Os parentes do pedreiro Amarildo de Souza, 42, que desapareceu na favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, tiveram o "pior dia da vida" na noite desta terça-feira (30), com a notícia de que o corpo encontrado por policiais militares em um valão na comunidade não era de Amarildo, mas, sim, de uma mulher.
"Foi o pior dia das nossas vidas", afirmou a sobrinha do pedreiro, Michele Lacerda, em entrevista à rádio "CBN". A informação de que o corpo localizado na Rocinha era, na verdade, de uma moradora da favela foi confirmada pelo IML (Instituto Médico-Legal).
O corpo estava em avançado estado de decomposição, o que dificultou a identificação imediata e acabou gerando ainda mais expectativa por parte da família de Amarildo --que está desaparecido desde o dia 14 de julho.
O morador da Rocinha desapareceu depois de ser levado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade. Quatro dias depois, os agentes supostamente envolvidos foram afastados de suas funções operacionais pelo comando da UPP. Os nomes não foram divulgados.
Na versão da família, o pedreiro foi abordado pelos PMs da porta de casa e, depois, os policiais disseram que ele foi liberado porque tinha sido confundido com alguém. "Ninguém sabe por que ele foi levado. Ele estava na porta de casa", afirmou a mulher da suposta vítima, Elizabete Gomes da Silva. Amarildo tinha acabado de chegar de uma pescaria.
Elizabete disse ainda ter certeza de que não voltará a ver o marido com vida. "Não acredito que ele está com vida mais. Já procuramos em tudo o que é lugar e não tivemos resposta de nada. Tenho certeza de que meu marido está morto", declarou.
O caso está sendo acompanhado pela Defensoria Pública do Estado. De acordo com o defensor-geral, Nilson Bruno, caberá indenização aos parentes de Amarildo se for constatada a responsabilidade da polícia. "Mas ainda estamos no processo de elucidação do caso. Trabalha-se, em princípio, com o desaparecimento", disse.
Família rejeita oferta de proteção
A família de Amarildo de Souza declarou à imprensa ter rejeitado a oferta do governo do Estado, feita na última quarta-feira (24), de inclusão no programa de proteção à testemunha. Caso tivessem aceitado o convite da Secretaria Estadual de Direitos Humanos, os parentes do pedreiro teriam que sair da favela da Rocinha.
Segundo Elizabete, a família se sente protegida "pelos amigos" e "pela comunidade", já que o caso ganhou repercussão midiática, em especial depois que o caso Amarildo passou a integrar a pauta de reivindicações dos diversos grupos que protagonizaram a onde de protestos pela cidade.
Elizabete chegou a participar de uma reunião com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e, na ocasião, disse que temia ser vítima de uma tentativa de homicídio. Inicialmente, ela chegou a sinalizar positivamente em relação à inclusão no programa de proteção, mas depois voltou atrás.
O rosto de Amarildo se tornou imagem constante nas manifestações contra o governo do Estado. Em face da repercussão do desaparecimento do pedreiro, ativistas criaram uma campanha chamada "Cadê o Amarildo?", que gerou protestos até mesmo durante a visita do papa à capital fluminense.
Reprodução Cidade News Itaú
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