preocupa muito. Por isso a importância de o assunto ser cada vez mais debatido com a sociedade”, ressaltou.
Em Natal, o evento começa às 10h na sede da Adepol, que fica na rua João XXIII, no bairro de Mãe Luiza, zona Leste da cidade. Em Parnamirim, na região metropolitana da capital, a discussão começa às 8h30 e acontece no campus da Universidade Potiguar (UnP). Em Caicó, na região Seridó do estado, o evento será na Câmara Municipal de Vereadores a partir das 14h. Em Mossoró, no Oeste potiguar, o tema será debatido na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) a partir das 8h30. No mesmo horário, a violência contra a mulher também será tema de discussão na Câmara Municipal de Santana do Matos, município a 190 quilômetros da capital. E, em Umarizal, também na região Oeste, a Câmara de Vereadores abre as portas para debater o assunto a partir das 17h.
A primeira vítima
A primeira mulher morta este ano no Rio Grande do Norte, vítima de violência, foi a fisiculturista Fabiana Caggiano, de 36 anos. Ela morreu no dia 2 de janeiro na UTI de um hospital particular de Natal. A princípio, acreditava-se que ela havia sofrido uma queda dentro do banheiro de um hotel da cidade, onde passava férias com a família. No entanto, perícias feitas pelo Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) atestaram que ela foi asfixiada pelo marido, o empresário paulista Alexandre Furtado Paes. Ele teve mandado de prisão expedido em 25 de janeiro, mas continua foragido até hoje.
O último caso de homicídio registrado contra uma mulher aconteceu na madrugada desta última quinta-feira (21), durante uma bebedeira dentro de uma casa em Parnamirim, cidade da Grande Natal. De acordo com a Polícia Militar, Tereza Tainar Lima Teixeira, de 30 anos, foi atingida com diversas facadas no peito e morreu no local. A suspeita de desferir os golpes, amiga de Tereza, foi presa no dia seguinte quando tentava fugir para o Ceará.
45 mortes em 2013
Segundo dados fornecidos ao G1 pela Coordenadoria da Defesa dos Direitos da Mulher e das Minorias no Rio Grande do Norte (Codim), pelo menos 45 mulheres foram assassinadas este ano no Rio Grande do Norte. No ano passado, foram 27 homicídios; em 2011, 12 mulheres foram mortas. Contudo, a coordenadora Erlândia Passos explica que os números de 2011 e 2012 representam apenas os casos registrados pelas cinco delegacias especializadas em defesa da mulher. Duas delas funcionam em Natal. As demais, em Mossoró, na região Oeste, Parnamirim, na Grande Natal, e Caicó, na região Seridó.
Sobre o atendimento às mulheres, Erlândia Passos informa que o Codimm mantém o número 0800-281-2336 funcionando 24 horas para atender ocorrências em todo o estado.
"Verificamos a procedência da denúncia e vamos até casa da vítima. Muitas vezes a denúncia parte do vizinho e familiar. Se comprovado, o caso é repassado para as autoridades responsáveis, como Justiça, Ministério Público e Polícia Civil", afirma.
RN acima da média nacional
A cada 100 mil mulheres, mais de seis morreram de causas violentas no Rio Grande do Norte, uma taxa que superou a média nacional entre os anos de 2009 e 2011. É o que mostra o estudo “Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil”, divulgado em outubro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A taxa corrigida de assassinatos foi de 5,82 por 100.000 mulheres no país, enquanto que o RN teve média de 6,31 mortes, deixando o estado na 15ª colocação no Brasil.
Segundo o estudo do Ipea, mulheres jovens foram as principais vítimas - 31% na faixa etária de 20 a 29 anos - como Clara Rubianny Ferreira, de 26 anos, estrangulada dentro de um apartamento em julho deste ano no bairro de Ponta Negra, na zona Sul de Natal. O principal suspeito do assassinato é o empresário paulista Eugênio Becegato Júnior, que era proprietário do imóvel e foi indiciado pela morte. Ele está preso aguardando julgamento.
Ao todo, 50% dos feminicídios ocorridos no Brasil envolveram o uso de armas de fogo. O número também tem reflexo no RN. Um dos casos que chamou a atenção foi o da empregada doméstica Sanclea Fernandes Dantas, de 32 anos, morta a tiros no município de Patu, na região Oeste potiguar. O principal suspeito é um jovem de 19 anos que teve um relacionamento amoroso com a vítima. Sanclea estava grávida de três meses e o suspeito seria o pai do bebê. Waedson Huerlley Araújo da Silva foi preso horas depois do crime. Indiciado por homicídio qualificado ele continua detido, mas nega ter matado a ex-namorada.
O estudo do Ipea registra ainda que a maior parte das vítimas era negra (61%), principalmente nas regiões Nordeste (87% das mortes de mulheres), Norte (83%) e Centro-Oeste (68%). A maioria também tinha baixa escolaridade (48% das com 15 ou mais anos de idade tinham até 8 anos de estudo).
As regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte concentram esse tipo de morte com taxas de, respectivamente, 6,90, 6,86 e 6,42 óbitos por 100 mil mulheres. Nos estados, as maiores taxas estão no Espírito Santo (11,24), Bahia (9,08), Alagoas (8,84), Roraima (8,51) e Pernambuco (7,81). As taxas mais baixas estão no Piauí (2,71), Santa Catarina (3,28) e São Paulo (3,74).
Cidade onde advogada foi morta a pauladas esta entre as 50 que mais ligam para a Central de Atendimento à Mulher
A cidade de Santo Antônio, localizada a 70 quilômetros de Natal, figura na 47ª posição dentre as 50 cidades com população de até 20 mil habitantes que mais ligaram para a Central de Atendimento à Mulher no país. A informação leva em conta a população feminina por grupo de 100 mil mulheres. Os dados são do balanço divulgado na primeira semana de outubro pela Secretaria de Políticas para Mulheres e são referentes ao primeiro semestre de 2013.
De acordo com os números, Santo Antônio tem 11.116 mulheres e efetuou 87 registros na Central no primeiro semestre de 2013. No Rio Grande do Norte, 66 municípios são atendidos pela Central de Atendimento à Mulher.
Para entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, basta ligar 180. As ligações podem ser feitas por qualquer telefone - seja ele móvel ou fixo, particular ou público (orelhão, telefone de casa, telefone do trabalho, celular). É importante saber que toda ligação feita à Central é gratuita.
Foi na cidade de Santo Antônio, em fevereiro deste ano, que aconteceu um dos crimes que mais chocou o estado. Dentro de um motel, foi morta a pauladas a advogada Vanessa Ricarda de Medeiros, de 27 anos. O acusado do homicídio é o ex-namorado dela, o policial militar Gleysson Alex de Araújo Galvão.
O soldado, que está preso desde o noite do crime, chegou a ser licenciado pela junta médica da PM no início do mês de outubro para se submeter a um tratamento de saúde mental. No entanto, para o juiz Ederson Solano, que acompanha o caso, o quadro de insanidade do acusado não foi comprovado. Durante audiência de instrução, o magistrado entendeu que em mais de seis anos de trabalho como policial militar, Gleysson nunca precisou ser afastado para se tratar de nenhum problema relacionado à saúde mental. Ele continua preso e aguarda sentença para saber se vai ou não a júri popular.
Reprodução Cidade News Itaú
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!