Terminou às 15h40 desta quarta-feira (24) o velório do músico Dominguinhos, que acontecia na Assembleia Legislativa de São Paulo, na Zona Sul da cidade, desde a madrugada. O corpo seguirá para o Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, de onde será levado para o Recife em um voo às 23h10. Nesta quinta-feira (25), o corpo será velado na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco e deverá ser enterrado na sexta-feira (26).
Durante o velório, um representante do Grammy Latino entregou à família do músico o prêmio ganho na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras” em 2012 pelo CD “O Iluminado”. Os responsáveis pelo prêmio aguardavam a saída do músico do hospital para entregar o troféu, por isso decidiram prestar a homenagem durante a cerimônia.
O artista morreu nesta terça-feira (23), aos 72 anos, no Hospital Sírio-Libanês. Ele lutava havia seis anos contra um câncer de pulmão. De acordo com o hospital, o músico morreu às 18h em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas.
Ao longo do tratamento, ele desenvolveu insuficiência ventricular, arritmia cardíaca e diabetes. Dominguinhos foi transferido para a capital paulista em 13 de janeiro. Antes, esteve internado por um mês em um hospital no Recife.
Coberto de amor
A ex-mulher do músico, Guadalupe Mendonça, afirma ter acompanhado os últimos momentos de Dominguinhos no hospital. Ela conta ter agradecido a ele pela companhia. “Ele foi coberto de muito amor. Ele estava indo e eu dizendo: 'A gente te ama muito. Eu, a Liv (filha), o Luca, que é o nosso neto, e o povo todo te ama muito. Então vai em paz'. Assim, sua obra, sua genialidade e sua generosidade vão ficar perpetuadas na sua música”, disse.
Ainda segundo ela, quando a doença foi diagnosticada, os médicos deram uma expectativa de vida de 6 a 8 meses. Dominguinhos resistiu por quase sete anos “muito felizes”, segundo Guadalupe.
“Fiz muitas loucuras dentro da UTI. Sempre tinha música dele lá dentro", conta ela, que levava um aparelho de som para tocar músicas dele e de artistas que Dominguinhos gostava, como Frank Sinatra. “O gosto musical dele era muito sofisticado”, disse a ex-esposa.
Mauro José Silva de Moraes, filho de Dominguinhos, disse que o pai era uma pessoa muito humilde e com uma grande musicalidade. "Na área dele, acho que era o último dos moicanos. Acho que vai ser difícil encontrar um igual a ele, a musicalidade que ele tinha, tocava de ouvido, era uma coisa impressionante".
O baixista Heraldo Trajano, que tocou com Dominguinhos durante 20 anos, considera a morte do músico uma perda muito grande. "Ele sempre tinha uma carta na manga com o talento que ele tinha e sabedoria musical", disse. Segundo Trajano, Dominguinhos já apresentava sinais de que não estava bem durante o último show, no dia 13 de dezembro.
"Ele colocou a mão no meu ombro e disse: 'Hoje não estou legal'. O show era para ter uma hora e meia e acabou tendo 45 minutos no máximo". Segundo o baixista, as músicas que Dominguinhos mais gostava de tocar eram "Lamento sertanejo", "De volta pro meu aconchego", "Só quero xodó" e "Retrato da vida".
O cantor e compositor Frank Aguiar, vice-prefeito de São Bernardo do Campo, também compareceu ao velório e disse que aprendeu muito com Dominguinhos, que influenciou sua carreira. "A música brasileira hoje está de luto. Dominguinhos sem dúvida alguma foi, é e sempre será um dos maiores patrimônios da música brasileira", afirmou.
Biografia
Considerado o sanfoneiro mais importante do país e herdeiro artístico de Luiz Gonzaga (1912-1989), José Domingos de Morais nasceu em Garanhuns, no agreste de Pernambuco. Conheceu Luiz Gonzaga com 8 anos. Aos 13 anos, morando no Rio, ganhou a primeira sanfona do Rei do Baião, que três anos mais tarde o consagrou como herdeiro artístico.
Instrumentista, cantor e compositor, Dominguinhos ganhou em 2002 o Grammy Latino com o “CD Chegando de Mansinho”. Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia e Djavan.
Ainda criança, Dominguinhos tocava triângulo com seus irmãos no trio “Os três pinguins”. Quando ele tinha 8 anos, foi “descoberto” por Gonzagão ao participar de um show em Garanhuns. A “benção” lhe foi dada pelo rei do baião quanto tinha 16 anos.
“Gonzaga estava divulgando para a imprensa o disco 'Forró no Escuro' quando ele me apresentou como seu herdeiro artístico aos repórteres”, lembrou-se Dominguinhos em entrevista ao G1 no fim de 2012. “Foi uma surpresa muito grande, não esperava mesmo.”
De acordo com ele, o episódio aconteceu somente três anos depois de sua chegada ao Rio, acompanhado do pai, o também sanfoneiro Chicão. Mudaram-se para a cidade justamente para encontrar Luiz Gonzaga. “Em cinco minutos, ele me deu uma sanfona novinha, sem eu pedir nada”, prosseguiu. Naquele período, Dominguinhos saiu em turnê com o mestre para cumprir a função de segundo sanfoneiro e, eventualmente, de motorista.
Reprodução Cidade News Itaú
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!