Um “cemitério” de embarcações velhas descartadas por proprietários vem poluindo o lago do Tarumã, no bairro de mesmo nome, Zona Oeste de Manaus, e preocupando banhistas e frequentadores do local, tudo dentro do perímetro da Área de Preservação Ambiental (APA) do Tarumã
Sem condições de uso, mais de 20 lanchas, jet-bolts e jet-skis foram abandonadas em um igapó localizado próximo de duas oficinas náuticas, que funcionam sem licença ambiental. Com folhas e galhos caídos e parcialmente submersas, as embarcações mais parecem escondidas em meio aos igapós, tranformando o local em um “ferro velho” aquático. Algumas aparentam terem sido deixadas no local há pouco tempo, enquanto de outas só resta a “carcaça”.
O proprietário de uma das oficinas náuticas irregulares, Adriano Alves, 32, confirma que as embarcações costumam ser abandonadas pelos proprietários por serem ultrapassadas e porque o custo da manunteção é muito alto. “Eles preferem comprar uma nova”, alegou.
De acordo Adriano, as embarcações ficam sob responsabilidade dele depois que os donos as abandonam. Ele conta que não sabe o que fazer com elas e nem para onde levar os “restos” de lanchas e jet-skis, por isso, algumas estão lá há mais de seis anos.
“Eu sei que estou errado deixando os jet-skis no rio, mas tento diminuir ao máximo o impacto (ambiental), deixando somente a estrutura de fibra e retirando o motor”, justificou.
Mas o ‘cemitério’ de embarcações está longe de ser o único problema de impacto ambiental do lago Tarumã. Outra prática também ameaça o meio ambiente, segundo o mecânico náutico Eli Bezerra Tavares, 35, dono de uma oficina de estofamento de jet skis e lanchas: o derramamento de óleo e outros dejetos de lanchas no rio, durante a lavagem das embarcações. Segundo ele, o crime ambiental é comum, diante da falta de fiscalização. Ele também afirma que a maioria dos flutuantes não têm licença ambiental para funcionar.
As irregularidades preocupam os adeptos de esportes aquáticos, como o Stand Up Paddle (SUP), como o profissional de Marketing José Campos, 26. Ele, que pratica SUP no lago Tarumã, mostrou-se preocupado com a poluição provocada pelo abandono de embarcações e o despejo indiscriminado de óleo na água. “É uma ameaça ao meio ambiente e também aos banhistas. Sem falar no risco de acidentes com outras embarcações, que podem colidir com essas que estão submersas”, alertou.
Ipaam quer cobrar de mecânicos
Após ser procurado pela reportagem de A CRÍTICA por conta da denúncia de crimes ambientais que vêm sendo praticados por donos de embarcações, oficinas, flutuantes e marinas localizadas no lago Tarumã, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) foi até o local, mas fiscalizou apenas as duas oficinas náuticas que trabalham com embarcações velhas. Elas foram notificadas por falta de licença ambiental e terão que pagar multa de R$ 5 mil.
Nenhum flutuante ou marina que abrigava embarcações de luxo foi alvo da vistoria. Mais ninguém foi notificado, além dos dois mecânicos.
A assessoria de imprensa do órgão justificou a atitude dos fiscais alegando que a equipe de fiscalização já possui uma agenda de fiscalizações diárias, mas não soube quantificar quantos desses flutuantes e marinas de alto padrão têm licença ambiental. O Ipaam informou que será feito um levantamento dos flutuantes que não têm autorização para funcionar e, a partir disso, planejada uma fiscalização, ainda sem data para acontecer.
Capitania promete fiscalizar
A equipe de Inspeção Naval da Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental informou que realizará fiscalizações na orla de Manaus a fim de coibir que eventuais embarcações sejam deixadas em locais não autorizados.
A capitania disse ainda que compete à autoridade marítima fiscalizar, exclusivamente, a segurança da navegação, a salvaguarda da vida humana e prevenção da poluição hídrica.
A Marinha informa ainda que o telefone disque Segurança da Navegação, 0800-280-72-00, encontra-se à disposição para denúncias ou informação de acidentes.
Ao ser cunsultado sobre o problema no Lago do Tarumã a assessoria de comunicação do Ministério Público informou que até o momento não foi feito nenhuma denúncia formal para o órgão e que no momento cabe ao Ipaam fiscalizar e apurar as denúncias.
Eli Bezerra, 32, Dono de oficina náutica
“Na medida do possivel tento não poluir e fazer meu trabalho de forma organizada. Na seca, nós reúnimos os moradores da área para recolher o lixo que é jogado na água. Não jogo e não deixo que a minha familia jogue lixo no rio. A coleta não passa sempre e, quando demora muito, eu recolho meu lixo e levo até a lixeira pública da Marina do Davi. Eu não quero poluir, mas vivo disso. Quero que o órgão fiscalizador passe nos outros flutuantes e mostre se algum deles tem autorização. As pessoas constróem lugares para guardar seus barcos sem licença e só os pequenos proprietários que tiram desse trabalho o sustento das suas famílias são prejudicados. Outro dia saí com meu filho às 6h e encontrei uma mancha enorme de óleo no rio. Isso acontece porque algumas pessoas lavam suas lanchas e jogam óleo diesel no rio, sem nenhuma preocupação”.
Reprodução Cidade News Itaú
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