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quarta-feira, setembro 12, 2012

Radioacidentados dizem que faltam remédios para vítimas do césio-137


Policial militar da reserva Marques de Souza Rodrigues, vítima do césio-137, mostra uniforme da formatura em Goiás (Foto: Versanna Carvalho/G1)
Após 25 anos do acidente radiológico com o césio-137 em Goiânia, vítimas da tragédia reclamam do atendimento e da dificuldade para encontrar medicamentos no Centro de Atendimento aos Radioacidentados (Cara), unidade de assistência à saúde do governo estadual, criada para acompanhar exclusivamente esse grupo, que atualmente é composto por 1.016 pacientes. 
Policial militar da reserva, Marques de Souza Rodrigues, 48 anos, que tem um tumor no cérebro diagnosticado desde 1995 e toma seis tipos de medicamentos por dia, afirma que há mais de um ano encontra dificuldade para obter parte da sua medicação. “A situação parece ter piorado nos últimos meses. Então, resolvi comprar o remédio por conta própria e gastei R$ 140 com apenas um deles”.

Marques conta que, além do mal-estar físico, também se sente mal com a forma como é tratado. “Trabalhei no isolamento do local do acidente e, em vez de sermos heróis, somos excluídos. Sempre encontramos dificuldade para conseguir tratamento e remédios. As pessoas se esqueceram de nós”.
O presidente da Associação das Vítimas do Césio (AVCésio), Odesson Alves Ferreira, que é membro da família diretamente envolvida com a abertura da cápsula de césio-137, afirmou ao G1 que há um ano e meio não vai ao Cara. “Eu deixei de receber o medicamento. Não tem como um paciente ir ao Centro de Assistência aos Radioacidentados simplesmente para dizer que está doente. Aquilo ali nos interessa a partir do momento que nos dá assistência integral, conforme foi proposto por lei”.
Diretor-geral do Centro de Atendimento aos Radioacidentados, André Luiz Souza confirmou ao G1 que existe uma dificuldade para adquirir medicamentos. Disse também que a situação é mais sensível em relação às vítimas do césio-137. Ele explicou que para este tipo de paciente a troca de medicamentos é constante devido ao avanço da idade das vítimas mais antigas.

“Temos adquirido remédios de farmácia básica e ambulatório e encontrado dificuldade para encontrar fornecedores para os medicamentos mais específicos, cerca de 35 a 40, voltados para problemas cardíacos, de próstata e outros”, afirma.
Para ele, a extinção do fundo rotativo, que permitia cobrir despesas menores com pagamento imediato, complicou ainda mais a aquisição de medicamentos. Segundo o diretor-geral, o fundo foi extinto por recomendação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE), que entendem que recursos para compras emergenciais não podem ser usados para adquir medicamentos de uso contínuo.
O diretor-geral do Cara acredita que a solução definitiva para o problema seja a aprovação do Fundo Estadual de Saúde, que possibilitará à Secretaria Estadual de Saúde (SES) fazer compras com mais agilidade. Enquanto isso não acontece, a unidade conseguiu firmar uma parceria com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG). “A partir desta semana vamos disponibilizar todos os medicamentos em falta”, garante.
Assistência
Sobre as críticas em torno do atendimento aos pacientes do Cara, André Luiz ressalta que a assistência vai além do fornecimento de remédios. Há também assistente social, médicos, odontólogos e psicólogos exclusivos. Atualmente, o centro atende 1.016 pacientes, que foram classificados em grupos 1, 2 e 3 para fins de atendimento médico.

O grupo 1 é formado por pessoas que foram contaminadas (que tiveram radiolesão externa, cutânea) e irradiadas (que foram submetidas a altas doses de radiação). Nessa categoria, estão 164 pessoas divididas em vítimas do acidente (50), seus filhos (35) e neto (1). O grupo 2, indivíduos que foram contaminados e irradiados em um nível abaixo do observado no grupo 1, tem 44 vítimas e 34 filhos.
Já o grupo 3 é o mais numeroso, com 851 pacientes. Ele é composto por pessoas que tiveram envolvimento com o acidente radiológico, mas em que não ficou comprovada contaminação nem irradiação. Estão nessa categoria os trabalhadores que atuaram nos locais que eram focos de contaminação, na fase de controle do acidente radiológico, fazendo o isolamento das casas e descontaminação de áreas e pessoas. Fazem parte desse grupo policiais militares, bombeiros e trabalhadores de órgãos públicos como antigo Consórcio Rodoviário Interestadual (Crisa) e a Companhia de Urbanização (Comurg).
“O direito do grupo 3 foi conquistado em 2002, quando se tornaram vítimas indiretas. Desde então, é feito todo um acompanhamento desses radioacidentados. Mas a lei que incluiu o grupo 3 não deu a eles os mesmos benefícios concedidos aos grupos 1 e 2. Nossas limitações são impostas pela própria lei”, pontua André Souza.
Os estudos e pesquisas sobre o acidente com o césio-137 e as vítimas ficam a cargo do Centro de Excelência em Ensino, Pesquisas e Projetos Leide das Neves Ferreira (Ceepp-LNF), criado em 2011, e diretamente ligado ao gabinete do secretário Estadual de Saúde. O órgão, que antes fazia parte da extinta Superintendência Leide das Neves, recebe demandas de pesquisadores nacionais e internacionais interessados em conhecer o trabalho realizado em Goiânia e em traçar paralelos com eventos de contaminação por radiação ocorridos em outros países.

Fonte: G1/Cidade News Itaú

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