O presidente egípcio, Mohamed Mursi, anulou neste sábado um decreto do mês passado que ampliava e blindava seus poderes, disse o político islamita Selim Awa no Cairo.
"O decreto constitucional está anulado a partir de agora", afirmou Selim Awa, durante uma entrevista coletiva à imprensa.
Apesar disso, o projeto de Constituição será submetido a referendo no dia 15 de dezembro, como previsto, disse Awa, ao falar sobre a reunião entre Mursi e líderes políticos.
Nas últimas duas semanas, a oposição vinha pedindo a anulação do decreto e o adiamento da consulta constitucional.
O decreto, adotado pelo chefe de Estado em 22 de novembro, provocou uma forte onda de contestação no Egito, acompanhada de manifestações que em alguns momentos descambaram para a violência, com a morte de sete pessoas na noite de quarta para quinta-feira no Cairo.
A oposição também critica o projeto de Constituição. Ela acusa o texto de abrir caminho para uma islamização mais ampla da legislação e de não apresentar garantias às liberdades, principalmente de expressão e de religião.
Para tentar reduzir a tensão, Mursi encarregou neste sábado uma comissão composta por juristas e personalidades políticas "de modificar a declaração constitucional", havia declarado o primeiro-ministro Hicham Qandil pouco antes.
REJEITADO
A Coalizão Islâmicos do Egito, formada pela Irmandade Muçulmana e outros partidos islâmicos, rejeitou hoje adiar o referendo sobre a nova Constituição. O grupo forma a maioria que aprovou o projeto da lei máxima na Assembleia Constituinte, no dia 30.
Em comunicado, a plataforma defendeu que o plebiscito seja realizado no próximo sábado, sem adiamento. Eles consideram que a consulta popular é "uma passagem no caminho em direção à estabilidade, ou seja, a construção das instituições do Estado".
O grupo de partidos islâmicos advertiu para o que chamou de "tentativas de derrubar o governo", em referência aos protestos de opositores e disseram que não aceitarão "a volta do corrupto regime anterior sob nenhum pretexto e nenhum nome".
MILITARES
Mais cedo, as Forças Armadas do Egito pediram que a oposição e o governo entrem em um acordo para poder sair da atual crise política, senão haverá "consequências trágicas".
"O método do diálogo é o melhor e o único para conseguir os interesses supremos do país e dos cidadãos. Caso contrário, entraremos em um túnel escuro cujo resultado será trágico".
As Forças Armadas advertiram que pretendem intervir caso a crise se torne mais violenta, mas disse que a continuidade do conflito político não beneficiará nenhuma parte e o preço será pago por todo o país.
Esta é a primeira vez que os militares se manifestam desde o início da crise provocada pelos decretos e a nova Constituição. Desde então, as tropas só agiram se solicitadas pelo presidente Mohammed Mursi, como no cerco ao palácio presidencial que acontece desde quinta (6).
Neste sábado, o jornal "Al Ahram" informou que Mursi poderá emitir um novo decreto autorizando os militares a atuar como polícia, o que, se confirmado, pode aumentar a insatisfação dos opositores e a violência nos protestos.
Fonte: Folha de São Paulo/Cidade News Itaú
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