O jurista, escritor e ex-ministro Saulo Ramos morreu hoje, aos 83 anos, em Ribeirão Preto (interior de SP). Ramos morreu em casa, por volta das 18h30. Ele tinha problemas cardíacos e fazia hemodiálise regularmente. O jurista passou a semana internado em um hospital de Ribeirão Preto, mas havia tido alta ontem.
O enterro será amanhã, às 14h, em Brodowski (338 km de São Paulo), terra natal de Ramos e do pintor Cândido Portinari, de quem foi amigo.
Quando ocupou o Ministério da Justiça no governo Sarney (1985-1990), o advogado deu formato jurídico às inovações de vários economistas para os planos Cruzado 1 e Cruzado 2.
Foi crítico contumaz de dispositivos da Constituição de 1988 e defensor de reformas na Lei de Imprensa.
Em 1992, foi advogado do Senado no processo que garantiu a cassação dos direitos políticos de Fernando Collor de Mello, atuando contra o ex-presidente.
Em 2007, publicou o livro "Código da Vida" (Planeta), no qual narrou episódios da vida política brasileira dos quais foi personagem ou testemunha nos últimos 40 anos, como a renúncia de Jânio Quadros, de quem foi oficial de gabinete, em 1961.
Na ditadura militar (1964-1985), Ramos defendeu políticos e intelectuais de esquerda processados pelo regime. Contou que, certa vez, chegou a furtar um processo da Justiça criminal para livrar um prefeito de Santos e seu chefe de gabinete.
"Há momentos em que o valor ético não está na dança de minuetos ou na observação de etiquetas, mas na salvação de vidas, de honras e das liberdades individuais", disse sobre o caso, em entrevista à Folha, em 2007.
O jurista, que se orgulhava de ter criado a Advocacia-Geral da União, relatou em suas memórias que recusou ser ministro e defensor de Collor após as denúncias de corrupção contra o então presidente.
Em nota divulgada na noite deste domingo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) lembrou que o ex-ministro teve participação "fundamental no processo de restauração da democracia".
Veja abaixo outras repercussões da morte de Saulo Ramos:
José Antonio Dias Toffoli, ministro do STF e ex-advogado-geral da União:
"O jurista Saulo Ramos participou ativamente da transição democrática e deixa entre outros legados a idealização e ativa defesa da criação da AGU (Advocacia-Geral da União) no processo Constituinte, contribuindo para uma defesa do Estado profissionalizada e de qualidade. Sua morte é uma perda para o país e, em especial, para o meio Jurídico."
Márcio Thomaz Bastos, advogado e ex-ministro da Justiça
"Foi um dos maiores advogados do Brasil do século 20. Estive com ele quando ele recebeu o título de professor honoris causa na FMU. Eu fiz um discurso em que o comparei ao Romário: era baixinho, mas resolvia."
Paulo Brossard, ex-ministro da Justiça e do STF
"Recebi a notícia com tristeza. Foi uma pessoa ilustre, de grande prestígio profissional, e também com quem eu convivi no tempo em que ele era o consultor geral."
Reprodução Cidade News Itaú
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