Domingo, 27 de janeiro. Destino: Santa Maria. Os hospitais de Santa Maria não tinham condições de atender tanta gente em estado grave. Equipes de médicos e enfermeiros chegaram muito rápido na cidade. O doutro Márcio Rodrigues, por exemplo, saiu de Porto Alegre para atender os feridos e gravou imagens do atendimento, horas depois do início da tragédia.
“A única coisa de positiva que a gente via era a força dos médicos e das equipes que estavam lá, tentando salvar as pessoas que tinham sobrevivido”, lembrou Márcio Rodrigues, médico emergencista. Foi preciso montar uma operação de guerra para salvar vidas.
“A Aeronáutica disponibilizou helicópteros e um gigantesco avião que tem capacidade para levar sete pacientes de UTI ao mesmo tempo. Criou-se toda uma rede dentro do estado, que em 24 horas tirou cerca de 60 pacientes da cidade de Santa Maria. Pacientes que estavam entubados, em ventilação mecânica, pacientes de UTI”, afirmou Márcio Rodrigues.
Transportar essas vítimas em estado grave era um desafio enorme. “Nós tínhamos muita preocupação porque esses pacientes tiveram lesão pulmonar aguda. Fizemos avaliação dos pulmões dos pacientes. Porque foi justamente a área mais lesada nesses pacientes. Por isso, a gente levou tecnologia de ponta para que pudesse fazer esse exame na beira do leito do paciente. É exatamente o mesmo equipamento que as Forças Armadas dos Estados Unidos hoje usam no seu ambiente de guerra. É o mesmo equipamento”, ressaltou o médico.
Os especialistas tiveram que sedar a maioria dos feridos. Os aviões levavam as vítimas para Porto Alegre e voltavam trazendo mais médicos, enfermeiros, equipamentos e remédios. Só a Força Aérea Brasileira fez 92 voos desde o último domingo. O enfermeiro Maicon Daniel Chassot acompanhava as vítimas.
“Como era esse trabalho dentro do avião? Muita tensão?”, perguntou a repórter Kíria Meurer.
“Bastante. Tínhamos sete pacientes extremamente graves. Todos estavam bem assistidos. Tínhamos um médico e um enfermeiro para cada um, mas é um transporte que sempre tem um risco, porque os pacientes são graves”, respondeu Maicon Daniel Chassot, enfermeiro.
A cada pouso uma vitória.
“A corrente da vida estava funcionando, porque estava todo mundo engajado com a mesma ideia: ‘agora nós temos que atender, agora nós temos que salvar essa gente”, disse Márcio Rodrigues.
Todos os feridos chegaram com vida em Porto Alegre. “Quando se abriu a porta do avião, a gente viu os colegas esperando, os colegas do SAMU, os colegas do Hospital de Clínicas. Todos prontos de braços abertos para receber nossos pacientes”, reforçou Maicon.
Ali começava outra batalha. Nos hospitais da capital gaúcha, médicos brasileiros receberam a orientação de especialistas argentinos, os mesmos que atenderam vítimas de um incêndio na discoteca Cromagnon, em 2004, em Buenos Aires. Eles sugeriram fazer a lavagem das vias aéreas e retirar a fuligem dos pulmões das vítimas. Um procedimento delicado.
“Todos os pacientes tinham uma grande quantidade de fuligem, de material, de espuma e nós imaginamos que essa espuma foi inalada ainda quente, porque tinham várias partículas aderidas à mucosa, provocando queimadura na via aérea”, afirmou Hugo Goulart de Oliveira, pneumologista da UFRGS.
As cenas desses momentos dramáticos são um documento importante. Vão ajudar na formação de novos profissionais especialistas em catástrofes. “A gente vai utilizar isso agora na residência de medicina de emergência para explicar aos futuros médicos o que é uma situação dessas. O que acontece ali dentro e porque a gente precisa estar treinado e se comportar dessa forma. A gente precisa naquele momento ser a pessoa centrada ali e dizer: ‘isso aqui é comigo. Eu preciso resolver’”, afirmou Márcio Rodrigues.
Reprodução Cidade News Itaú
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