O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ter sido um dos mandantes da morte de Dorothy Stang em fevereiro de 2005, foi interrogado pelo juiz Moises Alves Flexa durante seu julgamento nesta quinta-feira (19). Durante o interrogatório, o réu disse que não tinha participação no assassinato da missionária.
Vitalmiro Bastos de Moura está sendo julgado pela quarta vez pelo crime desde as 8h30 da manhã. Ele é apontado pelo Ministério Público como mandante da execução da missionária, que defendia projetos de manejo sustentável na região. Bida já foi condenado duas vezes e inocentado em um dos julgamentos, mas as sentenças foram anuladas pela justiça.
O fazendeiro alegou no tribunal que havia chegado ao município de Anapu, onde a missionária foi morta, na véspera do dia do crime, mas disse que não conhecia Rayfran das Neves Sales, pistoleiro condenado pela morte de irmã Dorothy. Segundo Bida, ele só soube que Dorothy havia sido morta na tarde de 12 de fevereiro de 2005. "O Rayfran e o Clodoaldo (Batista, também condenado) chegaram na minha fazenda e chamaram meu funcionário. Eu fui até eles e o Rayfran falou 'eu matei irmã Dorothy', e eu disse 'rapaz, você é doido?'", disse o fazendeiro.
Vitalmiro confirmou que conhecia Amair Feijoli, o Tato, condenado a 18 anos como intermediário da execução. Porém, segundo o fazendeiro, não houve mandante no crime. O juiz Moises Flexa questionou Vitalmiro sobre o fato de Feijoli ter mudado seu depoimento, inocentando Bida, e o fazendeiro alegou que Tato havia incrimidado ele e Regivaldo Galvão, que também é acusado de ser mandante e aguarda recurso em liberdade, para se beneficiar da delação premiada. "Os primeiros três depoimentos ele (Tato) não acusou eu e o Regivaldo. Depois ele acusou na delação premiada. Não houve participação de ninguém após o Amair", disse Bida.
Após as perguntas juiz, o promotor Edson Cardoso passou a questionar o fazendeiro. Durante sua fala, Cardoso desqualificou as testemunhas apresentadas pela defesa de Bida, que alegam, assim como o réu, que Vitalmiro é inocente. O promotor relembrou um depoimento de Tato no primeiro julgamento, que alegou que Vitalmiro e Regivaldo teriam oferecido R$ 50 mil pelo assassinato da missionária, mas a defesa do réu reforçou que o posicionamento da testemunha mudou nos julgamentos seguintes.
Ao advogado Eduardo Imbiriba, Vitalmiro confirmou que os assassinos de Dorothy dormiram na sua fazenda, mas no meio da mata, longe da sede.
Outros depoimentos
Três testemunhas de defesa foram ouvidas na tarde desta quinta-feira (19), durante o julgamento do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. Após o depoimento de Amair Feijoli, o Tato, que foi condenado a 18 anos de prisão pelo envolvimento na morte da missionária Dorothy Stang, o júri ouviu Cleoni Santos, funcionário da fazenda de Bida, e Francisco Cardoso dos Santos, amigo e vizinho da missionária. Rayfran das Neves Sales também depôs durante a sessão, mas como informante, já que ele foi julgado e condenado pelo crime.
Cleoni inocentou o ex-patrão, alegando que estava com Bida quando Rayfran anunciou o assassinato. Segundo ele, o fazendeiro teria ficado muito surpreso com a notícia da morte de Dorothy, e teria expulsado Rayfran do local assim que soube do crime.
Após o depoimento de Cleoni, o juiz ouviu Rayfran das Neves, já condenado à prisão por ser o assassino confesso da missionária.
Em juízo, Rayfran reiterou a inocência de Vitalmiro, e reafirmou que, à época de seu primeiro julgamento, foi coagido pela polícia a incriminar Vitalmiro e Regivaldo Galvão como mandantes do crime. Rayfran também negou que tenha recebido uma proposta de R$ 50 mil para executar.
A última testemunha a ser ouvida antes do depoimento de Bida foi Francisco Cardoso dos Santos, amigo e vizinho da missionária. Ele contou ao juiz que conheceu Vitalmiro devido a uma venda de terras que seria acertada entre os dois, mas que não tinha conhecimento de nenhum tipo de envolvimento do fazendeiro com a morte da Irmã Dorothy.
Francisco disse ainda, que durante o período em que conviveu com a missionária, nunca presenciou nenhum desentendimento dela com o fazendeiro.
Entenda o caso
A missionária americana da ordem de Notre Dame Dorothy Mae Stang foi morta aos 73 anos em Anapu, sudoeste do Pará, em 12 de fevereiro de 2005. Ela trabalhava junto a comunidades de Anapu em projetos de desenvolvimento sustentável, o chamado PDS Esperança.
Segundo o Ministério Público, a morte da missionária foi encomendada pelos fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, que aguarda julgamento de recurso. Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado a 18 anos de prisão como intermediário do crime.
Rayfran das Neves Sales, condenado a 27 anos de prisão por ser assassino confesso da missionária norte-americana Dorothy Stang, deixou o regime fechado para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar em julho deste ano. Clodoaldo Carlos Batista, acusado de ser comparsa de Rayfran, foi condenado a 17 anos de prisão deixou a Casa do Albergado, localizada em Belém, em fevereiro de 2011 e está foragido.
O crime ganhou repercussão internacional, chamando a atenção de entidades ligadas aos direitos humanos e a reforma agrária. "A nossa expectativa é que esse julgamento confirme o anterior, isto é, com a condenação do réu. Não nos conformamos com a injustiça", disse Paulinho Joamil, da CNBB.
Reprodução Cidade News Itaú
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