Com quase três anos completos de seu primeiro mandato como deputado federal, o ex-jogador de futebol Romário (sem partido) diz que chegou na política para ficar. "Quando cheguei aqui disseram que eu era mais uma celebridade que não ia fazer nada e ir embora logo, mas entrei na política para não sair mais", diz ele em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, no jardim de sua casa na beira do Lago Sul, em Brasília. "A camisa de deputado pesa até mais que a da seleção", acredita ele.
Seleção que Romário vestiu durante anos e conquistou o tetracampeonato em 1994, no Mundial dos EUA. Sua relação com o futebol ainda é estreita. Condena constantemente os possíveis abusos na preparação da Copa-2014 e o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin.
Ao explicar seus ataques sempre ferozes ao presidente da entidade, o deputado diz que no começo acreditou que ele "iria mudar as coisas" na entidade, e que Marin chegou a chorar na sua frente quando se conheceram. "Ele chorou na minha frente, me emocionei e tudo", lembra. "Já tinha relevado aquela história da medalha que ele roubou [relembre o caso aqui], quando vejo ele está fazendo tudo igual e pior. Aí não dá né".
Quando é para falar da seleção em campo, Romário pega mais leve e admite: "Hoje posso dizer que estava enganado lá atrás", diz ele sobre as críticas que fez ao time de Felipão antes da conquista da Copa das Confederações. "Assim como acredito que não esteja enganado hoje em dizer que é um candidato ao título da Copa do Mundo", afirma. Além do Brasil, o baixinho coloca Espanha, Alemanha e Argentina como favoritos ao título em 2014. "Mas assim, não tenho acompanhado de perto", afirma.
Carreira política
No ano que vem, o ex-craque afirma que sua meta é disputar a reeleição para a Câmara dos Deputados, para a qual teve quase 150 mil votos em 2010, e em 2016 o alvo é a Prefeitura do Rio de Janeiro. "Mas claro, se uma pesquisa me colocar bem no cenário em uma vaga para o Senado, vou ter que considerar também".
Sem partido após sua saída do PSB, onde segundo ele não contava "com a consideração" da liderança -- "passei mais de um ano tentando falar ao telefone com o Eduardo Campos [governador de Pernambuco e presidente nacional do partido] e não fui atendido" -- o deputado recebeu a reportagem vestido com calção de futebol, camiseta regata e fumando um charuto em uma tarde nublada no início da semana.
Em clima descontraído, Romário ainda fez mistério da legenda para qual obrigatoriamente migrará, apesar do prazo para filiação a tempo de disputar as eleições do ano que vem terminar no dia 5 de outubro. Considerado um bom "puxador de votos" (candidatos que recebem grande votação e assim ajudam a eleger colegas de partido), o pré-candidato em 2014 é cortejado por PSOL, PR, PRB e Solidariedade (ainda em processo de fundação), entre vários outros.
Entrega que deve ir para o PR ou PRB, mais provavelmente o primeiro, e já se defende. "Quando comentei nas redes sociais que estava conversando com o Garotinho (PR-RJ) e o Marcelo Crivella (PRB-RJ), que são evangélicos, um monte de gente veio me criticar. Hoje não existe mais aquela coisa de partido ideológico ou imaculado, todos eles têm problemas", diz o deputado, sobre denúncias de corrupção que envolveram o PR carioca e nacional e seus dirigentes nos últimos anos.
"Para participar da vida política, o cidadão tem que ser filiado a algum partido, não tem jeito. Então estou vendo qual a legenda que irá me dar o apoio necessário para trabalhar", diz ele. Jura que tirou cerca de R$ 200 mil do próprio bolso nas eleições de 2010. De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sua campanha arrecadou R$ 308.992,15.
Romário descarta entregar o mandato ao PSB ou ao suplente. "Não passei dois meses da minha vida quase sem dormir, fazendo campanha por aí, me desgastando, tirando dinheiro do bolso e usando meu nome para dar nada a ninguém". "Tenho a informação de que o PSB não vai pedir [o mandato], mas caso o suplente o faça, vou brigar na Justiça".
'Sacanagem em cima de sacanagem'
Para Romário, uma reforma política deveria contemplar "um novo jeito de fazer política, menos centrada nos partidos e mais focada nas pessoas". Enquanto isso não existe, em resumo ele diz que vai se virando com o que tem. "O que meus eleitores têm que saber é que não vou me corromper e não vou mudar meu jeito combativo de fazer política, isso é uma condição para entrar em qualquer partido", diz.
Combatividade essa que atualmente lhe rende pelo menos dois processos na Justiça: Um movido por José Maria Marin, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e outro por um de seus vices, Marco Polo Del Nero, que também é presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) e sócio do deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), ligado ao Corinthians, em um escritório de advocacia. Ambos por conta de declarações ofensivas aos dois dirigentes esportivos proferidas pelo deputado em discursos no plenário da Câmara.
"Não sou eu que estou batendo muito, são eles que estão merecendo apanhar e não estão acostumados", diz ele. "Isso aqui [o Congresso] é sacanagem em cima de sacanagem", diz ele. Por isso afirma que vai ficar. "Não acho que a Dilma faça um governo de continuidade no que o governo Lula teve de bom, por isso hoje eu sou oposição", diz. Sobre o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, garante que é um dos únicos políticos que admira, mas está decepcionado com o envolvimento dele no projeto de MP (Medida Provisória) que perdoa pelo menos R$ 2 bilhões em dívidas dos clubes de futebol com o governo.
"Valcke, o corrupto"
Quando o assunto é Copa do Mundo, Romário reclama muito das obras e dos privilégios e isenções de impostos da Fifa no Brasil. "Se um cara da Fifa der uma topada e machucar o dedo aqui no Brasil, o governo brasileiro tem pagar uma indenização para ele", diz. "Quando o Jeróme Valcke, outro corrupto, diz que o Brasil terá o ingresso mais barato da história está mentindo".
Ele se confunde e cita números e dados imprecisos na hora de falar de Copa do Mundo, como o valor do preço do ingresso mais barato para o Mundial do Brasil, mas é preciso no que mais o incomoda, além "da roubalheira nas obras". "As obras de mobilidade vão ficando para trás. Você pega os projetos de acessibilidade, por exemplo. Vai ter uma coisa aqui, outra ali, e no final não vai ter uma grande transformação".
"É uma inversão completa de prioridades. Você pega o estádio aqui de Brasília. Quase R$ 2 bilhões! Para quê? Show da Beyoncé?", questiona [na noite de terça-feira, a arena recebeu um show da cantora norte-americana].
Sobram criticas também na hora de falar de futebol. Romário confessa que não tem acompanhado futebol nacional, parte por desinteresse e parte por falta de tempo. "Hoje no Brasil não existe nenhum grande time. Você tem times bons, mas nenhum grande time", sentencia. Não poupa críticas a Roberto Dinamite, "o pior presidente que o Vasco já teve", e elogios à nova direção do Flamengo -- "Estão de parabéns pela modernização da gestão no clube".
Para Romário, Neymar é a principal esperança do Brasil para 2014 ao lado de Fred, Lucas e Ramires. O melhor de todos os tempos é Pelé, seguido por Maradona e ele mesmo, em terceiro. Ronaldo "chega perto". "Pelé foi o maior porque o que fez mais gols, o que mais jogou com a camisa de um clube, um dos que mais jogou com a camisa da seleção brasileira", diz. "O Maradona foi tecnicamente o melhor que eu já vi, falo por mim".
"Em relação a mim, nos anos que estive no futebol fui crescendo ano a ano e cheguei a fazer o máximo. Dentro disso, não vejo ninguém que se aproxima de mim fora os dois", avalia. "O Ronaldo chega perto".
Sobre Pelé, aliás, o boleiro revela no final da entrevista que prometeu a Zico não falar mais mal dele. "Ele entende que somos ídolos do futebol nacional e entre ídolos ficar discutindo não é legal. E o Zico tem razão", diz. "Sempre respeitei o Pelé, mas discordava do que ele dizia. Hoje, pela palavra que dei ao Zico, tenho que ficar calado".
Antes de encerrar, Romário diz que está feliz morando a maior parte do tempo em Brasília, onde vive com o filho Romarinho, jogador do Brasiliense. "Tenho muitos amigos aqui". Com uma Ferrari na garagem, piscina, sauna, jardim cinematográfico, vista para o Lago Paranoá e uma mansão de dezenas de cômodos, o deputado vive bem em Brasília. Seu "xodó" na casa é o campo de futebol e a quadra de futevôlei que Romário reformou quando chegou ao imóvel.
Ainda se recuperando de uma cirurgia para retirada de uma hérnia de disco em agosto, resquícios da vida de boleiro, ele está afastado das peladas que promove no local toda segunda-feira à noite e às quintas quando está em Brasília. "Você vê, quase não sinto falta do Rio de Janeiro. Tem o lago que parece o mar, é calor e mandei colocar mais areia quando reformei essa quadrinha, assim fica parecendo que estou na praia", afirma. "Não vejo a hora de voltar a jogar, todo mundo sabe que não vivo sem meu futevôlei".
Reprodução Cidade News Itaú
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