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quarta-feira, outubro 16, 2013

Criminosos sugerem criptografia e blindados para segurança de facção


A facção criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas pensou em criptografar dados de seus computadores para dificultar o trabalho da polícia em identificar informações sobre a quadrilha. Gravações telefônicas autorizadas pela Justiça às quais o G1 teve acesso também mostram que o grupo planejou usar carros com blindagem para tentar resgatar lideranças da organização de dentro de penitenciárias em São Paulo.

As conversas gravadas durante investigação do Ministério Público Estadual ocorreram entre presos e criminosos que estão na rua. Após três anos de apurações, o MP concluiu que o grupo controla 90% dos presídios de São Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Os pedidos foram negados e o MP entrou com recurso.

Facção - estrutura e atuação (Foto: Arte/G1)
Em conversa de 15 de dezembro de 2011, o preso Abel Pacheco de Andrade, o “Vida Loka”, fala com outro detento, Roberto Soriano, o “Tiriça”, sobre a possibilidade de a facção passar a criptografar informações que estão nos computadores do grupo. “Tem que fazer criptografado esses bagulhos, não pode ficar vulnerável dessa forma não”, afirma um deles. Durante a conversa, é citada a apreensão do computador de um dos integrantes da quadrilha durante a prisão dele.
Em gravações telefônicas feitas em 2012, a facção foi pega planejando usar armas e veículos blindados para resgatar os líderes da quadrilha. Apelidado de “caminhada do cachorro-quente”, o resgate tinha como alvo a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Para arrebentar cadeados e grades, os criminosos falavam em usar alicates mecânicos. Segundo a investigação, eles também pretendiam usar carros e caminhões com blindagem durante o plano.
A ideia era realizar uma megaoperação de resgate, com o uso de grande número de criminosos que estavam fora do sistema prisional e muitas armas. Durante as gravações, os integrantes da quadrilha detalham a compra de veículos que seriam usados no resgate dos chefes da facção e a chegada de “oito fuzis AR-15”. “Já tem 10 (veículos) na mão, tem um grandão (que seria um caminhão). Tem que comprar a caminhada de corte (alicate de pressão para cortar grades e trancas), pelo menos uns quatro ou cinco”, dizem os criminosos nas ligações interceptadas.
As investigações mostram que um dos principais objetivos da facção é propiciar ações de resgate para os integrantes presos, principalmente aqueles detidos durante as chamadas “missões” da quadrilha. Durante o monitoramento das escutas, equipes das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) foram acionadas e conseguiram evitar o resgate de um preso na região de Campinas. Ele estava detido em Presidente Venceslau e seria transportado para uma audiência em março de 2012 no Fórum de Sumaré, no interior do estado. Os criminosos planejavam fazer o resgate durante o trajeto.
Presídios federais
Nas conversas telefônicas, os integrantes da quadrilha demonstram preocupação com a possível transferência de detidos para presídios federais. Um dos integrantes fala sobre a transferência de Roberto Soriano para o Presídio Federal de Rondônia, em Porto Velho, ocorrida em novembro do ano passado. “Tiriça” foi acusado de ordenar a execução de policiais no estado. “Aquele negócio do Tiriça lá me deixou muito neurótico”, diz um dos criminosos em uma ligação.
Os integrantes falam de um relatório sobre o tratamento recebido pelo detento na penitenciária. “Aquela caminhada (carta) que nós falamos pra você, da humilhação que o nosso irmão (pode ser o Soriano) sofreu daquele lado lá (Porto Velho), toda aquele fita (relatório) que esta aí, teve que ser destruída e nós vamos refazer pra vocês ter um entendimento. Nós ficamos contentes que o irmão melhorou um pouco a situação dele do lado de lá, mas mesmo assim a gente não tá ainda satisfeito”, diz um deles.
Em outra conversa, os integrantes discutem a ajuda às famílias dos transferidos para presídios federais, por causa do alto custo com as viagens. “Referente a esses meninos que podem estar indo lá pra PF (Penitenciária Federal), fecharam numas ideias de dar uma chegada (fornecer ajuda) em quatro moedas (R$ 4 mil) cada um”, diz um dos criminosos. “Tava pensando no dobro disso daí que você falou. Mas tudo depende de quantos e de quem”, responde o outro.
A transferência para presídios federais começou após o anúncio de uma ação integrada de combate à violência firmada entre o governador Geraldo Alckmin e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em novembro do ano passado. A decisão ocorreu depois de uma onda de violência em São Paulo. Nos presídios federais, os detentos contam com duas horas de banho de sol por dia, três horas de visitas de parentes por semana e visita íntima quinzenal, com uma hora de duração. Os presos não têm acesso a jornais e televisão.

Reprodução Cidade News Itaú

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