O maquinista e o auxiliar do trem que se envolveu em um acidente com um ônibus na semana passada em Natal revelaram que as ultrapassagens irregulares de veículos de transporte coletivo já aconteciam com frequência na linha férrea que cruza a avenida Bernardo Vieira. O cruzamento foi palco da colisão entre um veículo da empresa Reunidas e a locomotiva, batida que matou um adolescente de 14 anos e deixou dezenas de feridos na última quarta-feira (10). Os dois funcionários que estavam no trem, além do operador de cancela da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), prestaram depoimentos nesta segunda-feira (15) na Delegacia Especializada de Acidentes de Veículos (DEAV).
Titular da DEAV, o delegado Sérgio Leocádio conta que os repetitivos avanços sobre a linha férrea foram confirmados tanto pelo maquinista, quanto pelo auxiliar. "Os dois disseram que as ultrapassagens são comuns, sobretudo por parte da empresa de 'branco', que é a Reunidas. O motorista e o auxiliar afirmam que já fizeram várias ligações para as empresas reclamando das ultrapassagens", ressalta Leocádio. Os avanços são facilitados pelo fato de a cancela só estar presente apenas no lado dos veículos leves. Na faixa exclusiva de ônibus o espaço é aberto.
Sobre os procedimentos adotados antes e depois da colisão, os funcionários informaram que são padrão. "Todos são unânimes em dizer que a cancela e os equipamentos de sinalização existentes estavam funcionando, a velocidade da locomotiva estava baixa e as buzinas do trem foram acionadas", diz o delegado. De acordo com Sérgio Leocárdio, o maquinista continuou o trajeto até a próxima estação após o acidente, seguindo o que rege o Regulamento Geral de Operações (RGO) da CBTU. "Na estação seguinte, eles passam o serviço para outros funcionários e vão embora", acrescenta.
O maquinista disse ainda que só conseguiu ver o ônibus quando o veículo já avançava sobre a linha férrea. "Ele afirmou que uma árvore localizada no canteiro central da avenida atrapalhou a visibilidade. De acordo com o maquinista, o motorista do ônibus acelerou para evitar a batida. Os freios do trem foram acionados, mas não foi possível evitar o acidente", conclui o delegado.
Além dos funcionários da CBTU e da empresa Reunidas que trabalhavam os veículos envolvidos na colisão, já foram ouvidas 12 vítimas que estavam dentro do ônibus. Motoristas de veículos leves que aguardavam a passagem da locomotiva na hora do aceidente também prestaram depoimentos. O delegado também recebeu oficialmente as imagens da batida registradas pela Prefeitura de Natal (o vídeo ao lado mostra o momento extato da colisão).
Falta de estrutura em linha férrea
Uma equipe da DEAV esteve no local do acidente ainda na semana passada e constatou as falhas estruturais no cruzamento da avenida Bernardo Vieira com a linha férrea. “Fomos ao local nas horas que o trem passava. Apenas o som da locomotiva podia ser ouvido. A sonorização não existia. Constatamos também que não há sinalização horizontal com avisos no trecho e a cancela só está presente no lado dos veículos leves”, informou o delegado Sérgio Leocádio.
As informações colhidas no local foram compiladas na Recognação Visuográfica assinada por três policiais da delegacia e concluída nesta segunda. "Os funcionários da CBTU afirmaram a sinalização é de responsabilidade do município e que como a prefeitura não cumpre o papel, a companhia de trens assume", diz. Com isso, o delegado também convocará representantes da prefeitura e da CBTU para prestar esclarecimentos.
"Temos bem posicionada a dinâmica do acidente. O que falta é aferir as responsabilidades", encerra o delegado.
Reprodução Cidade News Itaú
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