O ex-líder militar argentino Jorge Rafael Videla, presidente de facto do país entre 1976 e 1981, morreu nesta sexta-feira aos 87 anos na cadeia onde cumpria prisão perpétua por crimes contra a humanidade.
Segundo a imprensa local, Videla, que recebeu várias sentenças de prisão perpétua, morreu por causas naturais.
Videla, o primeiro a liderar a junta que governou a Argentina durante a ditadura militar (1976-1983), foi acusado por organizações de direitos humanos, como a entidade Avós da Praça de Maio, de crimes que incluíram torturas, desaparecimentos, mortes e o seqüestro de mulheres grávidas, opositoras ao regime, cujos bebês foram sequestrados e entregues a outras famílias, simpáticas a sua gestão.
Em um livro publicado recentemente, Disposición Final, do jornalista Ceferino Reato, Videla confirmou, em entrevistas que concedeu na prisão, que existiu um esquema para o desaparecimento dos que eram contrários à ditadura.
Videla disse que os 'presos-desaparecidos' (cujos corpos ainda não foram encontrados) chegaram a 7,6 mil pessoas.
As declarações provocaram forte impacto no país. Segundo a comissão criada para apurar os crimes da ditadura, a Conadep (Comissão Nacional sobre o Desparecimento de Pessoas) quase nove mil pessoas desapareceram na ditadura (1976-1983).
Para as organizações de direitos humanos, o total seria muito maior, de trinta mil pessoas.
'Genocida'
Nesta sexta-feira, juristas e vítimas da ditadura afirmaram à imprensa local que ele foi 'o pior genocida da história do país', como declarou o advogado e deputado da oposição, Ricardo Gil Laavedra.
O jurista foi integrante do tribunal que realizou o primeiro julgamento da cúpula militar, em 1985, dois anos após o retorno da democracia, em 1983.
'Videla morreu cumprindo sua condenação na prisão. Numa democracia, foi julgado, condenado e morreu na prisão. Infelizmente, ele nunca demonstrou arrependimento pelos fatos que, sem dúvida, o colocam na nossa história como o pior genocida que a Argentina teve', afirmou.
Entre os jovens que tiveram a identidade recuperada, que tinham sido entregues ainda bebês a outras famílias, a morte de Videla também foi comentada nesta sexta-feira.
'A única sorte é poder dizer que ele não morreu de forma impune. Que foi condenado pela justiça', disse Horacio Poetragalla, recuperado pela entidade Avós da Praça de Maio.
Nos últimos anos, também houve quem saísse em defesa do ex-ditador argentino. No ano passado, o sacerdote Jorge Hidalgo, de 32 anos, causou polêmica ao elogiar Videla, no dia do seu aniversário, na página 'Rafael Videla Forever' (Rafael Videla para sempre, em inglês) no Facebook, segundo a imprensa local.
'Não foram 30 mil inocentes. Feliz aniversário, general. Um soldado nunca pede perdão por ter salvado sua pátria da ditadura comunista', teria escrito Hidalgo na rede social.
A Secretaria de Direitos Humanos analisou, na ocasião, a possibilidade de indiciar o sacerdote por 'apologia ao delito'.
Livro
Em março passado, cumprindo prisão, Videla disse que seus 'camaradas' deveriam se 'armar' contra o governo da presidente Cristina Kirchner.
'Os que tenham entre 58 e 68 anos de idade e que ainda estejam fisicamente preparados para combater devem se armar para enfrentar a presidente Cristina e seus seguidores', disse, de acordo com os jornais Clarín e Página 12.
Videla disse ainda que o ex-presidente Néstor Kirchner, que governou o país entre 2003 e 2007, e morreu em 2010, e sua esposa e sucessora, Cristina, 'não passavam de dois distribuidores de panfletos (durante o regime ditatorial)'.
Reprodução Cidade News Itaú
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