Não foi preciso perguntar quem iria apagar a luz. "Eu acendi, eu apago. Pode vir para mim essa 'responsa'."
Assim Astrid Fontenelle, ex-VJ da MTV Brasil, se ofereceu parar apresentar o último clipe a ser exibido pela emissora em sinal aberto, no próximo dia 30 de setembro.
Foi Astrid, hoje no GNT ("Saia Justa", "Chegadas e Partidas"), quem apresentou o clipe de estreia do canal, em 20 de outubro de 1990 -Marina Lima interpretando "Garota de Ipanema" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).
A oferta de Astrid foi feita ao diretor de conteúdo e programação da MTV Brasil, Zico Goes, quando ele a convidou para gravar o "My MTV", série de retrospectivas com ex-VJs que dará "uma cara 'vintage'" à etapa final das transmissões da emissora, como diz Goes.
A MTV sairá do ar em sinal aberto porque o grupo Abril, que licenciava a marca de sua proprietária, a americana Viacom, optou por não renovar o contrato, já que a operação era deficitária.
A Viacom assumiu o controle da MTV Brasil e planeja relançá-la na TV por assinatura, no dia 1º de outubro.
Para o "My MTV", que deve estrear no próximo dia 19, Goes diz que convidou "ex-VJs literalmente de A, de Astrid, a Z, de Zeca Camargo".
Zeca deixou o posto de editor-assistente da Folha "Ilustrada" em 1990, para comandar o jornalismo da MTV Brasil. "Era uma oferta irrecusável -um canal que só ia falar de música, um assunto que eu adorava", diz ele.
Atual apresentador do "Fantástico" (Globo), Zeca vê o início da MTV Brasil como "a época da inocência", em que "a possibilidade de arriscar era fascinante".
A chance do risco era dada pela combinação "audiência pequena e muito barulho", que marcava a emissora. "O que dava certo a gente repetia. O que não dava, a gente deixava de lado", afirma.
Um território "muito livre" em que "você tem um chefe mais ousado do que você e por isso pode pirar", diz Marina Person, que trabalhou na MTV de 1993 a 2011, definindo sua experiência no canal.
Ao gravar o "My MTV", Marina afirma ter se emocionou em dois momentos, mas acha que conseguiu evitar a pieguice. "Deu aquele marejar nos olhos, mas não chorei. A gente tira sarro da própria emoção, da cafonice."
Embora se emocione nos bastidores das gravações, Goes não quer que as lágrimas deem o tom da despedida da MTV Brasil.
"Não pode ser triste, para baixo. É só um sinal dos tempos", diz ele. "Essa MTV não cabe mais. Os tempos mudaram. Vamos celebrar o fato de a gente ter estado num lugar como esse e produzido tantas coisas legais."
Para Didi Wagner, que ficou de 2000 a 2005 no vídeo na MTV e hoje está no Multishow, evitar o "chororô" não foi difícil. "Não consigo olhar isso como a morte da MTV. Ela vai continuar, só não do jeito que eu conheci", afirma.
Sarah Oliveira, que começou a trabalhar na MTV aos 20 anos, em 1999, e saiu de lá em 2005, diz que foi "muito emocionante" se ver "piveta" nas imagens de arquivo.
"Fiquei feliz que a MTV esteja indo para canal fechado. Sou de canal fechado [GNT]. A gente tinha que fazer um apelo para a Sky e a Net serem mais baratas, para a molecada poder assinar", diz.
A expansão da TV por assinatura no Brasil é um dos sinais do tempo a que Goes se refere. Assim como a crescente importância da internet e a concomitante irrelevância do clipe para a TV.
Nesse cenário, os antigos VJs foram deixando a MTV, em busca de novos caminhos e mais remuneração.
"A política da casa com os artistas não era viável. Eles tratavam a gente que nem lixo, para a gente não ficar metido. Eu fiquei oito anos com o mesmo salário", diz João Gordo, que trabalhou na MTV de 1996 a 2009.
Em tempo: Goes ainda não definiu qual será o último clipe da MTV Brasil. mas Astrid tem uma certeza: "Tem que ser uma coisa festiva!"
Reprodução Cidade News Itaú
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