A família do menino boliviano Brayan Yanarico Capcha, 5, foi assaltada quatro vezes nos seis meses em que morou no Brasil. A informação é de Paulo Illes, coordenador de políticas para migrantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos.
Na última vez, em 28 de junho, Brayan foi morto com um tiro na cabeça, porque chorava abraçado à mãe durante assalto à casa da família, em São Mateus, no extremo leste de São Paulo.
Cerca de 200 pessoas participaram de protesto pela morte do menino ontem, na praça da Sé, em São Paulo.
Imigrantes bolivianos se tornaram alvo de assaltos na cidade. Desde dezembro, seis bolivianos foram mortos em assaltos na capital paulista, segundo Illes. Entidades calculam que quatro casas coletivas de imigrantes, semelhantes à em que viviam os pais de Brayan, foram assaltadas só no mês de junho.
Ladrões sabem que a maioria dos bolivianos não tem documentos, por isso não abrem conta em banco e guardam em casa o dinheiro obtido nas oficinas de costura.
Muitos são trazidos da Bolívia para cá por agenciadores e trabalham nas oficinas de costura em regime análogo à escravidão, em que a pessoa é submetida a condições degradantes.
O imigrante boliviano Jeremias Apaza, 20, é um deles. Ele guarda todo seu dinheiro em casa. Trabalha das 8h às 20h em uma oficina de costura e ganha cerca de R$ 950 por mês. Manda quase R$ 500 mensalmente para parentes que estão na Bolívia.
"Eu só tenho o documento de residência provisório, não consigo abrir conta no banco", diz Apaza, que está há dois anos no Brasil e mora com sete pessoas em uma casa coletiva no Jardim Japão, zona norte paulistana.
Pelo acordo de residência de Bolívia, Chile e países do Mercosul, os imigrantes podem viver e trabalhar aqui durante dois anos, depois de obter seu protocolo de residência (documento provisório) na Polícia Federal.
Depois de dois anos, podem pedir o documento permanente, o RNE. "Mas para tirar o RNE, precisam comprovar emprego regular e renda, e como a maioria trabalha no setor informal, não consegue", diz o defensor público federal João Chaves.
SEM DIREITOS
Em tese, com o protocolo temporário de residência, os imigrantes teriam direito a abrir conta, mas muitos bancos ficam reticentes e não permitem que estrangeiros sejam correntistas.
Segundo o coordenador de políticas para migrantes Illes, calcula-se que entre 100 mil e 200 mil bolivianos vivam na cidade, apenas 60 mil legalizados. É a segunda maior comunidade, atrás apenas dos portugueses, e superior a chineses e peruanos.
No ano passado, foram 20 denúncias de assaltos a casas de bolivianos. "Mas sabemos que o número é bem superior, porque a maioria não denuncia", diz Illes.
Antonio Tadeu, delegado titular da delegacia do Brás, não notou aumento nas notificações, mas ressalva que a maioria não dá queixa. "Primeiro, as colônias chinesa e coreana eram o maior alvo, agora os assaltantes estão mirando latinos também."
"A coisa mais normal do mundo é roubarem casas de bolivianos", diz Hugo Choque, que trabalha em um barbeiro oferecendo serviços para conserto de computadores.
"Todos os que eu conheço já foram assaltados. Eu já fui roubado quatro vezes, mas nunca dei queixa", diz o boliviano, que mora há seis anos no Brasil.
Os bolivianos não dão queixa, diz Juan Ventura Flores, do conselho internacional de bolivianos no exterior.
"Conheço muita gente que teve a casa roubada, R$ 5.000, R$ 10 mil, e não dá queixa porque tem medo."
Reprodução Cidade News Itaú
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