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domingo, março 31, 2013

Atraso nas obras agrava situação dos atingidos pela seca


Se depender da transposição das águas do rio São Francisco para conseguir ter abastecimento regular de água, a população dos municípios do Rio Grande do Norte que se beneficiarão com o projeto deverão buscar outras alternativas para sanar o problema. No projeto de transposição do referido rio, serão beneficiadas no Estado as bacias dos rios Apodi e Piranhas-Açu.
Idealizada há mais de um século, a transposição das águas do rio São Francisco já custa o dobro do que foi previsto e se arrasta há cinco anos.
Enquanto isso, o Nordeste vivencia o segundo ano consecutivo de uma das piores secas de sua história. Embora o projeto embrionário tenha sido apresentado há mais de 100 anos, somente 40% das obras da transposição das águas do rio São Francisco foram concluídas. Os custos, inicialmente orçados em R$ 4,5 bilhões, quase duplicaram, chegando a R$ 8 bilhões.
Especialistas, lideranças de entidades sociais e políticas do Nordeste apontam que a falta de pressão política, o mau planejamento e a corrupção favorecem a morosidade da obra. O objetivo da transposição é formar uma sinergia hídrica capaz de ampliar a capacidade de armazenamento dos açudes. A estimativa do Ministério da Integração Nacional é de que a obra beneficie aproximadamente 12 milhões de pessoas, em especial dos Estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco.
Em recente entrevista a um jornal do Ceará, o engenheiro Cássio Borges, especialista em recursos hídricos, afirmou que, se o empreendimento já tivesse sido concluído, a população estaria em situação menos precária, apontando que 100 mil cabeças de gado já morreram de fome e sede somente no vizinho Estado do Ceará. “Essa seca mostrou, mais do que nunca, a importância desse projeto. Esse programa de transposição é urgente e merece maior atenção do governo”, aponta.
O secretário de Recursos Hídricos do RN, Leonardo Rego, disse que, se a transposição tivesse se concretizado, a situação dos municípios do Alto Oeste, como Luis Gomes, não teria se agravado como aconteceu.

Falta de planejamento e burocracia encarecem obra
A proposta apresentada pelo ministro da Integração Regional em 1994 previa a captação de 150 metros cúbicos por segundo, também para a irrigação e em um único canal, sem a revitalização do rio São Francisco, integrando os açudes Castanhão-CE, Armando Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz no RN. O projeto atual é de que a vazão seja de apenas 26 metros cúbicos por segundo, de forma contínua, mas podendo atingir até 120 metros cúbicos, caso a barragem de Sobradinho, na Bahia, atinja 90% de sua capacidade.
Na prática, a proposta de reduzir a vazão facilitou que os Estados das bacias doadoras, principalmente Bahia e Sergipe, apoiassem a ideia, pois lideranças desses Estados ponderavam que a transposição traria prejuízos financeiros a essas regiões.
Para o especialista em Ética e Filosofia Política pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) Fabio Valentim, um dos motivos que interferem na celeridade das obras é a falta de planejamento do poder público e a burocracia das licitações.
“O que podemos observar é que falta planejamento de instituições mais perenes. A cada novo governo muda-se a que coordena o projeto, e isso tem promovido prejuízos a sua continuidade”, esclarece. “Existe um excesso de burocracia que tenta combater a corrupção, mas não consegue. A burocracia é tão grande que encarece a obra e deixa de resolver os problemas mais graves”, afirma.

Reprodução Cidade News Itaú

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