Os procuradores do Ministério Público Federal em Goiás Léa Batista de Oliveira e Daniel de Resende Salgado, responsáveis por analisar os resultados da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, acreditam que Andressa Mendonça, mulher de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, seria mensageira do grupo criminoso chefiado pelo bicheiro. Ainda segundo o MPF, ela traria informações dos encontros que mantém com o contraventor no presídio e abasteceria as ações da organização criminosa.
Investigado pela operação Monte Carlo, Cachoeira está preso desde fevereiro deste ano e é apontado como o líder de uma organização criminosa de jogos ilegais que teria atuação em órgãos públicos e privados.
Andressa foi conduzida à Polícia Federal na manhã desta segunda-feira (30) para prestar depoimento, suspeita de ter chantageado o juiz federal responsável pelo processo que julga Cachoeira e outros sete réus, Alderico Rocha Santos, na tentativa de obter a liberdade do companheiro e ainda tentar livrá-lo de uma possível condenação.
“Isso demonstra que a organização criminosa continua em ação”, afirmou Salgado em entrevista coletiva. Segundo ele, o grupo é “ousado” e tem um “claro parâmetro mafioso”, sendo a chantagem um dos mecanismos de intimidação às autoridades envolvidas nas investigações e futuros julgamentos.
Dois inquéritos foram instalados na Polícia Federal a pedido do MPF: um para investigar os bens em nome de Andressa e outro sobre a suposta tentativa de corrupção. A procuradora Léa Batista, que também foi ameaçada pela atuação no processo, disse que desde a semana passada o MPF já vinha investigando a atuação de Andressa como “laranja” dos negócios ilícitos de Cachoeira.
A procuradora destacou que a mulher de Cachoeira pode ser um “braço do grupo criminoso”, destacando a possibilidade de a investigada não se limitar a transmitir recados de Cachoeira, mas sim integrar a rede de negócios ilícitos envolvendo jogos ilegais. Ela também se comunicaria com outros integrantes do esquema a mando do bicheiro.
“A ousadia da companheira de Carlinhos Cachoeira ao chantagear e ofertar vantagem ao juiz federal, somada às galhofas observadas durante a audiência, mostra o desprezo e a afronta de Carlos Augusto de Almeida Ramos e de pessoas ligadas ao capo do grupo criminoso aos órgãos de persecução e ao Poder Judiciário”, completaram os procuradores.
“Existem provas documentais de que ela [Andressa] teria ameaçado o magistrado, como um bilhete com o nome de algumas pessoas relacionadas a ele.” Não há indícios de que os nomes citados tenham relação com a organização criminosa, por isso não serão alvo de investigação.
Medidas judiciais
Andressa Mendonça está impedida de ter contato, de qualquer espécie, com Carlinhos Cachoeira no presídio da Papuda, no Distrito Federal, onde ele está detido. Uma ordem judicial já foi expedida para que a direção do local tome todas as providências cabíveis.
Outra atitude foi afastar a investigada das dependências da Justiça Federal, onde ela teve o encontro que resultou nas chantagens contra o juiz Alderico Rocha Santos. A mulher de Cachoeira terá que pegar fiança de R$ 100 mil para que ela não seja presa pelo crime de corrupção ativa. O valor deve ser pago em até três dias. O procurador ironizou que a quantia equivale a apenas um quinto do que ela teria gastado para decorar a casa onde mora em um condomínio de luxo em Goiânia.
O MPF ainda tenta, em fase recursal, restabelecer a prisão dos réus da operação Monte Carlo que foram soltos. De acordo com os procuradores, não há novas provas que possam resultar na prisão, por isso tentam nos tribunais superiores a revogação das medidas que colocaram em liberdade Lenine Araújo de Souza, José Olimpio de Queiroga Neto, Raimundo Washington de Souza Queiroga, Geovani Pereira da Silva, Idalberto Matias de Araújo e Wladimir Garcêz Henrique –todos réus que respondem a processo por suposto envolvimento no esquema.
Chantagem
Na quinta-feira, o juiz Alderico Rocha Santos comunicou ao Ministério Público Federal que Andressa o procurou em sua sala para pedir que revogasse a prisão de Cachoeira e o absolvesse. Segundo o juiz, nesse encontro Andressa teria noticiado a existência de um dossiê com informações contra ele, que seria publicado pela revista "Veja". Andressa teria dito que poderia evitar a publicação do dossiê caso o juiz absolvesse Cachoeira e permitisse sua liberdade.
O juiz encaminhou ao MPF vídeos com imagens da entrada e saída de Andressa do prédio da Justiça Federal em Goiânia, além de um bilhete manuscrito com anotações dela, contendo nomes de pessoas que estariam supostamente vinculadas ao juiz.
Depois, o MPF fez uma representação à Justiça pedindo a prisão preventiva de Andressa e uma busca e apreensão em sua casa. O juiz Mark Brandão considerou que há "indícios de cometimento de corrupção ativa", pois Andressa "procurou diretamente o magistrado para lhe oferecer vantagem indevida".
"A gravidade dos fatos noticiados, decorrente da ousadia e destemor demonstrados pela requerida ao tentar intimidar e chantagear o juiz federal encarregado da condução do processo pertinente à operação Monte Carlo, por si só, exige a imediata aplicação de medida capaz de obstar novas incursões da requerida e proteger o juiz federal Anderico Rocha Santos de qualquer tentativa de intimidação", diz a decisão.
Santos assumiu o processo da Monte Carlo depois que o juiz Paulo Moreira Lima foi ameaçado e pediu para deixar o caso.
Processo
Carlinhos Cachoeira é acusado de chefiar uma quadrilha que comandava jogos ilegais, principalmente em Goiás, e de usar de influência com parlamentares, como o ex-senador Demóstenes Torres, para manipular licitações e facilitar a entrada de empresas supostamente ligadas a ele e outros aliados nos governos do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Goiás.
Durante audiência judicial sobre o caso, na última quarta-feira (25) em Goiânia, Cachoeira não comentou as acusações, mas fez declarações de amor a Andressa. Cachoeira disse que seu sofrimento é muito grande e, virando em direção a sua mulher, que estava na plateia, afirmou: "aquela mulher mudou a minha vida". E completou: "Eu te amo".
Andressa respondeu que também o amava. Quando questionado pelo juiz se era casado, disse que era uma pergunta difícil, porque não era casado oficialmente. "Só o Ministério Público me liberar. No primeiro dia, tá?", disse, olhando para Andressa. "Essa declaração eu queria fazer em público", completou. (Com agências Estado e Valor Online)
Fonte: Portal Uol/Cidade News Itaú
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