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quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Escândalo da carne de cavalo traz lado sombrio do consumo, diz estudo da ONU


Açougueiro alemão com carne de cavalo em abatedouro; autoridades do país investigam o uso indevido do produto
Os habitantes do mundo rico deveriam tornar-se "semitarianos" --ou seja, comerem a metade da quantidade de carne à qual estão acostumados, sem precisarem abrir mão totalmente dela--, para evitar causar danos graves ao meio ambiente. A recomendação é de cientistas que apresentaram o quadro mais claro até agora de como as práticas agropecuaristas estão destruindo o mundo natural.

Os cientistas disseram que o escândalo da carne de cavalo trouxe à tona o lado sombrio de nosso desejo por carne, que alimentou um comércio de animais de corte não documentados e refeições prontas de preço baixo e rótulos enganosos. "Existe risco para a cadeia alimentar", comentou o professor Mark Sutton, que cunhou o termo "semitariano" e é o autor principal de um estudo da Unep (programa das Nações Unidas para o meio ambiente) publicado na segunda-feira (18). "Agora é um bom momento para conversar com as pessoas sobre esse assunto."

A busca por carne cada vez mais barata nas últimas décadas --a maioria das pessoas, mesmo nos países ricos, consumia significativamente menos carne uma ou duas gerações atrás-- gerou uma expansão maciça da pecuária intensiva. Com isso, quantidades imensas de grãos foram desviadas do consumo animal para o consumo humano, exigindo o uso intensivo de fertilizantes, pesticidas e herbicidas e, de acordo com o relatório da Unep, "provocando uma teia de poluição do ar e da água que está prejudicando a saúde humana".

Os resíduos que escoam desses produtos químicos estão criando zonas mortas nos mares, levando ao crescimento de algas tóxicas e à mortandade de peixes, enquanto outros ameaçam a sobrevivência de abelhas, anfíbios e ecossistemas sensíveis. "A atenção atraída por este escândalo da carne destacou a questão da carne de baixa qualidade. Isto tudo mostra que a sociedade precisa refletir muito mais sobre os animais de corte e as escolhas alimentares, pelo bem do meio ambiente e da saúde", disse Sutton.

A resposta, segundo o cientista, está no consumo de mais vegetais e menos proteína animal. "Coma carne, mas com menos frequência. Faça dela algo especial", ele aconselhou. "O tamanho das porções é crucial. Muitas porções são grandes demais --são maiores do que as pessoas querem consumir. É preciso pensar em mudar hábitos, em dizer 'gosto do sabor, mas não preciso comer tanto'".

Ao encherem seus pratos com legumes e verduras, além de carne, as pessoas ficarão mais bem nutridas. "A maioria das pessoas não percebe a diferença", disse Sutton, citando um evento recente da ONU em que o chef usou um terço da quantidade habitual de carne, incluindo mais vegetais para compensar, e mais de 90% dos convidados ficaram igualmente satisfeitos.

Sutton se referia ao Ocidente rico, em especial os EUA e a Europa. Ele quer que a mudança de dieta seja introduzida na Europa, já que efetuar mudanças nos Estados Unidos será um desafio mais difícil. De acordo com os cientistas da ONU, os moradores dos países pobres devem ser autorizados a aumentar seu consumo de proteína animal, que faz falta a bilhões de pessoas. Mas, para não causar danos ambientais, o aumento do consumo de carne no mundo em desenvolvimento precisa ser contrabalançado por uma redução da quantidade consumida nos países desenvolvidos.

As carnes de frango e porco provavelmente são as que causam menos prejuízos ambientais em termos relativos, embora os padrões de bem-estar dos animais e as condições em que são criados possam fazer uma diferença grande. "A carne de frango é uma das mais eficientes, já que o animal cresce muito rapidamente e é possível colher seu estrume", disse Sutton.

De acordo com o relatório da Unep, intitulado "Nosso mundo nutricional: o desafio de produzir mais alimentos e energia com menos poluição", a produção de carne é responsável por 80% do nitrogênio e fósforo usados na agropecuária. Esses nutrientes são produzidos a um custo global muito alto, mas a maior parte acaba desperdiçada no estrume dos animais. Em algumas regiões do mundo os nutrientes são escassos, resultando em plantações menos produtivas.

A Unep avisou: "A não ser que sejam tomadas medidas, a elevação da poluição e o aumento do consumo per capita de energia e produtos animais vão exacerbar as perdas de nutrientes, os níveis de poluição e a degradação dos solos, ameaçando mais ainda a qualidade de nossa água, nosso ar e nossos solos, afetando o clima e a biodiversidade".

O estudo também propôs uma série de medidas com as quais seria possível tornar a pecuária menos nociva ambientalmente, desde medidas simples como o armazenamento mais seguro e o uso mais econômico dos fertilizantes até a captura das emissões de gases estufa resultantes de sua produção. O consumo de nitrogênio poderia ser reduzido em 20 milhões de toneladas até 2020, poupando 10 bilhões de libras por ano. A reutilização de resíduos, como estrume, e o tratamento de esgotos com métodos modernos também poupariam centenas de bilhões de dólares.

Reprodução Cidade News Itaú

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