A noite do dia 23 de junho de 2005 ficou marcada por uma ação trágica que resultou na morte do então prefeito do município de Grossos, João Dehon, e do motorista dele. Passados oito anos do ocorrido, os seis policiais indiciados pelo crime ainda não sentaram no banco dos réus.
Para o Ministério Público do Rio Grande do Norte, a previsão é de que o julgamento do caso aconteça ainda neste ano. A expectativa do promotor Cláudio Alexandre de Melo Onofre, da comarca de São Paulo do Potengi, é que o júri popular aconteça até o final de 2013. “O processo está pronto para ser julgado”, afirma.
Segundo Cláudio Onofre, o caso deve ser colocado na pauta de julgamentos do Tribunal de Justiça do Estado logo após o TJRN se manifestar acerca do pedido de desaforamento solicitado por ele. “Depois que a Justiça se posicionar sobre a mudança do local do júri, deverá ser marcada a data do julgamento.”
O promotor explica que o pedido de desaforamento é um procedimento legal que foi adotado como uma medida preventiva. “Verifiquei a necessidade de transferir o júri de São do Potengi para Natal com o fim de neutralizar uma possível influência sobre os jurados”, esclarece.
Para Cláudio Onofre, existe a preocupação de que as pessoas que venham a compor o júri local sejam vítimas do corporativismo policial, visto que os indiciados pelo crime integram a corporação. Ele acredita que a realização de julgamento em Natal seja mais propício para um júri mais técnico. “Aqui (São Paulo do Potengi) há uma grande possibilidade de absolver. Acho mais fácil ter justiça lá (Natal).”
Abordagem foi flagrada por câmera
Trechos da ação policial que matou o prefeito João Dehon e o motorista, em Santa Maria, foram gravados por uma câmera de vigilância de um posto de combustíveis. As imagens mostram o momento dos disparos da Polícia, a colisão do carro das vítimas, desgovernado, e o socorro de sobreviventes.
Informações divulgadas na época do ocorrido dão conta de que no vídeo é possível perceber o exato momento da rápida abordagem policial. Dois clarões no escuro mostrariam os disparos feitos pelos policiais e, em seguida, dois funcionários do posto correndo para se proteger do tiroteio.
Ainda segundo relatos da época, em poucos segundos, a Toyota Hilux do prefeito cruzou a BR-304, derrubando duas cercas de uma fazenda e batendo violentamente contra o muro da gerência do posto.
Logo após, uma viatura, que não estava na ocorrência mas passava coincidentemente no local, se aproxima das vítimas. Em seguida, chega a viatura com os policiais envolvidos na abordagem.
A partir daí, o veículo das vítimas teria ficado em um ponto fora do alcance da câmera. A Polícia divulgou na época que tanto o prefeito quanto o motorista foram socorridos ainda no local.
Por justiça e contra a impunidade
De acordo com o promotor Cláudio Onofre, diante da repercussão do caso, a sociedade precisa de uma resposta. “Foi uma verdadeira aberração. Imagens de câmeras de segurança que flagraram a ação demonstram o excesso por parte da Polícia”, avalia ele, chamando a atenção para a grande quantidade de disparos efetuados.
Informações acerca do processo disponibilizadas no site do TJRN dão conta de que a ação penal de competência do júri se qualifica como homicídio qualificado. As partes do processo alistadas trazem seis indiciados: João Maria Xavier Gonçalves, João Feitosa Neto, Gildival Fernandes de Oliveira, José Wellington de Souza, Newton Brasil de Araújo Júnior e Railson Sérgio Dantas da Silva.
Para a irmã de João Dehon, Melânia da Costa, a sensação de impunidade aumenta o sentimento de revolta. “Estamos indignados. Não nos conformamos com a impunidade. Já esperamos tempo demais”, desabafou ela, lembrando que no final de 2012 foi lançada uma biografia sobre a história de João Dehon.
Conforme Melânia, a obra “Trajetória Política de um Jovem Líder” foi uma forma de não deixar a morte do irmão cair no esquecimento. Além do livro, a morte de João Dehon também resultou na fundação da “Associação de Educação e Cultura Amigos de Dehom Caenga”.
Reprodução Cidade News Itaú
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