Estar diariamente na mídia nacional é, sem sobra de dúvidas, visibilidade garantida. O Rio Grande do Norte, através das belíssimas imagens exibidas na novela Flor do Caribe, produzida pela Rede Globo de Televisão, vem sendo incluído no roteiro de turistas que não planejavam conhecer o Nordeste brasileiro. Entretanto, as belezas do RN ainda não expressaram resultados significativos para alavancar o turismo potiguar. Segundo profissionais que trabalham neste setor, o poder público está desperdiçando o efeito da mídia espontânea, sem investir na qualidade dos serviços para garantir o retorno dos turistas.
O JORNAL DE HOJE fez o trajeto de Natal à Praia de Genipabu, localizada no município de Extremoz, onde boa parte da novela está sendo gravada. No caminho, os primeiros problemas – que não aparecem na trama – são identificados na única avenida que dá acesso a praia, a avenida Moema Tinôco. Conhecida pelos inúmeros buracos que causam prejuízo aos motoristas, a Moema Tinôco chega a ficar intransitável em dias de chuva, quando se formam pontos de alagamentos em diversos trechos.
Para chegar até à praia, motoristas e bugueiros precisam recorrer aos desvios. Para quem trabalha e mora na região, até fica mais fácil de chegar ao destino final. Mas o turista que faz uso do carro de aluguel, por exemplo, tem que pedir informações ao longo do caminho, já que nem placas de sinalização são observadas. O auxiliar de turismo Murilo Sérgio Matias disse à reportagem que todos os turistas que passam por ele reclamam das condições de mobilidade.
“Trabalho há oito anos nesse segmento e posso dizer que as reclamações dessa via sempre foram comuns. Entretanto, a exibição da novela, que deveria nos dar um retorno muito bom, acabou nos deixando acanhados com a situação, pois os turistas chegam aqui com um ar de cobrança. Eles querem ver aquilo que é exibido”, disse. “Desde o começo da novela, todos os turistas que passaram por mim vieram com reclamações”.
Murilo afirmou que não sabe como é a reputação do RN em outros locais do país. Porém, acredita que “quem vem, sai reclamando”. “Imagina a situação das pessoas que alugam carro e não sabem que irão encontrar esses problemas de mobilidade, pois não conhecem a região. Já vi muitos carros de locadora quebrados. É um prejuízo e uma revolta sem tamanho”, declarou o auxiliar de turismo.
Já na Praia de Genipabu, o bugueiro Hudson Felipe aponta outros problemas que também não são mostrados na novela. A falta de policiamento e estacionamento público são uns deles. “Mas o pior de tudo, em minha opinião, é não termos banheiros públicos para atender os banhistas. São apenas dois para toda essa região, que muitas vezes nem água tem”, disse, indignado. “Como é que o governo quer atrair turistas se não têm nem estrutura mínima para recebê-los?”, questionou.
A falta de caixas eletrônicos também se configura em um problema grave, segundo Hudson. “Hoje em dia é difícil as pessoas andarem com muito dinheiro na carteira. A maioria dos turistas vem para cá apenas com cartão. Para sacar dinheiro precisam ir à Natal”, disse.
Com todas essas situações, aquilo que por si só já é caro acaba pesando ainda mais no bolso do turista. Um passeio de buggy, por exemplo, pode variar de R$ 240 a R$ 4 mil. “Fora o custo da diversão, tem alimentação. Sem o dinheiro, como o turista irá aproveitar à vontade?”.
O casal alemão que reside no Rio Grande do Sul, Isabel e Caurt Vonmulthlen, nunca tinha vindo ao Nordeste. Apesar de aprovarem a receptividade dos potiguares, eles disseram que a cidade de Natal, onde estão hospedados, aparentou ser uma cidade suja.
“Tinha uma ideia de Natal ser mais bonita, limpa. Porém, estou impressionada com aspecto de abandono, de uma cidade velha. E essa mesma impressão eu estou tendo aqui em Genipabu. A praia é a mesma coisa em qualquer lugar do país, mas as condições de infraestrutura não. Precisei ir ao banheiro antes de fazer o passeio de buggy, mas não tive coragem”, afirmou Isabel.
Emprotur reconhece dificuldades
A Empresa Potiguar de Promoção Turística (Emprotur) reconheceu as dificuldades de um incentivo maior do Estado em infraestrutura e em campanhas associadas à novela Flor do Caribe. Porém, Sandro Pacheco, presidente do órgão, acredita que o trabalho junto aos operadores de turismo em feiras e workshops pode estar desempenhando um papel importante para o trade turístico potiguar.
“Seria importante termos campanhas nacionais de veiculação, aproveitando esse presente de belas imagens do nosso Estado em alta qualidade e em horário nobre da Globo. Porém, não podemos ficar só nisso. Temos que investir naquilo que não aparece na TV. Do que adianta o turista vir ao nosso Estado e não querer mais voltar?”, explicou Sandro.
Reprodução Cidade News Itaú
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