Vizinhos se dividem: uns hasteiam bandeiras vermelhas, do DEM de Paulo Lima; outros apostam nas verdes, do PMDB de Suely Lima (Foto: Fred Carvalho/G1) |
Uma briga entre vizinhos, e ainda por cima parentes, vai definir o futuro de uma cidade no interior do Rio Grande do Norte. Em Jardim de Angicos, a 107 km de Natal, sogro e nora disputam o cargo de prefeito nas eleições deste ano. Eles são os únicos candidatos inscritos na corrida para governar o município de 2.607 habitantes, da região central do estado.
De um lado está o funcionário público Paulo Amaro de Lima, de 73 anos, que concorre pelo DEM. Prefeito por duas vezes (1977-1982 e 1989-1992), ele perdeu a eleição de 2008 para Agnelo Bandeira (sem partido), hoje seu maior aliado. Do outro lado está a servidora municipal Suely Fonseca Bezerra de Lima, de 46 anos, que disputa o cargo pelo PMDB. Uma das maiores incentivadoras de Paulo Amaro na disputa passada, ela agora é a única adversária dele.
O duelo divide a família. Filhos, tios, sobrinhos e primos estão no meio do embate político. E um parente, em especial, vive um dilema. O professor Francisco Dehom de Lima, de 45 anos, é filho de Paulo Amaro e marido de Suely Fonseca. Apesar disso, não titubeia quando o assunto é o voto: seu apoio é total à esposa.
“É uma situação impensável que estamos passando. Sempre fomos unidos politicamente. Sempre estivemos do mesmo lado. Agora estamos separados politicamente. Mas isso não atrapalha minha relação com o meu pai. Sempre que nos vemos, nos falamos do mesmo jeito”, afirma.
Suely tenta cargo pela primeira vez; Paulo tenta voltar à Prefeitura (Foto: Fred Carvalho/G1) |
Outro que se vê no meio da briga é o filho único de Suely e Dehom e neto de Paulo Amaro: Jonathan Dehom de Lima. Como tem apenas 15 anos, não vai poder votar nas eleições deste ano. “Ainda bem, pois não queria ter de escolher entre minha mãe e meu avô, não", brinca.
Paulo e Suely preferem não falar muito sobre a briga política. “Confesso que essa disputa com minha nora é constrangedora para mim. Sempre estivemos do mesmo lado e essa situação de agora é nova para mim”, diz Paulo. “É esquisito porque tudo o que sei em política foi o Paulo que me ensinou. Sempre estive ao lado dele nos palaques, pedindo voto para ele”, afirma Suely.
Os dois também não gostam de falar como se deu o rompimento político. Um diz que o outro descumpriu um acordo firmado há anos, sem revelar especificamente qual. “No fim da eleição passada, já tínhamos um acordo firmado. Agora ela mudou de lado”, diz Paulo Amaro. “Quem mudou de lado foi o Paulo, tanto que ele hoje é apoiado pelo prefeito, com quem disputou a eleição passada”, rebate Suely Bezerra.
Embora sejam vizinhos de porta, os dois não se falam há quatro meses. Eles dizem que é “por falta de oportunidade”. E garantem que não há animosidades entre eles. “Continuo amando o Paulo do mesmo jeito. Isso é apenas uma questão de opção política. O mesmo ocorre em outras famílias em relação à religião ou à escolha de um time de futebol para torcer”, compara Suely Bezerra. “De minha parte não há problema algum com a Suely ou com o Dehom. Terminada a eleição, independentemente do resultado, estou de braços abertos para eles”, diz Paulo Amaro.
Dehom Lima, filho de um candidato, marido da outra, diz que vive situação 'impensável' (Foto: Fred Carvalho/G1) |
Em Jardim de Angicos, quem não é servidor municipal, vive da agricultura de subsistência ou do comércio. O PIB da cidade é de 12,7 milhões. O IDH, medida resumida do progresso em renda, educação e saúde, é 0,628 – abaixo da média nacional (0,718). O município é um dos que têm mais eleitores que habitantes (151 a mais) no país.
Para boa parte da população, a disputa familiar pelo poder causa estranhamento. “Para mim, isso só mostra a desunião familiar. Se eles fossem unidos, levariam fácil essa disputa pela prefeitura”, diz a auxiliar de serviços gerais Patrícia de Souza.
O aposentado Francisco Canindé Brito concorda. Ele diz que é esquisito o fato de sogro e nora brigarem nas eleições. “É a primeira vez que vejo isso aqui em Jardim de Angicos. É uma coisa fora do comum. O que espero é que quem vença melhore a situação da cidade.”
A dona de casa Ana Maria de Souza tem a mesma opinião: “Se eles fossem unidos, seria melhor para toda a cidade. Tomara que isso aconteça após a eleição”.
Disputa entre sogro e nora causa estranhamento à população (Foto: Fred Carvalho/G1) |
Fonte: G1/Cidade News Itaú
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