Foi uma obra divina. Assim a aposentada Odete Prá, de 87 anos, define para a família o fato de ter matado com três tiros um suspeito de invadir sua residência com uma arma antiga e mesmo assim não apresentar nas mãos vestígios da pólvora, conforme apontou exame do Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul. A versão é contada pela filha da idosa, Régia Prá, de 52 anos. Dona Odete não quer mais falar sobre o assunto. Alega que tem pesadelos à noite sempre que recorda o crime ocorrido no dia 9 de junho, em Caxias do Sul, na Serra do RS.
A Polícia Civil segue investigando o caso. Na ocasião, Márcio Nadal Machado, 33 anos, foi morto dentro da casa da idosa. Segundo a filha, a mãe fica perturbada e sonha com o acontecido quando conversa sobre isso. Sobre o resultado negativo do exame residuográfico, ela apela para a fé para explicar por que não havia resíduos de pólvora na mão que apertou o gatilho.
"Ela é muito desinformada, não acompanha a TV, e não sabe nem quem é a presidente. Vive para fazer as coisas dela e rezar. Ela nos diz: 'Vocês não acreditam. Isso é uma força divina, que me levantou da cama, me fez pegar a arma, fez aquela arma funcionar e depois apagou tudo'", relatou Régia ao G1.
Apesar das tentativas de Odete em evitar, o assunto sempre vem à tona. Especialmente nos dias que idosa vai até o trabalho de Régia, uma ferragem que fica no térreo do prédio em que Odete mora. Lá, colegas da filha costumam fazer perguntas para a idosa. "O que ela fala é sempre a mesma coisa, é o que ela diz desde o começo: 'Esse moço fez muita coisa. Por isso Deus o enviou para que eu fizesse isto'", conta a filha de dona Odete.
Régia garante que não havia mais ninguém no momento do crime. Segundo ela, o apartamento da mãe é monitorado por câmeras. Foram encaminhadas à polícia as imagens da invasão que comprovariam que não havia mais ninguém na residência. O vídeo mostra até o momento em que Régia chega ao local. "O vídeo capta a gente chegando. Depois a polícia chegou, e não havia outro local por onde alguém pudesse sair. É impossível sair por onde o invasor desceu", garante.
Régia admite que a mãe não lavou as mãos após dar o disparo, o que poderia influenciar no resultado do exame residuográfico. Ela tenta explicar o resultado, mas admite não ser especialista no assunto. "Não sou profissional. Pode ser uma bobagem, mas eu penso que esses reagentes não foram inventados há muito tempo, há uns 15, 20 anos, e não sei se uma munição tão antiga deixaria resíduos", afirmou.
A filha de dona Odete garante que a arma estava carregada há pelo menos 40 anos. "Arma não é usada há muitos anos. Tenho 52 e lembro de ver na minha infância essa arma com a mesma munição", disse.
O delegado Joigler Paduano, responsável pela investigação, prefere não se manifestar sobre a perícia. Ele diz que irá se pronunciar apenas na conclusão do inquérito. Outras duas perícias estão faltando para a conclusão da investigação.
"Não me arrependi, mas não queria ter feito"
A atitude da idosa ganhou repercussão nacional. Em entrevista ao Fantástico, Odete contou como teria feito os disparos. "Não me arrependi, mas não queria ter feito", disse a idosa. A mulher disse que pensou ser o neto em seu quarto. "Eu estava só observando, falando com ele carinhosamente, pensando que era o meu neto. Ele não me dava confiança. Quando saiu de costas eu percebi que não era meu neto. Levantei sem aparelho, sem óculos, sem muleta, sem nada. Eu entrei no quarto e olhei o lugar da arma, estava tudo intacto. Fui à procura dele (do assaltante). Quando ele levantou os braços eu vi que ele ia saltar em mim. Foi o momento em que eu dei o primeiro tiro", relata.
Fonte: G1/Cidade News Itaú
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