segunda-feira, março 11, 2013

Problema da Igreja é achar linguagem que alcance o povo, diz padre italiano


Basílica de São Pedro neste sábado (2) (Foto: AFP)
As crises enfrentadas pela Igreja Católica têm sido bastante discutidas nos últimos dias, com a renúncia do agora Papa Emérito Bento XVI e as preparações para o conclave que que começará na terça-feira (12) e que vai eleger um novo pontífice. Reforma da Cúria, vazamento de documentos, denúncias de corrupção e escândalos de pedofilia, além de outras condutas sexuais impróprias, estão entre os principais desafios para o próximo Papa.
Um padre italiano que trabalha próximo à Santa Sé, entretanto, acredita que o grande problema é outro: conseguir achar a linguagem certa para se comunicar com os fiéis sem perder o sentido da Igreja.
“O ponto crítico não é explicar para as pessoas a estrutura da Igreja como função. Isso está escrito, e quem quiser saber pode achar no site do Vaticano. O problema nosso hoje é achar uma linguagem que permita que as pessoas entendam por que Cristo é salvação, por que ele me libera como pessoa. É essa a grande crise que vivemos hoje”, disse ao G1 o padre Antonio Marrazzo, um italiano de 60 anos que trabalha como postulador da causa dos santos para a Congregação dos Redentoristas e, por isso, vive próximo do Vaticano.

Para ele, todos os problemas enfrentados pela Igreja devem ser vistos de forma mais simples – a Igreja deve servir os fiéis e estar à disposição deles, mas sem se transformar, perder o conteúdo ou sua essência. “O protagonista é Cristo, não os sacerdotes. Nós fazemos apenas a mediação. Mas para atrairmos mais pessoas, estamos nos transformando. Perde-se o conteúdo, o que é a essência, o senso do que fazemos.”

'Mundo vive momento crítico'
Padre Marrazzo lembra que não apenas a Igreja, mas o mundo todo vive um momento crítico. “Em uma história de 2 mil anos, sempre houve crises. Não vejo onde está o problema”, explica.
“São tempos muito mais complexos. Com a globalização, temos acesso a tudo. Os problemas antes eram menos complexos. Hoje temos situações que não podem ser previstas. Também temos uma grande variedade de culturas. No século passado, as culturas eram mais restritas, até geograficamente, eram mais homogêneas. Hoje, os meios de comunicação permitem que se conheça, com mais facilidade e em tempo real, o que acontece no mundo todo.”

A globalização aumenta também o impacto do papel da Igreja e das declarações dadas por suas principais figuras. “A Igreja hoje não influencia só seus fiéis, não alcança apenas o mundo católico, mas também outras religiões. E não só religiões, mas países, situações políticas”, afirma o padre italiano.

O reconhecimento da necessidade de se comunicar com uma linguagem mais inteligível aos fiéis é seguida de uma crítica aos próprios católicos, que muitas vezes veem a Igreja como uma prestadora de serviços, que deve adaptar-se às suas necessidades, e não se esforçam para se integrarem a ela.

“Para outras coisas elas [as pessoas] se movem. Se precisam viajar milhares de quilômetros para visitar um lugar nas férias, elas vão. Para as outras coisas no nível social, elas se esforçam. Com a Igreja não, precisamos estar à disposição do modo que lhes agrade mais. Deve estar disponível na necessidade das pessoas, mas quando é uma necessidade real. Quando é oportunismo, porque está cômodo a elas, é manipulação.”

Como outros religiosos, padre Marrazzo viu a renúncia de Bento XVI de maneira positiva, classificando-a como algo profético – e lembrando que o Papa não sucede a Cristo. “Não se trata de não ser capaz de continuar. Ele não podia continuar segundo o modo sobre os quais são feitas as exigências atuais. É um convite a todos nós a termos a consciência de que no momento em que não possamos mais levar adiante um papel, nós o passemos à frente. Pelo bem dos outros, porque nosso papel é de serviço”, afirmou.

“O Papa com a renúncia nos recordou que o limite de cada um de nós esta dentro de nós mesmos. Ficar velho não é uma doença. É um momento da vida.”

Reforma da Cúria
Em Roma e entre os religiosos de todo o mundo, se fala muito sobre a reforma da Cúria – muitos cardeais veriam a necessidade de se escolher um Papa com perfil de pastor, e não administrador, para evitar possíveis “carreiristas” dentro da Igreja. Para padre Marrazzo, a reforma da Cúria não se trata de mudar pessoas e sim adaptar o modo como ela trabalha.

“Se trata de achar um modo para que a Cúria se torne realmente um serviço. Tornar a estrutura mais funcional, que responda melhor às necessidades do homem contemporâneo. A Cúria é um serviço, não um discurso de poder. É preciso ajudar os bispos, e por consequência a todos os fiéis, a viver no modo mais correto e não de afastar da verdade de Cristo. Não se trata de mudar as pessoas que estão lá. Mas sim mudar o modo de servir, ajudar ainda mais os cristãos a viverem esse percurso”, afirmou.

O padre italiano lembra, ainda que todos os últimos Papas realizaram alguma mudança. “No nível pastoral, o Papa Bento XVI fez transformações – eliminando algumas comissões, juntando outras, e criou o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Todos os Papas reformaram alguma coisa. Reformar a cúria significar adaptá-la às exigências.”

Reprodução Cidade News Itaú

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