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segunda-feira, agosto 05, 2013

Depoimentos mostram troca de ameaças entre advogado e acusados da morte dele

A comissão de delegados da Polícia Civil que investigou a morte do advogado Antônio Carlos de Souza Oliveira contestou as declarações dadas ao Portal BO pelo sargento PM Carlos, conhecido como “Federal”, que alegou inocência no caso. O policial chegou a dizer que era amigo pessoal do advogado e não tinha motivos para vê-lo morto.

No entanto, de acordo com a comissão, composta pelos delegados Raimundo Rolim, Roberto Andrade e Karla Viviane, as investigações revelaram que, nos últimos meses que antecederam o assassinato de Antônio Carlos, não havia relação de amizade entre o sargento PM e o advogado. “Havia sim, uma relação conflituosa e de intensas ameaças”, informa os delegados.

O próprio sargento Carlos declarou em depoimento audiovisual várias ameaças proferidas pelo advogado, conforme consta no Relatório Final do inquérito. Ele disse que o advogado Antônio Carlos lhe telefonou e marcou para se encontrar no Cartório de Registro de Imóveis em São Gonçalo do Amarante, onde o advogado apresentou uma escritura pública, datado de 2007, dizendo que a imobiliária lhe vendeu alguns lotes.

Nessa ocasião, o Sargento Carlos teria explicado que havia outro documento do terreno datado de 1995 e os proprietários estavam entrando com um processo de usucapião e que aquela imobiliária havia falido, ocasião em que Antônio Carlos disse para o sargento: “Saia disso aí e me ajude que quando eu terminar, o cara vai me dar quatro lotes, para eu tomar essas terras, aí eu lhe dou um lote”. Diante do exposto, o sargento Carlos teria dito: “Doutor, isso não é da minha índole e eu não aceito porque o velho tem direito ao usucapião”.

Segundo o sargento Carlos, depois de alguns dias, o advogado Antônio Carlos retornou ao terreno e ameaçou o Irmão Marcos para que parasse de construir o muro e que se continuasse: “Vou passar por cima de tudinho e quem se meter a besta comigo, eu meto fogo em tudinho”.

Foto: Sérgio Costa / Portal BO
Sargento PM Carlos está preso acusado de articular a morte do advogado
 
Logo em seguida, o sargento Carlos revela que Expedito José dos Santos, apontado como mandante do crime, telefonou para o advogado e disse: “Eu comprei aqui, estou gastando e vou continuar construindo”, ocasião em que o advogado Antônio Carlos teria dito: “se você não parar eu vou lhe derrubar”.

Assim começou as ameaças entre Expedito e o advogado Antônio Carlos por telefone. Posteriormente, Expedito José teria telefonado para o sargento Carlos e dito: “O homem está botando um pessoal atrás de mim e rondando minha casa direto”. O sargento relatou também que os trabalhadores na construção do muro começaram a perceber que uma Range Rover começou a circular nas proximidades do terreno com quatro homens armados, inclusive o advogado Antônio Carlos sempre aparecia bebendo na Range Rover e em certa ocasião parou próximo ao muro e disse para os trabalhadores: “Eu vou derrubar! E quem se meter eu mato até os pintos”.

O sargento Carlos revelou que o único encontro pessoal com o advogado Antônio Carlos aconteceu no cartório, perante os proprietários, inclusive o advogado Antônio Carlos queria agredir o velho (João do Táxi) e como o sargento Carlos percebeu que o velho estava armado, mandou que o mesmo se afastasse, ocasião em que Antônio Carlos disse: “Ele está pensando o que? Eu vou matar ele agora”. Nesse momento, o sargento Carlos deixou o advogado Antônio Carlos no Cartório e saiu para mandar João do Táxi ir embora.

Quando o Sargento Carlos retornou para o Cartório, o advogado Antônio Carlos disse: “Eu estou conseguindo quatro lotes e vou lhe dar um. E saia daqui.”, tendo o sargento Carlos dito que: “O pessoal já deu entrada no usucapião e eu já orientei o pessoal, inclusive para procurar a Justiça e como o senhor está ameaçando, eu orientei a procurar a Justiça, a Corregedoria, a OAB e tudinho”, foi quando o advogado Antônio Carlos se alterou novamente e disse: “Se eu souber quem dar parte de mim e procurar, eu mando matar tudinho”.

Nesse momento, o sargento Carlos disse: “Doutor, dê licença, eu gosto muito do senhor, mas o senhor tá mandando eu sair, e eu não gosto de nada errado não, então me dê licença”, e foi embora. Segundo o sargento Carlos, a partir desse episódio começou o atrito entre o advogado Antônio Carlos e Expedito José, por conta da construção do muro, pois sempre o Advogado Antônio Carlos passava pela obra e ameaçava os trabalhadores e fazia ameaças por telefone.

Terreno que teria motivado a briga e a morte do advogado Antônio Carlos

Ainda de acordo com o depoimento, Expedito José teria procurado o sargento e lhe contado que advogado teria dito pra ele: “Eu vou mostrar pra você que vou derrubar o muro e quem tiver na frente eu vou matar tudinho. Mato até os pintos dentro de casa”. Conforme o depoimento do sargento Carlos, os dois vigias que tomavam conta do terreno relataram que em uma determinada noite, por volta das 23h, chegaram duas caminhonetes cheias de homens na área do terreno e começaram a derrubar o muro, enquanto o advogado Antônio Carlos ficava bebendo cervejas e efetuando disparos de arma de fogo para o alto e dizendo: “Ei, apareça! Apareça!”.

Logo em seguida, os dois vigias correram com medo e teriam telefonado para Expedito e avisado que estavam derrubando o muro. Segundo o sargento Carlos, foi a partir desse fato que os dois (Expedito e o advogado Antônio Carlos) começaram a trocar ameaças por 
telefone.

Relatou ainda o sargento Carlos que depois que o muro foi derrubado, o advogado Antônio Carlos teria lhe telefonado e dito o seguinte: “Eu não disse a você que derrubava. Agora diga a esses seus coleguinhas aí que venham atrás de mim. Onde quiser me pegar vai morrer tudinho na bala e eu vou atrás de todo mundo”. Nesse momento, o sargento teria dito: “Doutor, não é assim não. Doutor, dê licença”.

O acusado Expedito José dos Santos declarou no seu primeiro depoimento, em 19 de maio de 2013, que ligou para outro número de Antônio Carlos e disse: “olha eu vou botar você na Justiça e você vai pagar caro”, tendo o advogado respondido: “você pode até colocar na Justiça, mas não vai dar tempo nem de comemorar, quer meu nome completo?”, tendo Antônio Carlos desligado telefone.

No dia seguinte, o sargento Carlos esteve com Expedito, que relatou que Antônio Carlos tinha ligado e ficou chateado dizendo que iria prestar queixa dele. Ainda nesse depoimento, Expedito disse que iria entrar na justiça para reaver o prejuízo causado por Antônio Carlos, avaliado em torno de R$ 40 mil, mas o sargento Carlos disse ao interrogado para não entrar na justiça e que ele iria resolver, pois tinha sido ameaçado pelo advogado.

“Não bote não, pois ele sabe como eu sou, sabe como eu trabalho, pois eu já fiz um trabalho para ele”, teria dito o sargento Carlos. Em outra oportunidade, Expedito teria novamente procurado o sargento Carlos dizendo que mais uma vez que iria acionar a justiça e o policial disse que não entrasse na justiça, pois já existiam “pessoas na cola de Antônio Carlos, acompanhando o mesmo”. 

Delegados que comandaram o inquérito, durante apresentação dos resultados da investigação

De acordo com os delegados da comissão, os depoimentos mostram que havia um claro conflito de interesses que resultou na morte do advogado Antônio Carlos e que ele não tinha amizade com o sargento Carlos. “Se o Sargento PM Carlos era amigo do advogado por que não foi no local do crime na noite do assassinato? Pois estava de serviço naquela noite na cidade de Macaíba, coincidentemente a rota de fuga usada por Expedito, Lukinha e Irmão Marcos, logo após terem cometido o assassinato”, questiona o delegado Raimundo Rolim.

Ele indaga ainda: “Se eram amigos, por que o sargento Carlos não foi ao velório e ao enterro prestar solidariedade à família do advogado? Por que o sargento não colaborou com as investigações logo após o crime, tendo em vista que conhecia todos os envolvidos no assassinato e poderia indicar o paradeiro dos mesmos. Por que somente procurou a polícia depois que Expedito e Lukinha foram presos e indicaram seu nome como partícipe do homicídio? Essas e outras perguntas aguardam as devidas respostas na Instrução Criminal ou talvez no Tribunal do Juri”.

Reprodução Cidade News Itaú

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