Um grupo de amigos cinquentões se reuniram na noite desta quinta-feira (31) no calçadão da avenida Rio Branco, em Santa Maria (RS), a uma quadra da boate Kiss. E a conversa não poderia ser diferente: a morte das mais de 230 pessoas durante um incêndio na casa noturna no último domingo (27). Mas, apesar do tom de tristeza, a indicação de continuidade na vida daqueles que sobreviveram à tragédia.
O papo começou com o relato de um problema em condomínio do município. E do nada, a conversa tomou outro rumo. "Estamos todos tentando esquecer aquilo", diz a professora Dileta Behr, que foi interrompida pelo marido Joao Batista, ex-vendedor de remédios: "Foi um holocausto, era o mesmo gás usado pelos nazistas".
Todos na cidade parecem estar inconformados com tragédia, assim como a família Bher que foi diretamente afetada por ela. O casal perdeu a sobrinha Luana Viana, 22, estudante de Psicologia da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria).
Mas, em meio as histórias de desgraças, também são ouvidas histórias de heroísmo. "Ouvi dizer que uns meninos sem nenhum equipamento, além de uma camiseta molhada, salvaram 14 pessoas. Os bombeiros deveriam ter equipamento e não deixar os leigos fazerem o serviço, correndo riscos", disse indignada Carmen Flores, securitária aposentada.
João Batista tem uma tese: "Os governos municipal, estadual e federal foram incompetentes em deixar isto acontecer. São os responsáveis, junto com os músicos e os donos da boate. Em compensação, nós de Santa Maria demos um exemplo de solidariedade", orgulha-se o homem de meia idade.
O grupo de amigos debate os termos de suas críticas às autoridades. "A boate tinha alvará vencido, então é culpa deles", afirmou dona Carmen, com o consentimento de todos que participavam da conversa. Já o advogado Nabor Flores entra no tema dizendo que "o cara da banda tinha um sinalizador". "Assim não dá, ainda mais numa casa lotada, tão cheia que uma menina deixou cair um copo e não pode se abaixar para juntá-lo."
A professora Dileta não gosta muito de falar da tragédia que marcou Santa Maria, tampouco das mortes, mas conta que "naquela noite terrível" não sabia exatamente onde estava o filho de 29 anos. Mas, felizmente, após alguns minutos dramáticos, localizou ele na casa de uma tia.
E diante de tanta indignação Batista lembra que basta um segundo para morrer. Mas, em meio ao silêncio, um dos amigos questiona: "De quem é a culpa pela morte dos meninos?".
"Todo mundo aqui conheceu alguém. Um primo de um primo. Um vizinho", disse outro, que afirma que após a tragédia a cidade ficou triste. "Aqui era só festa. Mas este ano não vamos ter carnaval. Ninguém tem nada para comemorar", acrescenta Batista.
Reprodução Cidade News Itaú
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