Zang Yimou se vale de humanismo e heroísmo para retratar a invasão dos japoneses à China, em 1937 (Foto: Reprodução)
Algumas das mais dramáticas e marcantes histórias de superação e sacrifício humano são encontradas nos períodos das guerras. A segunda guerra sino-japonesa (iniciada em 1937 e só concluída com o final da II Guerra Mundial, em 1945) é uma das mais horripilantes, já que seus atos de barbárie envolveram massacres de cidades, incêndios de aldeias, execuções sumárias, profanação dos lugares sagrados e a pior das marcas: os estupros que deixaram milhares de mulheres grávidas.
"Flores do Oriente" tem por base o romance "13 Flowers of Nanking", da escritora sino-estadunidense Geling Yan, um recordistas de vendas na China e um dos best-sellers mundiais. Yan apoia-se numa história ficcional para recompor o sofrimento do povo e o sacrifício da cidade de Nanquim em dezembro de 1937. Zhang Yimou, o mais renomado e conhecido cineasta chinês neste lado ocidental do planeta, ganhador de 57 prêmios internacionais e outras 28 nomeações, tem em "Flores do Oriente" o seu trabalho mais, digamos assim, delicado.
Personagens
O cineasta faz de tudo para dar sentido de realidade a uma guerra que tirou a vida de 300 mil chineses de "Nanking" (grafia norte-americana), então Capital do País, e dar uma dimensão de humanidade aos seus personagens sitiados no interior de uma igreja ocidental. Incluem-se, entre eles, um coveiro ocidental mau caráter, John Miller (Christian Bale), que reencontra a honra fazendo-se passar por padre; um coronel japonês, Hasegawa (Atsurô Watabe), admirador da música clássica, que dá a sua palavra em proteger o lugar; um coroinha chinês, George (Tianyuan Huang), que se porta como adulto; além de um grupo de estudantes adolescentes e outro de belas prostitutas. De certo modo, a igreja se transforma em um último reduto de sobrevivência no cenário de guerra.
Para contar a história do que acontece com essas pessoas e quais os seus destinos, Zhang Yimou obteve US$ 94 milhões, valor este que confere a "Flores do Oriente" o título de "a mais cara produção do cinema chinês". Como resultado, seu filme fez sucesso com o seu público e nem tanto fora do país, mesmo usufruindo do fato de ter sido acolhido pela Academia de Hollywood como o representante do cinema da China ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Há acertos e desacertos na obra de Yimou. Há momentos em que, se percebe, o cineasta, admirador de Steven Spielberg, quer dar um "sentimento mais épico, emocionante" no sentido de tocar e envolver o espectador, "sentimentalizando-o" talvez para contrabalançar as cenas de violência - incluindo-se aí os estupros.
Mas, ao mesmo tempo, Yimou parece querer priorizar ao humanismo, mostrando os seus personagens como frágeis em suas condições. É essa vacilação que compromete o resultado final de "Flores do Oriente".
O cineasta, que levou muita gente às lágrimas como os emocionantes "Nenhum a Menos" (1999), "O Caminho Para Casa" (2000), e mais recentemente, o desbragadamente romântico "A Árvore do Amor" (2010), surpreende o espectador ao condicionar à incerteza o destino de um grupo de personagens.
O diretor coloca a situação como "perdas da guerra", na tentativa de dramatizar ainda mais a questão humanista que ele tenta manter a todo custo como condutor da história.
Com isso, Yimou amplia a dimensão da tragédia feminina, colocando as mulheres como as maiores vítimas dessa guerra movida pelo desejo de expansão territorial do Japão. A intenção é clara: pensar na guerra a partir do que poderia ter ocorrido com as mulheres. O que Yimou consegue é apenas transmitir a certeza de que a guerra é a maior estupidez criada pelo homem e que nela não há vencedores, apenas a onipresença da morte.
Fonte: Diário do Nordeste/Cidade News Itaú
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