"Acredito na misericórdia. Eu a absolvi perante Deus." São com essas palavras que Carlos Eduardo Tibério, vigário paroquial da Catedral Metropolitana de São Sebastião, em Ribeirão Preto (SP), se refere à mulher que furtou seu celular no dia 1º de setembro. O aparelho, um iPhone 5 avaliado em R$ 2 mil, foi furtado momentos antes de a fiel começar a se confessar com o sacerdote. A igreja estuda implantar câmeras para melhorar a segurança do local.
Tibério conta que o crime ocorreu por volta das 17h30, enquanto ele atendia fieis que estavam na igreja para se confessar. "Atendemos em uma sala com porta de vidro. Essa mulher se sentou na minha frente e, antes de começar a confissão, um sacerdote chegou até a porta e eu me dirigi até ele para atendê-lo. Deixei o aparelho [iPhone] em uma mesinha, ao lado de uma imagem de Nossa Senhora e de Jesus Cristo. Quando fui falar com o padre, fiquei de costas para a sala. Foi coisa de dois minutos. Neste momento ela pegou o telefone", afirma.
Assim que Tibério voltou para a sala, ele iniciou a confissão com a mulher. O vigário só foi notar que o telefone havia desaparecido depois que a fiel foi embora. "Absolvi, dei a penitência e ela foi embora. Chamei o próximo, e quando ele entrou e sentou percebi que o celular não estava mais lá", diz. O pároco disse ainda que levava poucas vezes o aparelho para a igreja. "Não costumo levar o celular para a igreja, mas naquele dia estava com problemas familiares e levei", conta.
Apesar do crime, Tibério não registrou boletim de ocorrência sobre o caso. "A pessoa que rouba ou tem uma doença ou uma necessidade. Ninguém rouba porque quer. Temos que olhar a necessidade, a carência da pessoa. Como ela se confessou, ela talvez procure o arrependimento novamente, vá a um sacerdote e devolva o telefone. Se ela se arrependeu de uma coisa, porque não poderia se arrepender disso? Eu acredito na misericórdia. Eu a absolvi perante Deus", explica.
Tibério também diz que quebraria o Direito Canônico se procurasse a polícia para prestar queixa contra a mulher. "Se eu fizesse um boletim de ocorrência, eu seria obrigado a dar características físicas desta mulher. Confissão é sigilo", diz.
Segurança
O furto do celular de Tibério não foi o primeiro crime ocorrido nas dependências da Catedral de Ribeirão Preto. O pároco diz que a igreja é alvo de constantes furtos e atos de vandalismo. "Nossos pequenos cofres já foram furtados. Pessoas já defecaram sobre o altar. De um lado da praça, temos tráfico de drogas. Do outro, temos prostituição. Somos desprovidos de segurança", afirma.
Segundo o vigário, a igreja planeja instalar câmeras para melhorar a segurança. Ainda não há, no entanto, cronograma nem expectativa de investimento para que as medidas sejam tomadas. Segundo Tibério, falta apoio da Prefeitura para o policiamento da igreja. "A Polícia Militar nos ajuda. Mas já que não podemos contar com o policiamento municipal, teremos que arcar com as próprias responsabilidades para instalar dispositivos de segurança na igreja", diz.
Tibério defende que a Prefeitura poderia disponibilizar guardas civis municipais para fazer a vigilância permanente da Catedral. "Aqui é um templo que recebe muitas pessoas. É um patrimônio histórico tombado, com telas do pintor Benedito Calixto [1853 - 1927] que valem milhões. Isso deveria ser preservado pela Prefeitura. O Theatro Dom Pedro II tem guardas civis. Por que a Catedral não teria?", questiona.
Prefeitura
Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura informou ao G1 que a praça da Catedral recebe monitoramento eletrônico pelo projeto "Olhos de Águia I" há mais de cinco anos e que o local é patrulhado tanto pela Guarda Civil Municipal quanto pela Polícia Militar. A administração municipal não se posicionou, no entanto, sobre a possibilidade de disponibilizar um guarda civil para a segurança da igreja.
Reprodução Cidade News Itaú
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