Evandro Rogério dos Santos, de 35 anos, acusado do assassinato de Geraldo Alves da Silva no final da noite do dia 30 de março de 2009 na porta da agência centro do Banco do Brasil. (Foto: Chinês/Agência Miséria)
Durou quase oito horas o julgamento do andarilho Evandro Rogério dos Santos, de 35 anos, acusado do assassinato de Geraldo Alves da Silva no final da noite do dia 30 de março de 2009 na porta da agência centro do Banco do Brasil. A sentença foi lida por volta das 16 horas pela Juíza de Direito, Ana Raquel Colares dos Santos Linard, condenando-o a uma pena de 29 anos em regime fechado por crime triplamente qualificado com motivação torpe e requintes de crueldade.
O Conselho de Sentença admitiu a acusação formulada pelo representante do Ministério Público, Gustavo Henrique Morgado, repelindo a tese defensiva erguida pelo defensor público Iranildo Feitosa. A sentença vai mais além invocando a culpabilidade exacerbada de “Cabelo do Cão” - como é apelidado - vez que a vítima foi atingida na região da cabeça enquanto dormia e, em nenhum momento, de acordo com os autos, Geraldo causou motivos para ser morto.
O andarilho Evandro Rogério dos Santos, de 35 anos, foi condenado a uma pena de 29 anos. (Foto: Chinês/Agência Miséria)
Outro aspecto mencionado que contribuiu para uma penalidade maior foi a presença de antecedentes conforme os termos da certidão emitida pelo Comarca de Poção (PE), cuja conduta social revela um homem agressivo. A sentença cita mais a existência nos autos de provas periciais que possibilitam avaliar a personalidade do acusado, “evidenciando mecanismos defensivos dissimulatórios e sem nenhum sinal psicopatológico nos termos do laudo”.
Finalmente, observa que as consequências extrapenais do crime são graves, considerando o clamor e repercussão no meio social. O conselho não deixou de reconhecer a atenuante da confissão, vez que o acusado admitiu diante da autoridade policial ter assassinado a vítima. Na época, o assassinato se deu com uma pedra de paralelepípedo que Cabelo do Cão encontrou sob a calçada do Banco do Brasil. Geraldo era um andarilho e apresentava problemas mentais.
O mesmo dormia na porta da agência após ter saído em busca de um bom banho e alimento. Na sua confissão, o acusado usou de evasivas dizendo que tinha discutido momentos antes com dois taxistas e estava disposto a matar um deles. Todavia saiu com sua ira incontida pela Rua São Pedro e dobrando na São Francisco até encontrar Geraldo que decidiu matar sem qualquer motivo ou justificativa. “Me deu vontade de matar. Só isso”, revelou ao ser preso acrescentando que já havia matado uma mulher sua no Pernambuco.
Quando completou um ano da morte de Geraldo, o Site Miséria divulgou a seguinte crônica escrita pelo repórter Demontier Tenório:
Quando completou um ano da morte de Geraldo, o Site Miséria divulgou a seguinte crônica escrita pelo repórter Demontier Tenório:
O vento frio sopra mais intensamente no início da madrugada e atinge o rosto de Geraldo. Ele ergue a mão, desdobra o ededron e cobre até porque o sono já lhe batia à porta. Naquele momento, o “dono do Banco do Brasil” parava de olhar o movimento em frente à "sua agência" para atender ao convite em nome de uma dormida tranqüila como via de regra eram as anteriores. Nenhuma preocupação pela falta de um teto enquanto muitos se encontravam no aconchego do seu lar e junto da família. Até parece que posses nunca foram o objetivo dele.
O prazer de Geraldo era estar ali recostado ao seu “patrimônio”, olhando as pessoas passando e tragando o seu cigarro a exemplo do que acabara de fazer pela última vez. Antes de atirar o filtro no meio da rua ainda lhe sobra o último cumprimento de um homem que pergunta sobre o frio intenso e ele responde: “não se preocupe mano. O cobertor é bom”. Estava ali terminando o mês mais chuvoso de 2009 e a brisa teimava em não parar.
A madrugada se entrega ao silêncio por completo e Geraldo mergulha junto sem imaginar que seriam os últimos instantes da sua vida. No dia seguinte, ele já não estaria mais de pé para acolher, como sempre fazia, os seus “clientes” no setor de caixas eletrônicos da agência. Na correria do cotidiano, poucos eram os cumprimentos para Geraldo. Um comportamento que divergia da tranqüilidade das noites quando muitos paravam e tinham momentos de prosa com àquele homem.
Àquelas alturas, alguém já o havia lhe garantido a alimentação e o mesmo estava banhado, tragando o seu cigarro e vendo as horas correr para mais uma noite de sono. Tão logo o movimento cessou, Geraldo foi em busca do ededron, se deitou em frente a porta e o esparramou pelo corpo. O cansaço por mais um dia de “trabalho” tomou conta daquele homem e o sono profundo não demorou a chegar. Só que Geraldo não imaginava que, junto com ele, viria ao seu encontro a maldade das ruas.
A passos firmes se aproxima outro homem que vive perambulando pelas ruas centrais de Juazeiro. Faltava-lhe uma arma, mas sobrava o instinto violento de quem estava desejoso de matar alguém. Vendo Geraldo coberto dos pés à cabeça, àquele rapaz de 33 anos, descabelado, maltrapilho e embriagado o elegeu como se o mesmo não tivesse mais o direito de viver. A arma não demorou a surgir, pois, quase ao lado, havia uma pedra em concreto guardando o registro da água no jardim sob a rampa de acesso.
O assassino não pensa duas vezes e apanha o lajedo nos braços. No mais absurdo gesto de frieza, mira na cabeça do pobre Geraldo, ergue um pouco mais a pedra para que o impacto seja maior ainda e solta. Com a tranqüilidade de quem jamais fizera o mal a alguém, ele recebe o golpe fatal e dá o último suspiro após um impacto tão forte que o fez erguer as pernas como se ainda quisesse saber do que se tratava ou correr para fugir da morte.
Quando o cortejo fúnebre com milhares de carros, motos, bicicletas e pessoas seguia na direção do cemitério, eis que surge a idéia de uma última passagem em frente ao Banco do Brasil com o corpo daquele homem simples que ganhava as homenagens o socializando como se fora realmente o dono do banco. Das janelas, uma chuva de pétalas e, na rampa, onde Geraldo dormia e foi morto naquela madrugada, os funcionários não escondiam as lágrimas e as deixavam rolar sobre o rosto em momentos de profunda tristeza e revolta.
Enquanto isso, as perguntas não calavam: “quem teria feito àquilo com um homem tão acolhedor e sincero?”. Em poucas horas, a polícia deu a resposta: “Evandro Rogério dos Santos, vulgo “Cabelo do Cão”.
Fonte: Portal Miséria/Cidade News Itaú
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