Por sorte e pela dedicação aos esportes, Leandro Buss não estava na boate Kiss na noite da tragédia. Entretanto, ele ainda não sabe se isso foi bom ou ruim. “Se eu não tivesse ido competir, eu estaria lá com ela. Não sei se teria morrido também ou se eu teria salvado ela e ajudado a salvar mais gente", questionou-se ao falar da esposa Marilene Castro, de 33 anos, umas das 235 pessoas mortas no incêndio de Santa Maria. Segundo o rapaz, a esposa foi à casa noturna comemorar o aniversário de uma amiga.
Leandro mostrou à equipe do Mais Você uma foto de Marilene dentro da boate Kiss: "As gurias gostavam de ficar perto da banda, para interagir melhor". Na imagem, ao fundo, aparece um extintor que, pelo o que ele se recorda, era o único perto do palco. Por isso, com grandes chances de ter sido o aparelho usado por um dos integrantes da banda para controlar o fogo, sem sucesso. Ele acredita também que foi nesse lugar, longe da saída, que a esposa deveria estar com as amigas.
Para quem frequentava a Kiss, como o casal, presenciar brincadeiras perigosas não era novidade. No sábado, anterior à tragédia, Leandro estava lá com Marilene e viu um garçom erguer uma tocha que, por pouco, não soltou faísca e pegou em um objeto da decoração. "Tem uma bola no centro, de isopor e espelho. E eles ergueram essa tocha e começaram a balançar para chamar a atenção. Quase pegou no isospor e alguém gritou para eles abaixarem os braços", narrou.
Leandro e Marilene começaram a namorar bem novos, já estavam juntos há 17 anos, e têm um filho de 16 anos. “O sentimento que tu tens é da sua esposa, que dormia na cama ao seu lado, sua companheira, não vai estar mais lá”, comentou. Emocionado, ele mandou um recado para outros maridos: “Quem tem mulher, quem tem esposa, fala para ela todo dia que você a ama. Acorda de manhã e diz: 'Eu te amo'. Um dia que você não fale, pode ser o último”.
"A minha ajuda era ver quem ainda tinha vida", conta vizinho da boate Kiss
Roger Fumagalli é vizinho da boate Kiss e acompanhou de perto cada momento da tragédia: “As três da madrugada eu levantei para beber água e ouvi o barulho, abri a sacada e vi a fumaça. Aí eu desci correndo para lá. Um inferno, todo mundo correndo apavorado”.
Ele fotografava e filmava o resgate na casa noturna quando um dos paramédicos pediu para que ele ajudasse. "A minha ajuda era ver quem ainda tinha vida”, relembrou emocionado. O rapaz também comentou que já frequentou a Kiss: “Uma vez, a boate estava cheia, e eu não conseguia sair porque os seguranças estavam trancando a porta, mesmo para quem já tinha pagado a conta. A minha namorada chegou a desmaiar”.
Acostumado a conviver com o barulho das festas da boate, Roger agora reclama do silêncio triste que impera no prédio vizinho: “O silêncio que é gerado é o das pessoas que não estão mais aqui”.
Reprodução Cidade News Itaú
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