sábado, novembro 24, 2012

Mapa revela fragilidade do vírus do beijo


Um estudo inédito do citomegalovírus (CMV), mais conhecido como o vírus do beijo, pode ajudar os cientistas a entender como os vírus “sequestram” as células do corpo humano para se reproduzir, abrindo caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos contra várias doenças provocadas por este tipo de micro-organismo. Embora o genoma do CMV já fosse conhecido há mais de 20 anos, ainda não se sabia que repertório de proteínas eram produzidas pelo seu comando durante uma infecção. Foi este “plano de ataque” que os pesquisadores começaram a desvendar. O proteoma constitui o conjunto das proteínas de um organismo, seja ele um vírus, uma planta ou uma pessoa.

— O genoma de um vírus é apenas o ponto de partida — explica Jonathan Weissman, pesquisador da Universidade da Califórnia e coautor de artigo sobre o proteoma do CMV publicado na edição desta semana da revista “Science”. — Entender que proteínas são codificadas por este genoma nos permite começar a pensar no que o vírus faz e como podemos interferir neste processo. Cada uma das proteínas que identificamos tem o potencial de nos dizer como o vírus manipula a célula hospedeira em causa própria.

Sintomas se confundem com os de uma gripe

O CMV é um vírus extremamente bem-sucedido e, uma vez infectada, a pessoa convive com ele pelo resto da vida. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos EUA, ao chegar aos 40 anos, entre 50% e 80% da população já teve contato com o micro-organismo, da mesma família do vírus da herpes, e transmitido por contato com saliva, urina e outros fluidos corporais, como por um beijo, daí seu apelido.

Em geral, as vítimas nem percebem que foram infectadas, já que os sintomas — febre, dor de garganta, fadiga e inchaço de glândulas — são facilmente confundidos com os de uma gripe comum e outras viroses, apresentando risco maior apenas para bebês e pessoas com o sistema imunológico comprometido.

Além disso, o CMV tem um dos maiores genomas entre os vírus, com 240 mil pares de bases, as letras do alfabeto do DNA. A título de comparação, o genoma do vírus da pólio tem apenas 7,5 mil pares de bases, enquanto o do ser humano tem mais de 3 bilhões.

Usando um método inovador que uniu a montagem do perfil dos ribossomos, as fábricas de proteínas de uma célula, e espectrografia de massa, entre outras técnicas, os cientistas americanos e alemães conseguiram elaborar um mapa detalhado do proteoma do vírus, descobrindo que seu genoma contém centenas de “modelos” para produção de proteínas antes desconhecidos.

Chamados fases de leitura aberta (ORF, na sigla em inglês), estes modelos do CMV codificam proteínas excepcionalmente curtas, com uma sequência de menos de cem aminoácidos. Eles também descobriram que algumas destas fases menores se escondem em fases maiores. Ou seja, o vírus sabe esconder muito bem as proteínas que garantem a sua sobrevivência dentro do organismo hospedeiro.

— Um dos achados chave do nosso estudo é que cada um destes modelos pode codificar mais de uma proteína — conta Annette Michalski, do Instituto Max Planck de Bioquímica, na Alemanha, e outra coautora do artigo na “Science”. — E estas proteínas extremamente curtas podem ser mais comuns do que esperamos em outros vírus muito difundidos, como o da gripe.

Método pode mapear vírus mais perigosos

Segundo os pesquisadores, no futuro o mesmo método usado para mapear o proteoma do CMV poderá ser usado para investigar as proteínas produzidas por outros vírus mais complexos e perigosos, como o ebola, o da gripe e o da dengue. Eles esperam que essa informação revele como estes micro-organismos tomam o comando das células hospedeiras e as tornam fábricas de cópias suas, oferecendo a oportunidade de combater este processo de multiplicação com novos medicamentos.

Fonte: O Globo/Cidade News Itaú

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