segunda-feira, junho 10, 2013

APESAR DE CONTROVERTIDAS, AS REDES DE MARKETING MULTI NÍVEL JÁ TÊM CERCA DE 60 MIL ASSOCIADOS NO RIO GRANDE DO NORTE; INVESTIDORES RECONHECEM RISCOS E ESPECIALISTAS SUGEREM ESTUDAR ANTES DE ENTRAR NUMA

Ratinho vende a rede Multiclick em seu programa no SBTElas são a nova febre. Não há quem tenha um perfil em qualquer das redes sociais e, com um mínimo de amigos, tenha passado despercebido da invasão das chamadas redes de marketing multi nível (MMN).

A Telexfree com a venda da VoIP (ligações telefônicas pela internet), BBOM como distribuidora de rastreadores veiculares e a Multiclick na área de publicidade online são as principais empresas. Juntas elas têm entre seus participantes mais de 60 mil norte-rio-grandenses.

A despeito das investigações, acusações e boatos de que elas seriam mais um “sistema de pirâmide” ou esquema de Ponzi – batizado em homenagem ao americano Charles Ponzi, que aplicou um dos maiores golpes financeiros da história –, como apontam investigações em Rondônia, no Espírito Santo e no Acre, seus divulgadores lotam as linhas do tempo, principalmente do Facebook, cantando loas a respeito do lado positivo de suas redes.

Os ganhos percentuais prometidos ultrapassam a casa dos 200%, independentemente da quantidade de dinheiro gasto para entrar em qualquer uma das redes de marketing.

E é aí que se acende o alerta de cuidado com a entrada em qualquer uma das empresas, mesmo as que mostram um pouco mais de credibilidade, apresentando um produto físico a ser entregue ou vendido.

Embolsar o famoso “dinheiro fácil”, na avaliação do economista e professor universitário Cláudio Barbosa, não é tão simples. “Dinheiro fácil sempre traz problemas. Ganhos fáceis, supostamente sem riscos, não surgem por milagre. A situação é muito mais complexa”, aponta Barbosa.

Quando questionado sobre a validade de entrar ou não para as empresas, Cláudio Barbosa é enfático. “Não aconselho de maneira alguma a quem não tenha conhecimento técnico do material a ser vendido e noção do mercado de vendas”, sentencia.

De acordo com o economista, não se deve entrar em qualquer esquema como esse sem ter muito conhecimento prévio. “Tem uma empresa, por exemplo, que fornece rastreadores. A pessoa assina o contrato sem muitas vezes saber nada, tecnicamente falando, da composição do equipamento. A falta de informação é um perigo, nesses casos”, relata o professor.

Ele ainda ressalta que a compra dos pacotes oferecidos não é um investimento propriamente legalizado. “Essas empresas não têm o direito legal de pegar o dinheiro de ninguém e dizer que é investimento. Isso só é feito por quem tem autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, explica Cláudio.

A CVM é uma espécie de delegado do mercado financeiro. Ela quem diz o que se pode fazer no ramo de investimentos. A entidade chegou a lançar um documento chamado Boletim de Proteção do Consumidor/Investidor tratando dos investimentos irregulares, em tom de alerta contra as pirâmides e esquemas do tipo Ponzi.

O tema também foi tratado na Rede Globo. Na edição de segunda-feira (3) do Jornal da Globo, a jornalista Mara Luquet, especializada no mercado financeiro, destacou ao ser questionada por um telespectador, através de vídeo, sobre a regularidade e a segurança das empresas de marketing multi nível.

Ela destacou, sem citar nomes, que as redes de MMN são propriamente estratégias de marketing e não um investimento financeiro. Luquet alertou para a necessidade de que se conheça o material oferecido pela empresa, o trabalho desenvolvido e quem são seus donos, por exemplo. “Cuidado com o lucro fácil. Dinheiro fácil não existe”, destacou Mara.

INVESTIMENTO DE R$ 600 JÁ ULTRAPASSA OS SEIS DÍGITOS 

A preocupação dos economistas com as possibilidades de perda do dinheiro gasto, já que os sistemas não são sustentáveis apenas com o modelo atual ofertado, partem da desinformação de muitos.

Tentando sair do lugar-comum em que está a maioria dos integrantes das redes, Daniel Fernandes passou os últimos seis anos estudando o mercado do marketing multi nível, que para ele é o negócio deste século. O primeiro investimento, de R$ 600, foi repartido com dois amigos há oito meses. 

Como a maioria dos integrantes do MMN que têm ganhos altos, Daniel não revela quanto recebe, mas conta que fatura acima dos seis dígitos por mês. A reportagem encontrou Daniel em um hotel na praia de Ponta Negra, onde escolheu para descansar no fim de semana. Com a voz quase rouca, por conta das seguidas apresentações – duram duas horas – que faz por todo o país, preparava-se para mudar de residência, saindo do Alecrim para um condomínio fechado. 

Por conta de seus comentários gravados e colocados no Youtube, Fernandes é amado por uns e odiado por outros. Após anos de estudo, segundo ele, soube identificar quais as empresas que têm condições de funcionar ou não, apesar de todas renderem ganhos altos – principalmente para quem investe alto.

“Sei que estou em um negócio de alto risco. Mas resolvi escolher para trabalhar a que, após estudar muito, identifiquei como a que tinha o maior potencial para conseguir alcançar a sustentabilidade”, afirma Daniel.

Desde o fim do ano passado, ele resolveu abandonar a faculdade de administração, que cursava na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no sexto período. Agora a dedicação exclusiva é para a Multiclick. “As pessoas não estudam, não conhecem o que estão fazendo. Antes de tudo fui conhecer a área. Descobri que o modelo de distribuição de produtos, em que a pessoa receberia para falar bem da empresa, seria muito bom e deixei a faculdade”, relata.

Depois dos vários estudos, ele reconhece que o modelo utilizado pelas empresas de marketing multi nível inevitavelmente torna-se uma pirâmide. “Não há problema do modelo de distribuição ser piramidal. O que importa é que a empresa passe a ser sustentável, não precisando que mais pessoas entrem na rede para dar o lucro prometido a quem está acima”, explica Fernandes.

Daniel usa de uma metáfora para explicar como funciona o sistema dessas empresas. “Elas são como uma pedra de gelo em cima de uma mesa. Invariavelmente vão derreter se ficarem expostas. Mas, colocando uma caixa de isopor em cima o gelo segura mais. E vi na Multiclick que essa caixa seria muito boa, para garantir o negócio por vários anos”, aponta.

Segundo ele, para que o “gelo não derreta” existem duas opções: a entrada de mais gente na rede ou investimentos diversificados da empresa. 

“Anunciar pelo Multiclick é mais barato do que panfleto, porque alcança muita gente. Mas isso não é suficiente, é preciso outros investimentos. Pelo que foi apresentado a empresa, saindo na frente, pretende ser dominante em vários setores da economia”, afirma Daniel.

Ele também credita à política de investimento limitado da empresa, que não aceita mais de R$ 2.750 por cada CPF (Cadastro de Pessoa Física), a uma maior solidez e distanciamento da ideia de programa de investimento. 

Reprodução Cidade News Itaú

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