O delegado Gilmar Contrera afirma ter esclarecido o caso das duas adolescentes achadas mortas na região do Butantã, em São Paulo. "Para a investigação não resta dúvidas: foi a mãe que assassinou as meninas. As provas são depoimentos de policiais e médicos que ouviram a confissão dela", disse Contrera nesta quinta-feira (19) ao G1.
Segundo a investigação, Mary Vieira Knorr, de 53 anos, matou, na semana passada, as duas filhas e o cão da família na casa em que moravam. Agora, o delegado vai pedir à Justiça um exame de insanidade mental da mulher.
O resultado do teste servirá para eliminar dúvidas a respeito de seu perfil psicológico. Para a investigação, ela pode ter cometido um crime em decorrência de um surto psicótico.
Presa em flagrante pelos assassinatos, Mary teria confessado os crimes a policiais militares e a uma médica. Alterada, teria dito que queria se suicidar, foi levada para um hospital, onde permanece internada e sem previsão de alta. Por esse motivo, ainda não tem condições de prestar depoimento à polícia. O diagnóstico é de transtorno mental por conta do uso de medicamentos sedativos e hipnóticos.
A investigação quer saber se Mary tomou esses remédios antes ou depois das mortes e se eles teriam alguma relação com o crime. O mais provável, segundo os policiais, é que ela tenha sido medicada após os assassinatos, mas essa informação ainda não foi confirmada oficialmente. Testemunhas e parentes, no entanto, disseram à polícia que Mary não tinha problemas mentais.
Em relação à execução do crime, a hipótese mais plausível para a polícia é a de que a mulher pode ter surtado e, em seguida, asfixiado as irmãs Giovanna, de 14 anos, e Paola Knorr Victorazzo, de 13, e o cachorro. Laudos da Polícia Técnico Científica irão apontar se as vítimas foram esganadas pela mãe ou intoxicadas por gás de cozinha.
Informações preliminares da perícia dão conta de que as estudantes teriam sido mortas na última quinta-feira (12) devido ao estado de decomposição dos cadáveres. Vizinhos ainda disseram ter visto Mary passear com o cão na sexta-feira (13), o que aumenta a suspeita de que a mulher velou as filhas por dois dias. Os corpos foram encontrados no sábado (14) pela Polícia Militar, que foi à residência atender um chamado de vazamento de gás. Como Mary não atendia as ligações de seus filhos de outro relacionamento, eles acionaram a PM.
Para o delegado do 14º Distrito Policial, em Pinheiros, que investiga o caso, o inquérito que apura a autoria dos homicídios concluirá que Mary matou as filhas e tentou se matar em seguida após um possível surto.
No entendimento do delegado, apesar de parentes e conhecidos não relatarem transtornos mentais anteriores, Mary tinha problemas amorosos e de relacionamento com as filhas, dificuldades financeiras e praticava crimes de estelionato. "Para nós, todos esses ingredientes podem ter feito ela surtar e matar as meninas", disse.
De acordo com Contrera, como Mary foi detida no sábado passado, o inquérito precisa ser concluído no prazo de dez dias para prisão em flagrante. Isso deverá ocorrer até a próxima segunda-feira (23).
Mesmo não tendo ido à delegacia, a mulher foi indiciada pelos homicídios, ou seja, responde formalmente como autora dos assassinatos. "O inquérito será relatado à Justiça. A polícia irá se manifestar a favor da prisão da mulher. Ela oferece riscos a outras pessoas e a si mesma, já que tentou o suicídio".
Exames
Como Mary ainda não teve autorização médica do Hospital Universitário, na Zona Oeste, para prestar depoimento à polícia sobre o crime, o delegado também vai pedir à Justiça a "verificação da capacidade de imputação nos incidentes de insanidade mental" da mãe. Se a solicitação for concedida, poderá ser feita no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc)
Policiais tentam interrogar Mary desde o dia em que ela foi internada, mas a mulher não tem condições de falar. Atestado médico do hospital informa que, de acordo com o Classificação Internacional de Doenças (CID), ela foi diagnosticada com F130, um transtorno mental e comportamental causado por ingestão de sedativos e hipnóticos.
Esse transtorno leva a pessoa a ter comportamento anormal, como o que Mary apresenta nos últimos dias no hospital, mas dificilmente leva alguém a cometer um assassinato, segundo especialistas ouvidos pelo G1.
“Acho que ela está transtornada pelos remédios que está tomando. Por isso não pode falar conosco ainda”, disse Contrera, que poderá concluir o inquérito sem ouvir Mary. "Nossa última tentativa será na sexta-feira [20]."
O exame de insanidade do Imesc pode ser anexado posteriormente à conclusão do inquérito e servirá para a Justiça saber se vai responsabilizar Mary criminalmente ou se a suspeita necessita de tratamento psiquiátrico. Se a mulher for considerada inimputável (não responde pelos seus atos) ou semi-imputável (tem consciência parcial do que faz) poderá ir a um hospital psiquiátrico. Ela não poderia ficar presa numa cadeia comum, teria de ser submetida a tratamento, onde permaneceria detida até ser curada. Se for considerada imputável pode responder criminalmente pelos assassinatos.
"Por enquanto, não posso afirmar se ela tem ou não tem problemas mentais, quem dirá isso será o resultado do exame de insanidade", disse Contrera.
Internação
Na quarta-feira (18), o advogado de Mary, Lindenberg Pessoa de Assis, visitou sua cliente no centro médico e disse que ela não se lembra de nada do que aconteceu e pergunta pelas filhas. Além de perguntar "como estão as meninas?", Mary também falou que quer morrer, de acordo com o defensor. A defesa pretende pedir à Justiça a liberdade da mulher alegando que ela precisa da família e de um tratamento psiquiátrico. “Ela não deve ser tratada como uma criminosa”, afirmou.
Polícia
Em depoimentos dados no 14º Distrito Policial, em Pinheiros, os PMs que acharam as vítimas no imóvel relataram que Mary estava “alterada” naquele dia, quando também confessou a eles os assassinatos das filhas e disse que queria se matar. Ela acabou presa em flagrante, foi sedada e levada ao Hospital Universitário da USP.
Para o advogado de Mary, no entanto, sua cliente não confirmou a ele a confissão que teria dado aos agentes. Por esse motivo, Assis alegou que, antes de a investigação apontar a mulher como culpada, é preciso ouvi-la em depoimento. “Confissão de que matou não é prova. Temos um crime, mas não temos um bandido”, disse o defensor. "E quem disse isso, de que ela confessou, foram os policiais militares, não foi Mary. Ela ainda não falou formalmente com a Polícia Civil sobre o caso."
De acordo com o advogado, Mary ainda não tem condições psicológicas de prestar depoimento à polícia. “Ela ainda não voltou à consciência, não dá para saber o que aconteceu”, disse Assis. “Dependo de conversa com ela para saber. Não tenho nenhuma testemunha presencial. Ela está meio inconsciente, se tratando, sedada.”
Estelionato
De acordo com a investigação, Mary se identificava como corretora de imóveis, mas não possui registro no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci). Além disso, a mulher é investigada pela Polícia Civil por suspeita de estelionato e apropriação indébita porque estaria se passando por corretora e usando o nome de uma imobiliária de “fachada” para enganar pessoas que queriam comprar imóveis. Há a suspeita que ela tenha conseguido R$ 214 mil em golpes.
Segundo o delegado, a mãe respondeu também por maus-tratos. O policial, porém, não soube informar se a acusação era de que teria maltratado as filhas. Segundo a investigação, a mãe era rigorosa com as filhas, chegando ao ponto de pregar um papel na geladeira com tarefas das meninas e punições caso não as cumprisse. As filhas relatavam nas redes sociais divergências com a mãe.
Reprodução Cidade News Itaú
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