O policial militar que prestou depoimento sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza disse que a capa da motocicleta usada para esconder o corpo do ajudante de pedreiro e retirá-lo da favela após a tortura, pertencia ao major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, conforme mostrou o Bom Dia Rio nesta quarta-feira (16).
Ainda segundo o policial, durante a tortura o ajudante de pedreiro teria sido afogado dentro de dentro de um balde que ficava ao lado da UPP. O recipiente servia para armazenar a água que escorria do ar-condicionado do contêiner. O ajudante de pedreiro ainda teria sido submetido a choques. Em depoimento, o policial também disse que os envolvidos prejudicaram o trabalho da polícia. Um dia depois do desaparecimento de Amarildo, o local foi limpo e todos os vestígios de sangue apagados. Dois diuas depois da tortura eles também teriam jogado óleo no piso e construído um depósito no local.
Os advogados do major Edson Santos não foram localizados pela reportagem para falar sobre a acusação do MP. Todos os policiais presos negam as acusações.
O Ministério Público do Rio informou que vai incluir outros dez nomes de policiais à denúncia referente ao desaparecimento do ajudante de pedreiro. Eles serão indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e também por omissão.
O MP também quer que o major Edson Santos seja transferido para outro presídio para proteger a investigação. Segundo os promotores, ele estaria influenciando os policiais presos que poderiam colaborar com as investigações em troca de redução da pena.
Nesta segunda, a polícia realizou nova perícia no local onde o policial indicou que houve tortura contra Amarildo. Eles encontraram vestígios de sangue e o material foi encaminhado para análise.
No dia 1º de outubro, o ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, major Edson Santos, e outros nove policiais militares foram indiciados pelo crime. Amarildo de Souza desapareceu em 14 de julho, após uma abordagem policial.
Novas buscas
A Polícia Civil voltou à Rocinha, na Zona Sul do Rio, no fim da tarde desta segunda-feira (14), para uma nova tentativa de encontrar o corpo do ajudante de pedreiro e realizar uma nova perícia. Os investigadores tentaram confirmar detalhes do depoimento de mais um PM sobre o crime.
As revelações incriminam mais cinco PMs, além dos dez que foram indiciados e presos, e contam detalhes de tortura realizada na sede da UPP, na noite do desaparecimento de Amarildo.
A informação é de um PM da UPP, que estava de serviço na noite do desaparecimento do pedreiro, em 14 de julho. O depoimento foi realizado durante seis horas até a madrugada desta segunda, no Ministério Público (MP). Os PMs citados devem ser denunciados, segundo o procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira.
Choques e asfixia
A nova testemunha contou que recebeu a ordem do tenente Luís Felipe Medeiros, oficial da UPP, para que todos ficassem dentro do contêiner naquela noite, e de lá não saíssem. Segundo ele, logo que entraram, passaram a ouvir gritos de dor, agressões, barulhos de choques e ruídos de uma pessoa sendo asfixiada. A sessão de tortura teria durado 40 minutos.
Após um silêncio, o policial diz ter ouvido gritos de que algo teria dado errado. Logo depois, foi ouvida uma movimentação na mata atrás do comando da UPP, o que motivou as novas buscas e a nova perícia realizada nesta segunda.
No local, os policias civis usaram uma substância química capaz de identificar vestígios de sangue, atrás dos contêineres onde está a montada a UPP. O policial que fez as novas denúncias não teve a identidade revelada e está sob proteção.
Reprodução Cidade News Itaú
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