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sábado, junho 22, 2013

Grupo em Paris faz almoço-balada para combater desperdício de alimentos

Numa manhã recente de primavera em uma feira livre num subúrbio ao leste de Paris, mais ou menos 70 pessoas, jovens e velhas, estavam diante de fileiras de mesas, cortando e fatiando pilhas de frutas e verduras coloridas, preparando um bufê feito inteiramente de... lixo. Verdade.

A maioria dos ingredientes desse banquete tinha sido resgatada do lixo no dia anterior pelo grupo de voluntários Disco Soupe, que combate o desperdício de alimentos em toda a França.

De acordo com os organizadores, cada evento do Disco Soupe recupera entre 80 e 200 quilos de vegetais em perfeito estado que, de outro modo, acabariam no lixo.

Um relatório recente do britânico Instituto de Engenheiros Mecânicos estimou que até 50% dos hortifrútis são jogados fora todos os anos. São até 2 bilhões de toneladas de alimentos que nunca chegam a ser consumidos.

Para combater esse desperdício colossal, o Disco Soupe, criado há pouco mais de um ano, inspirou-se num evento alemão promovido uma vez por ano em Berlim. Mas o grupo parisiense multiplicou os eventos em escala menor, primeiro na capital e seus arredores e depois em todo o país.

E seus membros acrescentaram um toque francês que estava em evidência no almoço na feira livre naquele sábado: comida fresca e boa, primorosamente preparada. A refeição --gratuita para qualquer pessoa que aparecesse, tivesse ela contribuído ou não-- consistiu em uma enorme travessa de guacamole, saladas verdes com funcho e vinagrete de tomates, um caldeirão de sopa cremosa de abobrinha e uma sobremesa de bagas e maçãs.

Muitos dos comensais tinham passado horas fatiando os legumes, tudo ao ritmo de uma banda de metais com 15 instrumentistas. Laura Thierry, 28, uma das voluntárias do Disco Soupe, descreve os eventos comunitários como "festas de aproveitamento do desperdício alimentar".

"Para mim, os eventos são um pouco poéticos e absurdos", disse a voluntária, que é consultora empresarial especializada na criação de ambientes de trabalho colaborativos. "Preparamos comida em quantidades enormes, há música e é de graça."

Todos querem participar, segundo ela. "As pessoas querem cortar e descascar muito rápido. Isso realmente gera uma energia coletiva que é sempre bela e poderosa."

O Disco Soupe obtém muito de suas frutas e verduras dos vendedores atacadistas num gigantesco centro de distribuição em Rungis, na zona sul de Paris. Os comerciantes doam os hortifrútis que consideram "invendáveis", por não serem suficientemente perfeitos, estarem próximos da data de vencimento ou serem excedentes que não foram vendidos.

No caso da salada, as folhas usadas eram restos de alfaces compradas por um restaurante parisiense de alta categoria que emprega apenas os corações das alfaces. As folhas externas, comestíveis, geralmente são jogadas no lixo.

Os participantes também são incentivados a esvaziar suas geladeiras, trazendo legumes ou frutas que de outro modo poderiam passar do ponto. Uma mulher viu um cartaz do Disco Soupe na padaria de seu bairro e doou um saco de hortifrútis que teriam estragado enquanto ela tirava férias.

Em 2012, ano em que o Disco Soupe começou, o grupo organizou cerca de 12 eventos na área de Paris em apenas nove meses. Sua meta para 2013 era chegar a 13 cidades. Em junho, mais ou menos 40 eventos do Disco Soupe já tinham sido promovidos em quase 20 cidades, com a ajuda de 200 voluntários.

"Não tivemos a intenção de ganhar adesões e liderar", diz Thierry. "Só queríamos ajudar pessoas a fazerem a mesma coisa que estávamos fazendo em Paris. Isso criou um espírito comunitário real."

A ideia veio do Schnippel Disko, evento promovido anualmente em Berlim para celebrar o movimento do "slow food" e a música e que atrai centenas de pessoas. Segundo Thierry, apenas entre 50 e 75 pessoas vieram para cada um de vários eventos do Disco Soupe promovidos em Paris em abril. Ela prefere o formato menor porque assim os voluntários podem conversar com os participantes sobre a proposta principal do grupo: reduzir o desperdício de alimentos, aproveitando ao máximo o que cada um tem em sua despensa.

Durante o almoço do sábado em Montreuil, Geneviève Aubin, que estava participando pela primeira vez, comentou: "É gostoso preparar a refeição e comê-la juntos. A comida é de alta qualidade, e o evento é bom para a comunidade."

O ambiente dos eventos é sempre animado e cordial, mas muda segundo o local do evento. Em Belleville, bairro da zona nordeste de Paris, o evento do Disco Soupe teve brincadeiras para as crianças, workshops de arte com a utilização de sacos plásticos reciclados, e uma dupla tocando melodias em realejos. Em outro evento no subúrbio de Villejuif, um antigo depósito industrial cheio de trabalhos de arte e objetos diversos atraiu um público mais jovem e descolado.

Cada evento do Disco Soupe custa aos organizadores cerca de cem euros, gastos principalmente em pratos e tigelas ecológicos e outros artigos de cozinha. Os custos maiores incluem o seguro e o treinamento em higiene alimentar. Para financiar os custos administrativos e dar início ao movimento na França, os organizadores lançaram uma campanha no site de financiamento coletivo Kiss Kiss Bank Bank, em dezembro passado. Depois de 45 dias de levantamento de fundos on-line, o grupo tinha ultrapassado em 13% sua meta de angariar US$ 5.000: tinha conseguido US$ 5.660.

A campanha chamou a atenção de pessoas em outras cidades, interessadas em organizar seus próprios grupos. Quando a campanha de levantamento de fundos começou, as festas de aproveitamento de alimentos desperdiçados só existiam em cinco cidades francesas. Ao final, 15 cidades já tinham aderido à proposta.

O grupo de Paris é composto de dez organizadores principais e uma equipe de 30 voluntários. Aqueles que já têm em comum a paixão pela comida e a maximização de recursos usam o Disco Soupe como oportunidade para trabalhar com pessoas que compartilham seus interesses, contribuir para a comunidade e ensinar outros sobre a sustentabilidade alimentar.

Enquanto o movimento ganha força, Thierry diz que quer atrelar a mesma energia de seu "formato inovador e participativo" para criar vínculos com outras iniciativas de reciclagem, visando conscientizar pessoas sobre a sustentabilidade e a redução de desperdício.

"O importante é educar", diz ela. "O melhor não é fazer as pessoas se sentirem culpadas por desperdiçar alimentos. É melhor fazer algo com alegria. A melhor maneira de combater o desperdício de alimentos é conversar com as pessoas e converter o que se faz em um ato positivo para a sociedade."

Reprodução Cidade News Itaú

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