O ex-mordomo do papa, acusado de ter furtado documentos confidenciais da Igreja Católica, declarou-se inocente nesta terça-feira (2), mas disse que se sente "culpado" de ter "traído" Bento XVI, deixando de alertá-lo sobre fatos.
"No que diz respeito ao roubo agravado, me declaro inocente", disse Paolo Gabriele em seu julgamento sobre o vazamento. "Mas me sinto culpado de ter traído a confiança do Santo Padre."
Ele afirmou ter agido "sem cúmplices", mas disse que teve "numerosos contatos".
Sem entrar em detalhes, Gabriele também disse ter agido deste modo porque o Papa Bento XVI foi "manipulado".
Paolo Gabriele, à direita, em 29 de setembro, primeiro dia do julgamento (Foto: AFP/L'Osservatore Romano) |
"O que realmente me horrorizava era quando sentava para almoçar com o Santo Padre e que, algumas vezes, o Papa me perguntava coisas sobre as quais tinha que estar informado", disse.
"Naquele momento fiquei firmemente convencido de que era fácil manipular uma pessoa com poderes tão grandes", completou.
Quando a advogada de defesa perguntou se acreditava que o papa estava mal informado, o acusado respondeu de maneira afirmativa, mas o juiz desconsiderou a pergunta.
O magistrado também interrompeu Gabriele várias vezes, quando o acusado procurava revelar detalhes de sua rede de contatos no Vaticano.
Durante a instrução do caso, Gabriele afirmou que desejava combater "o mal e a corrupção" no Vaticano. No entanto, nesta terça-feira, o juiz Giuseppe Dalla Torre considerou sistematicamente que as perguntas a respeito estavam "fora de tema", já que deveriam "limitar-se à acusação do processo", ou seja, roubo com agravante.
Um juiz do Vaticano mandou que seja feita uma investigação sobre a força policial da Santa Sé, após o ex-mordomo ter denunciado maus tratos em seus primeiros 15 dias de detenção.
Gabriele afirmou ter sido mantido em um quarto minúsculo, em que mal podia mexer os braços, e constantemente iluminado por vários dias, segundo seu advogado.
O Vaticano afirmou que o local da detenção segue padrões internacionais.
Gabriele, um dos poucos cidadãos lacios do menor estado do mundo, poderá ser condenado a uma pena de até quatro anos de prisão pelas acusações de ter roubado e copiado, durante meses, dezenas de documentos confidenciais do Papa e seus colaboradores e repassado esses documentos ao jornalista Gianluigi Nuzzi, que os usou em seu livro "Sua Santità", que revelou as rivalidades e a animosidade, especialmente contra o número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone.
Entre a correspondência do Papa está uma carta de um ex-dirigente do Vaticano que se queixava de ter sido afastado depois de lutar contra a corrupção dentro da Santa Sé.
O julgamento foi aberto à imprensa, fato inédito na história do Estado Pontifício. Mas a audiência pública estava estritamente controlada; apenas poucos jornalistas foram autorizados a entrar na sala do tribunal e só podiam informar sobre o processo na saída. Não podiam utilizar câmeras de fotografia, nem de vídeo.
Fiel servidor de Bento XVI, o mordomo preparava as roupas de cerimônia e servia as refeições do Papa. Nas fotos oficiais sempre aparecia ao lado do pontífice, inclusive ao lado do famoso papa-móvel.
Cinegrafista filma a Praça de São Pedro nesta terça-feira (2) no Vaticano (Foto: AP) |
Fonte: G1/Cidade News Itaú
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