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segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Percussionista que tocou na Kiss diz que boate era um 'labirinto'



O percussionista da banda Gurizada Fandangueira, Marcio de Jesus dos Santos, que tocava no boate Kiss, em Santa Maria, no dia 27 de janeiro, quando o local pegou fogo e 237 pessoas morreram, disse que o local é um "labirinto." Ele afirma que só conseguir escapar da morte porque saiu do palco pela área vip, que sempre tem menos gente.
Reportagem do Fantástico (veja vídeo ao lado) deste domingo (3) traz entrevista exclusiva com Marcio de Jesus dos Santos.
“Qualquer um de nós, mesmo conhecendo a casa, se saísse daquele corredorzinho que se formava entre o ferro e uma parede, que dava direto numa porta, não acharia mais. É um labirinto e se tu perguntar para qualquer um que já foi na Kiss ou vai, ou foi nessa data específica, eles vão te dizer que é um labirinto", diz.
O sanfoneiro da banda, Danilo Jaques, não sobreviveu. Segundo Marcio, ele tentou sair da boate pelo caminho mais difícil.

Irmão preso
O irmão de Marcio, o vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, está preso porque sobreviventes da tragédia dizem que os fogos de artifício utilizados no show, presos a uma luva usada por ele, provocaram o incêndio. Marcio conta o que viu.
“Marcelo tirou a luva [que levava os fogos] e a gente continuou o show. Logo o guitarrista olhou pra cima e tinha uma pequena bolinha de fogo, e eu avisei o Marcelo: ‘cuidado tem fogo ali’. Quando o cara deu o extintor, ele atirou no chão. Atirou e pegou e puxou a trava. Se tivesse funcionando, por Deus que nada disso teria acontecido.”
O músico diz que não acredita que o show pirotécnico seja o responsável pela morte de mais de duas centenas de jovens.
“Era muita fumaça já, e o pessoal disparando, e o Marcelo disparou... eu vi que ele amoleceu na minha frente assim e eu peguei ele pelas calças e pela camisa assim, eu digo 'eu tenho que salvar o meu irmão.' A minha mãe não ia me perdoar porque foi eu que sempre fez entusiasmo a ele ir pra banda, sabe?”
Uma semana depois do incêndio, Marcio afirma que não se sente culpado pela tragédia. “Nunca nos proibiram de usar [os fogos], nunca tinha ferido ninguém. Eu poderia me sentir culpado se mesmo sabendo que eu já tivesse ferido alguém, que aquilo ali, viesse a acontecer a tragédia que aconteceu, eu deixasse acontecer de novo.”
Quando perguntado se foi seu irmão que sem querer colocou fogo na boate, ele responde: “Olha, eu não estou aqui para julgar ninguém. Quero que a Justiça julgue. Toda culpa que houver, a gente vai assumir se tivermos. Mas existem muitos fatores que, como te disse, a gente sempre usou e nunca deu problema.”
Fogos
Marcio era o percussionista na banda e diz que, nos últimos dois anos, fizeram pelo menos um show por mês na Kiss. Segundo ele, os fogos de artifício eram sempre utilizados nas apresentações e o dono da boate sabia. Elissandro Spohr, o Kiko negou a informação. "A banda nunca falou comigo sobre isso, eu nunca autorizei isso", afirma.
Marcio mora numa casa simples na periferia de Santa Maria. Ele sempre teve muitos amigos na cidade. Mas hoje não quer mais circular pelas ruas, as imagens da tragédia não lhe saem da cabeça.
“Jamais a gente vai sair da residência da gente, sair da casa da gente, pra ganhar 80 e poucos, 100 reais, e tentar fazer mal pra alguém.”
A música era a paixão dos integrantes da Gurizada Fandangueira, mas não o ganha pão. “Eu e meu irmão Marcelo somos azulejistas, o baterista é taxista. O holding é telemoto, o guitarrista faz trabalho de freelancer como segurança, como ajudante de pedreiro. E o baixista é motorista de van.”
Todos eles tinham um compromisso na noite de 27 de janeiro. Mais um show na Boate Kiss. “Chegamos em torno de 1h15, por aí. A casa já estava muito lotada. Era 1000 e muitas pessoas, tinha uma fila muito grande. Ainda comentei dum jeito positivo: ‘bah, os donos vão ficar felizes porque a gente toca e tem dado sempre bastante gente aqui na Kiss.”


Reprodução Cidade News Itaú

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