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quarta-feira, abril 24, 2013

Barragens do Grande Recife estão com menos de 50% da capacidade


Barragem de Pirapama está com apenas 14% de sua capacidade total devido ao período de estiagem. (Foto: Nathalia Pereira / Compesa)
A uma semana de completar dois meses de racionamento de água, nove das dez barragens responsáveis pelo abastecimento da Região Metropolitana do Recife ainda estão com menos de 50% de sua capacidade, de acordo com boletim de monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). O rodízio foi iniciado no dia 1º de março, na parte plana da capital, em uma ação da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) iniciada após a constatação que o período de estiagem está afetando o abastecimento das barragens do Grande Recife.
O diretor de regulação e monitoramento da Apac, Sérgio Torres, aponta que uma das situações mais preocupantes é a de Pirapama, que em 15 de abril de 2012 tinha 68% do volume total em água e, no mesmo dia de 2013, tinha 14%. No boletim de monitoramento da Apac da última terça-feira (23), após algumas chuvas, está com 20,5%. “Temos uma anomalia neste ano, está mais seco que o normal. O problema maior são as barragens que estão muito abaixo de 50%, mas algumas como Botafogo, em 2011, estava em 29% e agora está com 17,4%. Não é o ideal, mas não é algo tão gritante como Pirapama”, afirma Torres.

Diretor Metropolitano da Compesa, Rômulo Aurélio Souza explica que a companhia havia conseguido equilibrar a oferta e a demanda de água na RMR com a entrada de Pirapama na rede. “Nós saímos de uma produção da ordem de nove metros cúbicos por segundo para aproximadamente 15 metros cúbicos por segundo, quando Pirapama entrou em ação. Isso equilibrou o balanço oferta-demanda. [O problema é que] em função da escassez e dos níveis baixos dos reservatórios, de Pirapama, Tapacurá, Duas Unas, de todo o sistema de barragens que atende a Região Metropolitana, a gente praticamente retirou um Pirapama da rede. Hoje, a gente voltou para os mesmos nove metros cúbicos por segundo, antes da situação de ter Pirapama, o que gerou o desequilíbrio novamente e nos obrigou a implantar o regime de rodízio”, detalha Souza.

Apesar da situação preocupante, Torres afirma que o volume residual de Pirapama resiste até junho. “Para a segunda semana de maio, nossos meteorologistas já apontam que deve haver chuvas mais intensas e, com isso, a situação deve melhorar”, explica o diretor de regulação e monitoramento da Apac.

Torneiras estão secas, Maria da Luz usa o tanque como balde para lavar roupas das crianças. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Luciano Nascimento está tendo que carregar água. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Luciano Nascimento está tendo que carregar água.
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
Morador do bairro de Brasília Teimosa, o entregador de jornais Luciano Nascimento comemorou quando passou a receber água todos os dias na torneira, com a inauguração da terceira etapa de Pirapama, no final de 2011. Agora, se vê obrigado a buscar água em uma cacimba a 300 metros de onde mora. “Eu trabalho de madrugada e, quando chego, ainda tenho que carregar balde de água. Desde que anunciaram o racionamento, está ‘bronca’, não chega”, desabafa.
O pescador Dézio Zacarias Gomes sabe que o problema do bairro é por vezes o encanamento. “As braçadeiras entopem, acaba não chegando água pra todo mundo. Quando faltava água antes, não ficava todo esse tempo não”, recorda o pescador. “Desde que começou o racionamento, eu estou vendendo mais água mineral, até para o pessoal tomar banho”, conta o vendedor de água Adeílson Souza, também de Brasília Teimosa.
Diretor Metropolitano da Compesa, Rômulo (Foto: Katherine Coutinho / G1)Diretor Metropolitano da Compesa, Rômulo Souza.
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
O diretor Metropolitano da Compesa reconhece que alguns locais estão enfrentando problemas com a pressão da água. “Todo o abastecimento de água é projetado para não funcionar com rodízio. Quando você implanta um esquema de intermitência, uma hora tem água, outra hora não tem, gera uma operação anormal e, consequentemente, você tem pontos que não equilibram adequadamente a pressão”, explica Souza. Entre os bairros no Recife com mais problemas nesse sentido estão Alto Santa Terezinha, Brasília Teimosa, Bairro do Recife e algumas áreas do Ibura.
Os problemas da própria rede, como encanamentos antigos, acabam por piorar a situação do abastecimento. Para lidar com o problema, a companhia tem estudado os pontos críticos para buscar soluções, que vão desde alterações técnicas a obras. “Se você restringe a oferta, esses pontos críticos da rede de distribuição se ampliam. [...] Muitas vezes, a manobra está feita, as válvulas até estão abertas para aquele local, que deve chegar água durante todo o período previsto no calendário, mas devido às condições insuficientes da rede, esse número de horas em que deveria chegar água nem sempre é aquele previsto no calendário”, detalha o diretor Metropolitano da Compesa.

Como a água não chegou no dia previsto, Lucicleia se viu sem água até para beber. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

No Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife, parte do bairro está recebendo água de acordo com o calendário. Outra parte, mais próxima do centro comercial, passa pelos problemas apontados pelo diretor: a água não chega como deveria. Na casa de Lucicléia Pessoa moram quatro adultos e cinco crianças. “Só Jesus sabe como a gente está conseguindo. Tem dia que ‘queima’ [não chega], como aconteceu agora, e a gente tem que comprar água mineral para lavar prato. Eu estou sem sequer um copo d’água. Nem para as galinhas eu tenho”, queixa-se Lucicléia.
O motorista Antônio Cipriano da Rocha está acostumado a ver racionamento de água nos meses de verão. Morador do bairro de Timbi, em Camaragibe, ele não tem tido problemas com o calendário de abastecimento, mas admite que nunca viu o racionamento durar tanto. “A gente entende a situação, mas este ano está demorando mais que o normal para normalizar”, afirma Rocha.
Cacimbas e poços
Alguns moradores não sentem tanto o problema de falta de água porque têm cacimbas, uma espécie de poço artesanal feito no chão. É o caso do aposentado Amaro Ferreira, que acaba fornecendo água para vizinhos, na comunidade de Muribara. “A gente vê os vizinhos sofrendo, minha sorte é essa cacimba, mas a gente tem que cuidar. Tem alguns que já estão com a cacimba só na lama. Se não chover, não vai adiantar”, preocupa-se Ferreira.

Cacimba de Amaro Ferreira é que tem salvado os vizinhos de ficar totalmente sem água. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Foi a cacimba de um vizinho que salvou a empregada doméstica Maria José Pereira da Silva, outra moradora de São Lourenço da Mata. Com uma filha em idade escolar, Maria José chegava do trabalho e ia até a cacimba de um vizinho buscar água. “Eu não sei o que é um banho de chuveiro faz muito tempo. A gente ficou mais de uma semana sem chegar água, agora pelo menos chega fraca. Meu irmão mora no Parque Camaragibe e está vindo tomar banho de cuia na minha casa, porque lá não chega nada”, explica Maria José.
Morando em Brasília Teimosa, no Recife, Edinaldo de Lima conta que virou ‘mania’ no bairro furar poço. “Todo mundo quer fazer um. Antes dessa história de racionamento, a água chegava. Agora? Lá em casa mesmo, estamos só com poço. O problema é que, sem chuva, não adianta poço. Se não chover, vai faltar água até no poço”, pondera.

Sebastião Lira está acostumado a correr quando a água chega para enxer os reservatórios. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

O aposentado Sebastião Lira mora na parte alta do Ibura, que foi pouco afetada pelo racionamento. Mantendo o esquema de um dia com água e outro sem, ele e a esposa Solane Cavalcanti estão acostumados a armazenar água. “Já faz parte da rotina da gente. Quando vem a água, a gente enche baldes e garrafas. Não é fácil, mas a gente se acostuma”, afirma Lira.

Quando dá o horário em que a água costuma chegar, Solane fica logo atenta. "Tem que correr, antes que acabe. A gente aproveita para lavar roupa, encher a caixa. Para a gente, o racionamento não mudou muita coisa. Aqui no Ibura, a gente já está acostumado com essa rotina", explica Solane.

Obra da Compesa no Ibura, no Recife. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Obras
A cada mês, a Compesa afirma fazer cerca de 6 mil reparos de vazamentos. Em momentos de escassez de água, a situação torna-se ainda mais preocupante. Para resolver esses problemas e também os da água que não chega aos locais que deve, a companhia afirma que tem feito obras em toda a RMR. “A Compesa está investindo quase R$ 500 milhões na troca dessa infraestrutura que está aí. A nossa expectativa é que venhamos a substituir 40% da rede de distribuição. Estamos com um investimento maciço dentro do Ibura, principalmente para regularizar muitas áreas que estão conectadas à rede de forma clandestina e organizando aquelas redes onde a estrutura é muito precária”, afirma o diretor metropolitano.
O polidor Welton dos Santos espera que as obras resolvam mesmo a situação do bairro. “Eles trabalham só a noite, chega trator e caminhão a noite toda. Durante o dia, quando chega água, chega muito fraca por causa do racionamento e também das obras”, reclama Santos. “A gente sempre espera que melhore, mas é uma poeira danada nas casas”, afirma a vendedora Sarine Silva.
Embora não possa prometer chuva, o diretor metropolitano da Compesa afirma que podem agir para evitar que, quando a água chegar, haja problemas. “Esse trabalho de implantação de rede nova, de substituição das redes que não têm mais funcionamento, isso vai ajudar porque a gente vai estar atuando preventivamente. Para diminuir esse contingente de vazamentos que temos mensalmente”, afirma Souza.
Além das obras relacionadas aos encanamentos, estão sendo construídas ainda barragens e novos sistemas, além de Pirapama. "Na Zona Sul, começamos a construção da barragem Engenho Maranhão, que vai atender às praias do litoral sul, até o Cabo de Santo Agostinho, na região de Suape, [e também] a cidade de Ipojuca. Além de Pirapama, começamos a construção de outros sistemas que vão se somar aos existentes para dar uma melhor flexibilidade funcional para o sistema e atender a demanda crescente dos próximos 30 anos. Na verdade, a gente constrói barragem, mas se não tiver recarga [chuva], não adianta nada", conforma-se o diretor metropolitano da Compesa.

Reprodução Cidade News Itaú

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