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domingo, julho 08, 2012

Familiares cobram respostas um ano após tragédia em voo da Noar


Reprodução/Youtube
Aeronave caiu pouco mais de três minutos após ter decolado no Recife.

Um ano depois, completados na próxima sexta-feira (13), o acidente com o voo 4896 da Noar Linhas Aéreas, que matou 16 pessoas (14 passageiros e dois tripulantes), continua sem respostas. Até agora, sabe-se apenas que a queda da aeronave LET-410, que foi ao chão 3 minutos e 18 segundos depois de decolar, teria como uma das causas a fadiga extremamente precoce de uma peça. Nada mais. Os culpados não foram sequer apontados, muito menos punidos. 

As investigações se arrastam, sem qualquer perspectiva de desfecho. Indenizações não foram pagas. Nem satisfação aos familiares das vítimas tem sido dada pelos vários órgãos que investigam o caso. Aos parentes só restaram a dor, a perda. Só restou reaprender a viver, esperar por respostas. Alguns têm conseguido, outros não.

A queda do LET-410 não matou apenas 16 pessoas naquele início de manhã. Destruiu 16 famílias. Enfraqueceu e destroçou mães, pais, filhos, irmãos. Levou sonhos, acabou com esperanças. Um ano depois, poucos topam falar sobre a tragédia. Muitos fogem do assunto. Relembrar o acidente é reabrir uma grande ferida. É pura dor. 

“Me desculpe, mas dói muito. O sentimento ainda é muito doloroso. Falar dela é aumentar a perda. Lembrar que minha filha se foi aos 25 anos, me faz muito mal. Desculpe”, assim Roberval de Oliveira, pai da representante comercial e ex-modelo Débora Pontes, que entrou no avião da Noar para cumprir uma agenda de trabalho no Rio Grande do Norte, destino do voo, atendeu à ligação da reportagem na semana passada.

A dor continua fazendo parte da rotina de todos. Os pais do dentista e professor Bruno Frederico Ribeiro de Albuquerque, 41 anos, ainda estão no chão. A mãe se recusa a retomar a vida, sequer sai de casa. Se trancou para o mundo. O pai tenta se erguer, mas tem sido difícil. Chora copiosamente sempre que lembra do filho perdido. 

Os dois não se recuperaram da perda do segundo filho. O primeiro morreu assassinado 20 anos antes. A família do empresário André Louis Pimenta, 38, não comenta o acidente. Nem mesmo com os filhos do empresário, de 8 e 11 anos. Ninguém impôs o silêncio, mas ele virou permanente. É como se tivessem feito um pacto inconsciente.

“Não tem tempo que cure essa dor. O tempo não repõe um membro amputado. Ajuda a andar sem ele, mas não o traz de volta. Assim tem sido. Não há punição ou justiça que vá trazer meu filho de volta. Não acredito nisso. A dor é tanta que, só agora, um ano depois, estamos contratando um advogado para agir. Movidos mais pela responsabilidade coletiva do que por necessidade pessoal. Quero processar a Gol porque meu filho comprou a passagem para voar por ela, não pela Noar”, afirma o pai de André, Francisco Freitas, presidente da CDL de Fortaleza (CE).

Poucos parentes reagem, mesmo em luto. Arrumar forças para remexer nas feridas e cobrar providências, justiça, punição. Entre eles estão a odontóloga Taciana Guerra Farias, que perdeu o filho, o também odontólogo Raul Farias, 24, a professora Roseane Oliveira, que ficou sem a irmã, a engenheira civil Maria da Conceição Oliveira, 46, e o engenheiro Geyson Soares, cujo irmão, o diretor de engenharia da construtora Moura Dubeux Marcos Ely Soares, 44, também morreu no acidente. Geyson preside a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo Noar 4896 (AfavNoar), tendo Taciana Guerra como vice. 

Ainda assim é difícil. Geyson Soares explica que o pouco que a associação sabe é pelo que saiu na imprensa. “Recebemos apenas o seguro (Reta), que é obrigatório. Ainda não houve indenizações, nem temos satisfações da Aeronáutica ou da Polícia Federal. Houve a divulgação de um relatório parcial pela Aeronáutica, em setembro do ano passado, mas nada definitivo. Estamos sós, à espera. Chegamos a enviar uma carta ao governador Eduardo Campos, em abril passado, pedindo um empenho pessoal dele para agilizar as investigações, mas nem retorno tivemos. Pedimos também a construção de um monumento às vítimas, também sem resposta. Estamos, de fato, sozinhos”, resume.

A esperança das famílias está depositada na investigação da Polícia Federal, que se arrasta há quase um ano. A indenização financeira é o que menos importa. O que eles buscam, de fato, são culpados.

Fonte: Portal Nominuto/Cidade News Itaú

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